Economia aquecida, geração de empregos em alta e a realização da COP30 em Belém colocam o Pará em uma rota de transformação. A crise provocada pelos dois anos seguidos de seca severa e o aumento das queimadas mostram que os desafios ambientais continuam firmes e podem piorar com as mudanças climáticas, mas a queda do desmatamento também indica que o estado tem potencial para se desenvolver economicamente sem ameaçar a floresta amazônica.
A trajetória dos grandes projetos, como a abertura de rodovias e instalação de hidrelétricas, a exploração de minérios e o incentivo à criação de grandes fazendas para criação de gado ou plantio em monocultura foram as bases da economia do estado até aqui e deixaram rastros de devastação sem grandes avanços sociais ou melhorias de serviços básicos.
Agora o Pará pode fazer diferente com cada vez mais estímulo às atividades sustentáveis, valorizando os produtos, a criatividade e a cultura típicas das populações tradicionais. O açaí, o cacau nativo, as frutas amazônicas, o artesanato e a bioeconomia, por exemplo, estão em destaque. Aliado a isso, o apoio à transformação dos negócios já existentes com práticas de menor impacto, como o plantio em sistemas agroflorestais e as boas práticas na pecuária, também vem crescendo.
“O Pará historicamente teve na mineração e na atividade da produção alimentar, seja agricultura ou pecuária, os dois grandes pilares econômicos do estado. A partir deste momento que nós estamos vivendo, nós fizemos que a agenda floresta impulsionasse uma nova vocação econômica do ativo florestal, do estoque florestal natural que o estado possui, com economias verdes, portanto economias atreladas à natureza”, avaliou o governador Helder Barbalho em entrevista coletiva sobre a organização da COP30.
Florestas preservadas representam uma esperança para um mundo em colapso, mas também trazem novas oportunidades de crescimento econômico com valorização do patrimônio natural. A redução do desmatamento, por exemplo, permitiu o início das negociações de créditos de carbono e o surgimento de recursos que podem ser convertidos em melhorias para quem ajuda a manter a floresta em pé.
Somente no primeiro acordo, a proteção das florestas rendeu R$ 982 milhões ao Pará, porém as projeções indicam que o estado pode arrecadar até R$ 35 bilhões até 2026 com as negociações de créditos do carbono.
Outros segmentos da economia também podem se beneficiar dessa mudança por um modelo mais sustentável. Uma pesquisa do Instituto Escolhas, por exemplo, já mostrou que a produção de alimentos do Brasil pode dobrar com mais sistemas agroflorestais. Seriam 156 milhões de toneladas de alimentos gerando uma receita de cerca de R$ 260 milhões e que ajudam a remover mais de 482 milhões de toneladas de carbono da atmosfera.
Mas além disso, a conservação da Amazônia também é sinônimo de que as nossas belezas naturais estão preservadas e podem ser desfrutadas no presente e no futuro pela população local e pelos turistas que cada vez mais se encantam pelas paisagens, pelos rios e praias e aqui descobrem ainda uma culinária sem igual e uma cultura vibrante e criativa.
“Nós temos COP, mas temos também a beleza natural dos nossos rios, da nossa flora, a gastronomia paraense que se consolida cada vez mais como um importante atrativo dentro desta estratégia de impulsionamento da experiência de vir para a Amazônia a partir de Belém do Pará”, afirmou Barbalho ressaltando o potencial do turismo no estado.
Vale lembrar ainda que a floresta amazônica é um patrimônio e gera benefícios diretos e indiretos para as populações de dentro e fora da região. Estudo do Banco Mundial aponta que a receita gerada pela exploração total da floresta seria de US$ 43 bilhões a US$ 98 bilhões por ano, enquanto que a preservação gera um lucro sete vezes maior de cerca de US$ 317 bilhões por ano. Ou seja, conservação é sinônimo de meio ambiente saudável e mais qualidade de vida para o mundo, mas também de uma economia mais forte.