Larissa Noguchi, especial para o Pará Terra Boa
Belém – De sorriso aberto e carisma único, o rei do carimbó, conhecido pelas roupas floridas e chapelão, recebeu o Pará Terra Boa em sua casa, no bairro do Guamá, em Belém. Pinduca, se não fosse a pandemia, estaria pelas ruas do interior do Pará arrastando uma multidão ao som de seu “carimbó elétrico” nas festas típicas do mês de junho. Mas, mesmo com as restrições, para este 30 de junho, dia do boi-bumbá, Pinduca afirma que é preciso manter ativa a tradição de uma festa tão representativa para os paraenses.
“Pelo princípio lógico, uma cidade sem cultura não tem história”, diz o artista.
No Pará, o “bumba-meu-boi” é denominado boi-bumbá. Em algumas cidades do interior do estado, as festas ocorrem todos os anos, celebrando a diversidade cultural e preservando a ancestralidade folclórica da região. Em 2012, o bumba-meu-boi foi incluído na lista de Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Nascido em Igarapé-Miri, também no mês junino, Pinduca é um dos artistas que representam essa riqueza cultural do Pará no mundo todo. Com 84 anos de idade, o músico comemora 70 deles dedicados à carreira musical, reconhecida com prêmios nacionais e internacionais.
Pinduca transformou a tradição do carimbó pau e corda em ritmos mais dançantes para alcançar mais pessoas. Ao longo dos anos 1960 e 1970, desenvolveu intimidade não só com os ritmos paraenses (como o carimbó e o siriá), mas também com ritmos latinos, como cumbia, mambo e merengue. O compositor também é reconhecido por gravar a primeira música do gênero lambada, em 1976.
Pinduca viajou o Brasil todo em sete décadas de carreira, mas é o Pará a sua casa. Questionado sobre os motivos de nunca ter saído da terra onde nasceu, ele responde imediatamente:
“O Pará é uma terra muito boa, o ribeirinho não passa fome, ele tem uma chave de vida..tudo tiramos na hora, o açaí, a farinha, o igarapé que passa por atrás das casas. Na minha terra, ninguém planta…o açaí nasce”, diz.
Parafraseando uma de suas canções mais famosas, “Quem vai ao Pará, parou, tomou açaí, ficou”, o músico reforça que suas raízes estão no estado e que a alma do paraense é essa mesmo: ganhar o mundo e não sair desse lugar tão farto em natureza e pessoas conectadas com a terra. Até hoje, depois de atravessar gerações dentro da sua própria banda com filhos e netos, tocando juntos, ele se surpreende com o seu legado que fortalece as manifestações culturais do Estado:
“Mas como eu, com essa capacidade? O garoto lá de Igarapé-Miri, de repente, é o rei do carimbó? Conhecido no Brasil e no mundo?”.
Igarapé-Miri é conhecido como a “terra do açaí” por ser um dos municípios mais fartos em produção e comercialização do fruto. É uma cidade ribeirinha, cercada de rios, onde o açaí é o principal alimento da população. Ele confessa que se tivesse em sua casa tomaria todos os dias, mas brinca que já tomou por 30 anos todos os dias e que agora tenta regrar o consumo. A cidade natal também é palco de shows e apresentações em toda sua carreira musical, motivo de orgulho e admiração de todos os moradores da região.
Mesmo diante da modernização fonográfica, da facilidade em se gravar um disco e produzir música, Pinduca celebra a chegada até aqui como um dos principais representantes paraenses da preservação das manifestações culturais locais.
“O meu carimbó é moderno”, diz, e finaliza a conversa como se estivesse num show, cantando um trecho de um dos seus principais sucessos: “olelê, olalá / misturei carimbó e siriá / carimbó e sirimbó é gostoso / é gostoso e ainda vem do Pará”.