Um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) reforça que para mitigar as emissões de gases do efeito estufa (GEE) a pecuária brasileira não precisa abrir mão da lucratividade, já que o caminho para uma adaptação mais sustentável também pode levar a uma redução de até US$ 42,6 bilhões em custos ligados às mudanças climáticas.
“Sabemos da importância do setor de carne bovina não só para a economia como para o cardápio dos brasileiros. Nosso objetivo não é dizer: produzam ou comam menos carne, mas sim trazer uma discussão sobre a forma atual de produção, que vem atrelada ao desmatamento, a altas emissões e sem adotar técnicas sustentáveis”, diz a autora, Mariana Vieira da Costa.
Ao lado das coaautoras do estudo, as cientistas Simone Miraglia e Daniela Debone, ela mostrou que produção de carne bovina no Brasil, da forma como é feita atualmente, emite mais do que o dobro do emite mais que o dobro do limite necessário para que o país cumpra os compromissos do Acordo de Paris.
A pesquisa, publicada na revista Environmental Science and Pollution Research, mostra que as emissões do setor podem variar de 0,42 a 0,63 gigatonelada de CO2 equivalente (GtCO2e) até 2030, enquanto o limite para atender à meta da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) seria de 0,26 GtCO2e.
Custo social do carbono
Em novembro, o Brasil entregou à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) a nova contribuição, com o compromisso de reduzir as emissões líquidas de GEE entre 850 milhões e 1,05 bilhão de toneladas de CO2 equivalente até 2035 – uma queda de 59% a 67% em comparação aos níveis de 2005.
Diante disso, foi considerado também o custo social do carbono (CSC), ou seja, os custos econômicos causados pela emissão de uma tonelada de CO2, incluindo impactos sobre o meio ambiente e a saúde humana e incorporando consequências, como perdas na agricultura provocados por eventos climáticos extremos.
Esses custos podem ser reduzidos ou redirecionados para investimentos em práticas de produção pecuária mais sustentável por meio de políticas públicas e linhas de crédito acessíveis. Segundo a pesquisa, o potencial de redução de custos varia entre US$ 18,8 bilhões e US$ 42,6 bilhões até 2030 dependendo do cumprimento das metas.
Caminho oposto
Em 2023, o Brasil bateu recorde na exportação de carne bovina, com 2,29 milhões de toneladas vendidas para 157 países, atingindo um faturamento de US$ 10,55 bilhões. Por isso, as cientistas consideraram a relevância da exportação de carne bovina para o Brasil ao calcular quanto estaria disponível para consumo interno em 2030.
A conclusão é que, caso a produção fosse reduzida para se manter dentro do limite de emissão de 0,26 GtCO2e, o consumo interno de carne bovina poderia cair para algo entre 2 e 10 kg per capita por ano em 2030.
Elas destacam que, se não houver reduções expressivas nas emissões de gases de efeito estufa, o aumento da temperatura média global acarretará impactos econômicos adicionais, como a redução da produção agrícola, o aumento dos incêndios florestais e a intensificação dos efeitos sobre a saúde, incluindo a mortalidade, por exemplo.
Fonte: André Garcia/Gigante 163
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