A Amazônia passa por uma série de alterações provocadas pela implantação de grandes projetos, a devastação da floresta e dos territórios tradicionais e pelas mudanças climáticas. Um cenário desafiador para a conservação ambiental e das culturas locais que é enfrentado com diversas estratégias, incluindo ações educativas realizadas nos diferentes estados amazônicos.
No Pará, por exemplo, a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, provocou o deslocamento de muitas populações que antes viviam às margens do Rio Xingu. Essa desconexão com as raízes amazônicas hoje é observada principalmente entre crianças e adolescentes que são criados em bairros periféricos e sem infraestrutura adequada.
Pensando em formas de resistir aos processos de violência e de ruptura afetiva com o território, a geógrafa e ativista socioambiental Daniela Silva idealizou o projeto Aldeias, que desenvolve ações educacionais para valorização da identidade e cultura locais nas novas gerações. Entre elas está a Escola da Rua que foca em atividades culturais, artísticas e socioambientais, como visitas às áreas naturais da região.
“O Aldeias é uma conclamação para todos os setores da sociedade colocarem as nossas crianças no centro, para pensarem junto com os adultos o nosso futuro. É um projeto que se baseia naquele famoso provérbio africano que diz ser preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”, disse Daniela Silva à Agência Brasil.
Formação de brigadistas
No distrito de Alter do Chão, em Santarém, um dos principais desafios é o avanço da degradação com o crescente número de queimadas. O problema mobilizou um grupo de seis pessoas que, em 2018, criou a Brigada de Alter com o objetivo de dar uma primeira resposta aos incêndios florestais que afetam a região.
Porém, o grupo logo notou que era preciso ir além e passou a atuar também na formação de outros brigadistas e na conscientização da população sobre o manejo correto e legal do fogo, além de cobrar do poder público medidas mais efetivas de combate às queimadas.
“A gente precisa de políticas públicas, que os governos entendam a nova realidade climática, com eventos extremos mais frequentes. E que ofereçam serviços adequados para a população”, defende o brigadista voluntário Daniel Gutierrez.
Outros estados amazônicos
Já em Rondônia, a preocupação é com os impactos que as mudanças climáticas trazem para os territórios e a capacidade das comunidades locais fazerem frente a essas alterações. No município de Cacoal, a professora Maria Barcelos, mais conhecida como Maria dos Índios, trabalha com projetos para fortalecer esse debate junto às crianças, jovens e professores indígenas.
Uma das estratégias é a elaboração de livros em que cada povo tem a oportunidade de contar sua própria história e relatar as transformações observadas ao longo do tempo. A ideia é que o material possa ser incluído no currículo escolar para apoiar a educação com base na cultura dos próprios indígenas.
“O material é muito interativo e são as crianças que vão construir com os mais velhos as respostas para as mudanças climáticas. Vemos ali o que eles falam de concreto, como os impactos na pesca, quando a água se aquece demais e provoca mortandade dos peixes, ou dos periquitos que passaram a cantar de madrugada. O ciclo das plantações, o que florescia em determinada época, e agora está tudo bagunçado, sem muita previsibilidade”, comenta a professora.
A expectativa é que as ações possam refletir em um futuro próximo, com as populações mais atentas aos impactos vividos e envolvidas na busca de soluções tanto para a preservação do meio ambiente quanto de suas culturas.
“Um dos objetivos é que eles possam desenvolver um senso crítico e elaborar respostas para esses impactos climáticos. Essas crianças e adolescentes daqui a pouco tempo vão ser os gestores dos territórios em que vivem e os tomadores de decisão. E as pressões continuam sendo muitas. Mesmo que o movimento indígena esteja maravilhosamente assumindo seu protagonismo, ganhando espaço no mundo, os problemas vão continuar, e as soluções têm que ser encontradas”, ressalta Maria Barcelos.