O desmatamento na Amazônia está dexiando de gerar energia suficiente para abastecer 1,5 milhão de pessoas no Brasil, causando um prejuízo de R$ 1,1 bilhão para as duas maiores usinas hidrelétricas do País.
Localizada em Vitória do Xingu, no sudoeste do Pará, a usina hidrelétrica de Belo Monte é a segunda maior do País e também uma das mais prejudicadas pelo avanço desenfreado do desmatamento. De acordo com estudo do Climate Policy Initiative/PUC-Rio (CPI/PUC-Rio) e do Amazônia 2030, a Belo Monte teve uma perda potencial média de geração 2.400 GWh e R$ 638 milhões em receita por ano devido à devastação e o seu impacto sobre o regime de chuvas na região.
Somente a energia perdida em Belo Monte equivale ao consumo de 956 mil brasileiros em 2023.
Itaipu
No sul do Brasil, a mais de 1000 km de distância, a usina hidrelétrica de Itaipu também sofre os efeitos da destruição da floresta. A pesquisa estima que a perda potencial de geração lá é de 1.380 GWh e de R$ 500 milhões em receita por ano. A perda de energia na usina, decorrente do desmatamento, é equivalente ao consumo de 552 mil brasileiros em 2023.
Juntas, as duas usinas representam 23% da geração hidráulica da matriz elétrica brasileira.
Rios voadores
Isso ocorre porque a floresta amazônica é responsável por formar os chamados rios voadores – correntes de ar carregadas de umidade que se movimentam no sentido sentido norte-sul e garantem o abastecimento de rios e a irrigação das plantações. Quando as correntes de ar atravessam áreas desmatadas, perdem umidade e isso reduz a incidência de chuva ao longo do caminho. Por causa disso, a vazão dos rios caí e a capacidade de geração hidrelétrica nas usinas também.
“A energia hidrelétrica é uma fonte de geração renovável, barata e que traz maior flexibilidade para operar o sistema elétrico. Mas é também uma fonte bastante vulnerável às alterações nos regimes de chuva. O desmatamento na Amazônia afeta não somente a área desmatada, mas impacta negativamente usinas a quilômetros de distância do bioma.”, explica Gustavo Pinto, analista sênior do CPI/PUC-Rio.
Correntes de ar
Para reverter esse quadro, o estudo identificou as áreas da Amazônia que são atravessadas pelas correntes de ar essenciais para a geração de energia nas duas usinas e que já foram desmatadas. Em relação a Itaipu, 17% da área mais relevante já foi devastada, enquanto que em Belo Monte a destruição atingiu 13% da área da floresta mais relevante para a operação da usina.
“A identificação das áreas que mais influenciam a geração de energia das usinas é importante para orientar a implementação de políticas de conservação e restauração de modo mais eficiente e o direcionamento de recursos para mitigar os efeitos adversos da geração de energia do País.”, aponta João Arbache, analista do CPI/PUC-Rio.
O estudo ressalta ainda que se as perdas continuarem a capacidade de o Sistema Interligado Nacional (SIN) atender à demanda nacional pode ser comprometida. Além disso, com o aumento da frequência de eventos climáticos extremos, o futuro da geração de energia por hidrelétricas é incerto e, por isso, os pesquisadores defendem que o setor atue para promover a conservação.
“O setor elétrico precisa investir na conservação da Amazônia. A proteção da floresta é fundamental para a estabilidade do fornecimento de energia e para evitar prejuízos econômicos para as hidrelétricas.”, destaca Gustavo Pinto.