Quanto mais quente for a temperatura do planeta, mais teremos desastres climáticos, como secas severas, inundações, enxurradas, enchentes e tempestades. Para se ter uma ideia, cada aumento em 0,1°C na temperatura média global de 1991 a 2023 gerou 360 novos registros de eventos desse tipo no Brasil. Ou seja, de uma média de 725 ocorrências, na década de 1990, o Brasil passou a ter 4.077 registros a partir de 2020, um aumento de 460%.
Os dados, inéditos, são do estudo “2024 – O Ano Mais Quente da História”, primeiro documento da série “Brasil em transformação: o impacto da crise climática”, realizado pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, o primeiro.
A seca, que castiga o Norte do País há dois anos, aparece em metade dos 64.280 desastres climáticos ocorridos em 5.117 municípios brasileiros (quase 92% do total), nos 32 anos analisados pelo estudo. Inundações, enxurradas e enchentes representam 27%; e tempestades 19%. Mais de 219 milhões de pessoas foram afetadas, incluindo mortos, desalojados, desabrigados e enfermos, sendo 78 milhões somente nos últimos quatro anos.
É possível perceber, por meio dos números, o quanto a situação se agravou nos últimos anos. Em apenas 4 anos (2020-2023), o número médio anual de registros (4.077 registros/ano) já é quase o dobro da média anual das últimas duas décadas combinadas (2.073 registros/ano no período de 2000 a 2019).
“Não estamos mais falando sobre desastres naturais, decorrentes de um ciclo já aguardado, mas sim de desastre climático, que tem o nosso impacto humano”, alertou Janaina Bumbeer, coautora do estudo e gerente de projetos da Fundação Grupo Boticário.
A pesquisadora lembra que, embora falar em mudança climática pareça um assunto distante, cada vez mais é possível ver na prática o quanto “cada 0,1 grau representa de aumento de prejuízo, de desastres e de número de vidas que são impactadas”. Daí a importância de compreender que as mudanças climáticas são resultado direto das atividades humanas e que os desastres climáticos, intensificados pelas mudanças climáticas, afetam diretamente a população.
Por falar em prejuízos econômicos, eles também aumentaram ao longo das décadas: somaram R$ 547,2 bilhões entre 1995 (primeiro ano da série de dados) e 2023. O prejuízo anual médio desde 2020 é de R$ 47 bilhões – mais que o dobro da média da década anterior, de R$ 22 bilhões anuais.
Este é o primeiro estudo brasileiro a relacionar os registros de desastres climáticos e seus danos econômicos às mudanças de temperatura globais, com o objetivo de fazer uma previsão de cenários para embasar estratégias de prevenção.
Com informações do site Mongabay