Enquanto nos aproximamos do Dia do Indígena, em 19 de abril, a urgência em proteger a Amazônia e seus povos se torna ainda mais evidente. A data, que celebra a rica diversidade cultural e a história de resistência dos povos originários, ecoa com um alerta importante: proteger e adaptar as comunidades indígenas e tradicionais da Amazônia às mudanças climáticas não é apenas uma questão de justiça social, mas a estratégia mais inteligente e econômica para evitar um colapso ambiental de proporções catastróficas.
De acordo com o policy brief (um documento que resume pesquisas e recomendações sobre políticas públicas) divulgado recentemente pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) investir na proteção dos ecossistemas amazônicos, com foco em seus habitantes ancestrais, representa um custo significativamente menor do que os trilhões de dólares em perdas socioeconômicas projetadas para as próximas décadas, caso a floresta atinja seu ponto de inflexão, momento em que ela não conseguirá se sustentar e entrará em colapso.
Essa constatação reforça um entendimento cada vez mais claro: a saúde da Amazônia está intrinsecamente ligada ao bem-estar e à proteção de seus povos originários.
As pesquisadoras do IPAM afirmam que a resiliência socioeconômica frente à crise climática na Amazônia passa, necessariamente, pelo reconhecimento e valorização do papel dos povos indígenas e comunidades tradicionais na conservação da floresta.
Eles não são meros habitantes da floresta; são seus guardiões milenares, donos de um conhecimento ecológico profundo e de práticas de manejo sustentável que se mostraram eficazes ao longo de gerações. Ignorar sua sabedoria e vulnerabilidade é um erro estratégico com consequências ambientais e econômicas devastadoras.
“Povos indígenas, comunidades tradicionais, ribeirinhos e pequenos agricultores vivem ali há séculos, sustentando suas culturas, modos de vida e cuidando da floresta. Eles estão na linha de frente dos impactos da crise climática, apesar de terem colaborado pouco para essa desestabilização global. Por isso, a justiça climática precisa estar no centro das soluções. Sem enfrentar as desigualdades históricas e atuais, não haverá adaptação possível nem transição justa que se sustente”, defende Patrícia Pinho, diretora adjunta de Pesquisa do IPAM e uma das autoras do policy brief.
Lentidão
O documento expõe a alarmante lentidão na implementação de políticas de adaptação climática no Brasil, com apenas nove municípios possuindo leis sobre o tema e muitos planos enfrentando desafios de vontade política e capacidade técnica.
Essa inércia, agravada por conflitos de interesse e um modelo de desenvolvimento predatório, apenas eleva os custos futuros da adaptação e diminui as chances de mitigar os piores impactos da crise. Como alerta Pinho lembra que “a cada ano de atraso, os custos de adaptação aumentam, e as oportunidades para minimizar os impactos climáticos são reduzidas.”
Nesse contexto, o Dia do Indígena ganha uma nova dimensão. Ele nos lembra que a proteção da floresta não é apenas sobre árvores e biodiversidade, mas fundamentalmente sobre as pessoas que a habitam e a protegem há séculos. As estratégias de adaptação climática para a Amazônia precisam, urgentemente, priorizar a identificação e o apoio aos grupos mais expostos, como os povos indígenas, garantindo medidas específicas e sua participação ativa nos planos de adaptação.
Os eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes na Amazônia, já causaram bilhões em prejuízos e afetaram milhões de pessoas. Fortalecer a infraestrutura básica, os serviços de saúde e educação nas comunidades indígenas e tradicionais, reconhecendo os ciclos hidrológicos da região, e investir na bioeconomia como estratégia central de adaptação são medidas cruciais.