Com mais de 2.700 km, o rio Xingu é um corredor de biodiversidade que conecta os biomas da Amazônia e do Cerrado nos estados do Pará e do Mato Grosso. Apesar de ser um ambiente único e valioso dos pontos de vista econômico, social e ambiental, a bacia do Xingu é uma das mais impactadas pelo desmatamento e expansao da área do agronegócio.
A realidade dessa região é o foco de um estudo elaborado pelo Observatório De Olho no Xingu, que apresenta os desafios para proteção da bacia. As maiores ameaças são a exploração ilegal de madeira, o garimpo, a grilagem de terras públicas e as queimadas que afetam, sobretudo, territórios de povos e comunidades tradicionais.
No Pará, a pesquisa identificou que, de agosto de 2022 e julho de 2023, foram 38.552 hectares explorados para retirada de madeira, no entanto em 46% deles não havia autorização para a atividade.
Uma das áreas afetadas é a Reserva Extrativista (Resex) Riozinho do Anfrísio, que sofreu com uma forte expansão madeireira durante o governo anterior. No período de 2018 a 2022, foram mais de 465 km de ramais abertos na unidade para escoar a madeira ilegal. Nos últimos dois anos, a fiscalização aumentou, porém a atividade avançou sobre áreas ao oeste e conseguiu abrir 150 km de ramais para o roubo de madeira.
Garimpo ilegal
Na região da bacia do rio Xingu outra grande preocupação é com o garimpo ilegal, principalmente na Terra Indígena Kayapó, localizada entre os municípios de Bannach, Cumaru do Norte, Ourilândia do Norte e São Félix do Xingu. O garimpo se concentra principalmente nas margens dos rios Arraias, Fresco e Branco, gerando contaminação dos recursos hídricos utilizados pelos indígenas.
A exploração garimpeira na TI alcançou o maior patamar durante o governo passado, chegando a 13,7 mil hectares. Em 2023, o desmatamento para lavra de ouro diminuiu 36% e mais 10,7% no ano passado devido ao aumento da fiscalização e das ações de combate ao garimpo, mas ainda assim TI Kayapó continua sendo uma das Terras Indígenas mais desmatadas da bacia do Xingu e a TI mais ocupada pelo garimpo ilegal na Amazônia.
Grilagem de terra e queimadas
Conforme denuncia o estudo, a grilagem de terras públicas é o que está por trás do desmatamento nas áreas protegidas da bacia do rio Xingu. Títulos de terra fraudados são utilizados para que produtores rurais se apossem dessas áreas, derrubem a floresta e criem gado ilegal.
É o que ocorre, por exemplo, na TI Apyterewa, que passou por uma operação de desintrusão para retirada dos invasores. Após esse processo, o desmatamento quase zerou, com registro de apenas 44 hectares derrubados no ano passado.
Outra ameaça crescente nas áreas protegidas do Xingu são as queimadas, cujos danos são potencializados pelo desmatamento e as mudanças climáticas. Segundo o relatório, cerca de 71% dos incêndios na região em 2024 ocorreu em Terras Indígenas em razão das atividades ilegais que destroem esses territórios. Nesse caso, novamente a TI Kayapó é uma das mais afetadas com registro de 988.878 hectares queimados somente em 2024.
Para enfrentar esses desafios, o Observatório De Olho no Xingu defende a continuidade e o fortalecimento das políticas públicas de monitoramento da região. Além disso, ressalta que o cumprimento das condicionantes ambientais para obras de infraestrutura são essenciais para garantir a sustentabilidade da região a longo prazo.
“O futuro da bacia do Xingu depende de um esforço coletivo e contínuo para combater as causas estruturais do desmatamento ilegal e promover um modelo de desenvolvimento que respeite o equilíbrio socioambiental e os direitos dos povos tradicionais”, diz um trecho do estudo.