O ano de 2024 foi o mais quente de toda história e o primeiro a registrar temperaturas 1,5 ºC acima da média da era pré-industrial, confirma o mais recente relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência das Nações Unidas especializada em estudos sobre clima, tempo e recursos hídricos. Divulgado nesta quarta-feira, 19, o estudo reforça que o clima do planeta está mudando de forma acelerada, o que pode deixar consequências irreversíveis para a vida na Terra e levar a impactos econômicos e sociais.
Os sinais de alerta são diversos: a concentração de dióxido de carbono (CO2) está nos níveis mais altos dos últimos 800 mil anos; cada um dos últimos dez anos foram individualmente os mais quentes já registrados; a cada ano foram batidos novos recordes para ondas de calor no oceano; as maiores perdas de massa geleira ocorreu nos últimos três anos e o nível do mar dobrou desde que as medições por satélite começaram.
“Dados de 2024 mostram que nossos oceanos continuaram a aquecer, e os níveis do mar continuaram a subir. As partes congeladas da superfície da Terra, conhecidas como criosfera, estão derretendo a uma taxa alarmante: as geleiras continuam a recuar, e o gelo marinho da Antártida atingiu sua segunda menor extensão já registrada. Enquanto isso, o clima extremo continua a ter consequências devastadoras ao redor do mundo”, destacou Celeste Saulo, secretária-geral da OMM.
A combinação desses fatores com a alta das temperaturas dos últimos anos cria um cenário de crise. Ciclones tropicais, inundações, secas e outros perigos em 2024 levaram ao maior número de novos deslocamentos registrados nos últimos 16 anos, contribuindo para o agravamento da fome, com enormes perdas econômicas.
Evitar um quadro mais drástico ainda é possível, segundo a agência. Apesar de em 2024 a Terra ter superado a média de 1,5 ºC prevista no Acordo de Paris, a OMM diz que o aumento médio está entre 1.34 e 1.41 °C.
“Nosso planeta está emitindo mais sinais de socorro, mas este relatório mostra que limitar o aumento da temperatura global a longo prazo a 1,5 graus Celsius ainda é possível. Os líderes devem se esforçar para que isso aconteça, aproveitando os benefícios de energias renováveis baratas e limpas para seus povos e economias, com novos planos climáticos nacionais previstos para este ano”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, Antônio Guterres, fazendo alusão aos planos que devem ser aprovados pelos países na COP30, que ocorre em novembro, em Belém.
Para a entidade, é necessário que os governos assumam compromissos mais ousados de redução das emissões de gases do efeito estufa e também invistam no fortalecimento de estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Sem esse investimento, populações inteiras ficam vulneráveis aos impactos de grandes secas, enchentes e outros desastres naturais cada vez mais frequentes.
O investimento em serviços meteorológicos, hídricos e climáticos é mais importante do que nunca para enfrentar os desafios e construir comunidades mais seguras e resilientes, enfatizou Celeste
“Estamos progredindo, mas precisamos ir mais longe e mais rápido. Apenas metade de todos os países do mundo têm sistemas de alerta precoce adequados. Isso precisa mudar”, salientou ela.