Recente relatório produzido pela organização internacional de advocacy Mighty Earth, com sede em Washington (EUA), demostrou que o cultivo da borracha em sistemas agroflorestais é capaz de melhorar a qualidade do solo e da água, bem como criar benefícios ambientais, de biodiversidade e climáticos, em comparação às plantações de monocultura do produto extraído de seringais.
O relatório, publicado em maio com participação de pesquisador brasileiro, considerou critérios como subsistência e segurança alimentar, biodiversidade na fazenda, resiliência climática e a posição das mulheres e grupos sub-representados da economia rural.
A produção de borracha natural continua ocupando cada vez mais terras, principalmente no sudeste da Ásia. A borracha é comumente cultivada como monocultura com uso intensivo de agroquímicos. Uma pequena fração é produzida em grande escala, mas cerca de 90% da borracha natural é produzida pelos pequenos agricultores.
No entanto, um dos principais motores do desmatamento – a conversão de florestas tropicais em monoculturas de commodities como dendê, café e cacau – não é frequentemente mencionado neste contexto, apesar da capacidade da agrossilvicultura de melhorar a sustentabilidade dessas culturas.
“Nosso relatório fornece evidências de que os rendimentos agroflorestais são semelhantes aos das monoculturas de borracha – especialmente se a mesma densidade de plantio for mantida e for usado material de plantio de alto rendimento. A produtividade da borracha no Brasil até aumentou em comparação com as monoculturas quando a borracha era consorciada com o feijão ”, disse o coautor Thomas Cherico Wanger, em entrevista recente ao site Mongabay.
Embora a renda da extração da borracha seja fundamental para muitas economias rurais, há evidências crescentes de vários riscos e danos sociais, econômicos e ambientais associados à produção da monocultura de borracha, como:
- Degradação generalizada dos solos e dos recursos de água doce;
- Desmatamento desenfreado, perda de habitat e destruição do ecossistema;
- Riscos para a saúde da seringueira decorrentes de doenças, secas e geadas;
- Maior vulnerabilidade das propriedades aos riscos climáticos;
- Ameaças à segurança alimentar e de subsistência dos pequenos agricultores devido a flutuações no preço global da borracha.
A pesquisa conduzida para a Mighty Earth encontrou fortes evidências de que sistemas agroflorestais de borracha podem incrementar a subsistência de seringueiros e das próprias áreas rurais nas quais estão inseridos, especialmente as mais pobres, com base em estudos conduzidos na Ásia (Tailândia, Sri Lanka, China e Filipinas) e na África (Costa do Marfim, Libéria, Nigéria e Gabão). Isso porque eles aumentam a disponibilidade e diversidade de alimentos na região.
Questão de gênero
O estudo também demonstrou que a agrossilvicultura da borracha melhora alguns indicadores sociais de gênero em relação à renda das mulheres, bem como posse de terra para os pequenos proprietários.
Questões de gênero em sistemas agroflorestais são importantes porque em muitas sociedades as mulheres e os homens têm papéis distintos nos sistemas agrícolas locais, como na tomada de decisões sobre o uso da terra, divisões de tarefas domésticas, plantio de árvores, entre outros fatores.
Em alguns países, sistemas agroflorestais envolvendo culturas permanentes ou de longa duração, como seringais, também podem contribuir para a segurança da posse da terra de pequenos agricultores porque o plantio de árvores facilita as reivindicações de propriedade e maior duração de posse por agricultores.
Solo
Sistemas agroflorestais contribuem para maior fixação de carbono e nutrientes no solo, redução de erosão e acidez do solo e aumento da biodiversidade microbiana do mesmo. Além disso, com sistemas agroflorestais, o uso de pesticidas e herbicidas é reduzido ou zerado, o que significa menos impacto negativo em humanos, meio ambiente e biodiversidade.
O estudo também detectou menos insetos invasivos em sistemas agroflorestais do que em monoculturas. Juntas, essas melhorias para a saúde e o meio ambiente são atrativos significativos para sistemas agroflorestais de borracha.
Recomendações
As melhores práticas precisam ser adaptadas aos diversos contextos de lugares onde a borracha é cultivada. Para apoiar sistemas agroflorestais, o grande produtor poderia:
- Adotar indicadores adicionais de sustentabilidade em torno dos meios de subsistência, solos, água, biodiversidade e clima;
- Apoiar ativamente o plantio consorciado de borracha do pequeno produtor, especialmente entre mulheres, uma vez que o sistema apresenta melhores resultados quando a vizinhança da propriedade age da mesma forma;
- Investir em pesquisa para identificar sistemas agroflorestais de baixo custo.
- Utilizar consórcio temporário entre as fileiras de borracha durante os três primeiros anos de estabelecimento da borracha.
Compradores de borracha, como empresas de pneus:
- Facilitar a adoção de sistemas agroflorestais de borracha por meio de políticas de aquisição que incluam a borracha originária de agrossilvicultura;
- Premiar pequenos proprietários e produtores industriais que implementem sistemas agroflorestais e outros práticas sustentáveis.