Por Fabrício Queiroz
Após o resultado frustrante das negociações na COP29 que encerrou com uma meta de financiamento climático abaixo do esperado, todos os olhos se voltam agora para Belém. Daqui a menos de um ano novas discussões sobre o tema devem entrar em pauta novamente, desta vez na COP30 em Belém, o que gera uma grande expectativa de ser um novo marco para o enfrentamento das mudanças climáticas.
A criação da rota de Baku a Belém, que tem a missão de mobilizar de US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 para investimentos em estratégias em adaptação e mitigação, é um indicativo do peso que a COP30 já tem antes mesmo de acontecer. Outra questão em debate deve ser a revisão dos compromissos dos países com a redução das emissões de gases do efeito estufa, entre outros pontos que devem chamar a atenção e atrair um público estimado em mais de 50 mil pessoas.
Para dar conta da logística, da hospedagem e dos espaços para realização das discussões, a cidade segue com inúmeras obras em execução que prometem fazer com que os participantes tenham a vivência de um evento adequado à realidade amazônica.
Na avaliação de Isabel Drigo, diretora de Clima do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), que integra a organização Observatório do Clima, a conferência em Belém será decisiva para dar continuidade às negociações que ficaram pendentes em Baku. Isso torna o evento por si só importante para o debate global, mas que também é uma oportunidade de melhorar a vida da população local.
“O estado do Pará tem a oportunidade de resolver a questão do saneamento básico para todos: população e convidados. O saneamento básico, em pleno verão, será crucial porque há o problema da dengue também e não queremos e não podemos ter convidados sendo infectados. A COP30 é especial neste sentido das condições básicas. Belém terá de demonstrar que a cidade melhorou para os seus habitantes e para os visitantes, já que o mundo estará representado ali durante o evento”, destaca Isabel Drigo.
COP com mais participação social
No contexto global, além dos entraves na busca de soluções para a emergência climática, as últimas conferências foram marcadas por muitas críticas de ativistas climáticos e movimentos sociais. Entre os pontos questionados estão, por exemplo, a realização dos eventos em países produtores de petróleo, que são grandes emissores de gases do efeito estufa, e que com histórico de violações de direitos humanos e restrições à liberdade.
“Este ano, a COP29 foi realizada em um país com restrições semelhantes às que enfrentamos na COP28, em Dubai. Nossa percepção foi de um espaço menos acessível e mais esvaziado de movimentos da sociedade civil, o que impacta diretamente na diversidade e pluralidade das discussões”, comenta Waleska Queiroz, co-fundadora do Observatório das Baixadas e representante institucional da COP das Baixadas
Na contramão disso, representantes de empresas têm mais espaço e conseguem promover uma agenda de negócios com mais facilidade do que os grupos preocupados com o impacto da mudança do clima sobre países em desenvolvimento, territórios tradicionais e regiões periféricas. Além disso, Waleska diz que a pouca liberdade social e a tendência machista da sociedade representou um desafio maior principalmente para a participação de mulheres.
“Por ser um país mais restrito, os visitantes muitas vezes enfrentam leis rígidas, como a proibição de tirar fotos em determinados espaços, incluindo o metrô, e uma segurança ostensiva que pode gerar constrangimentos, como o uso constante de raio-X no transporte público”, denuncia.
Para a ativista, a COP30 tem potencial para ser uma cúpula do clima com um legado social diferente, desde que tenha espaços inclusivos e colaborativos em que as lideranças de base, os movimentos das periferias e os povos da Amazônia tenham oportunidade de apresentar soluções e fazer parte dos processos de tomada de decisão.
“A COP 30, em Belém, representa uma oportunidade única para fortalecer a participação social, especialmente de movimentos da Amazônia, comunidades periféricas e povos tradicionais. A expectativa é que o evento promova maior acessibilidade, abertura e uma forte presença de organizações locais e nacionais, com destaque para manifestações, falas e contribuições que equilibrem a narrativa, alinhando-a às demandas socioambientais do Brasil e do mundo”, afirma Waleska Queiroz.