Moradores da comunidade de Igarapé do Costa, a cerca de 30 minutos da sede de Santarém, no oeste do Pará, estão impressionados com o impacto da seca sobre os recursos pesqueiros que garantem a alimentação e a subsistência da população. Enfrentando o segundo ano consecutivo de estiagem severa, o igarapé de mesmo nome começou a secar e agora a comunidade testemunha uma mortandade de peixes sem precedentes.
O caso foi revelado em reportagem da Folha de São Paulo, que identificou diversas espécies de peixes afetadas, desde as mais comuns e frágeis, como a pescada, cujuba e bacuzinho; até espécies maiores e de grande valor comercial, como o pirarucu e o surubim. Outros animais, como jacarés, tartarugas e arraias, também foram encontrados mortos na área que é banhada pelo Rio Amazonas. De acordo com os pescadores, de 15 a 20 toneladas de peixe estavam mortos na localidade.
“Foi este ano que deu essa mortandade. Os antigos nunca relataram algo do tipo”, afirmou Erick Penna Ribeiro, presidente da associação de moradores do igarapé do Costa.
Naquela região, cerca de 500 famílias se veem diretamente atingidas pela seca. Além do igarapé do Costa, o igarapé do Pitomba e o canal de Aramanaí também estão reduzidos a um pequeno filete de água. Os moradores se mobilizam para tentar pescar o que ainda resta de peixe e evitar que o prejuízo e a tragédia sejam ainda maiores.
Biólogos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Santarém (Semma) visitaram a comunidade investigando o caso, que estaria relacionado à diferença de temperatura entre a água que cai das chuvas e a água ainda presente no leito.
“O que houve foi falta de oxigênio e temperatura elevada da água. A média foi de 32°C, enquanto o aceitável é de 28°C”, explicou à Folha o biólogo Genardo Queiroz de Oliveira, que esteve na região.
Segundo o especialista, não há indícios de que a mortandade tenha sido causada por uma contaminação externa, mas sim em decorrência de mais uma seca extrema no oeste paraense.
“No ano passado, teve mortes, mas não como foi neste ano. E não há como prever isso. A seca nestes últimos dois anos foi atípica”, disse Genardo.
Os pescadores da região receberam o auxílio emergencial liberado pelo governo e também o seguro defeso e o Bolsa Família, porém dizem que o apoio nem as respostas foram suficientes para lidar com mais essa crise.
A Folha diz que solicitou posicionamento dos governos federal e do Pará, porém não obteve resposta.
Além da seca, Santarém tem sofrido com as queimadas. Na segunda-feira, 25, por causa da qualidade do ar, a prefeitura publico um decreto declarando situação de emergência com proibição do uso do fogo por 180 dias.