Larissa Noguchi, especial para o Pará Terra Boa
BELÉM – O Pará e o Japão estão muito conectados desde a chegada dos primeiros imigrantes japoneses em Tomé-Açu em 1929. Agora, o Estado, que é o maior produtor de cacau do Brasil, é o primeiro do país a exportar as amêndoas para o outro lado do globo. Uma linha de chocolate japonês, que é patrocinadora oficial dos jogos Olímpicos de Tóquio, criou o “Chocolate do Brasil”, trazendo na embalagem o registro de que a produção é 100% da Amazônia, por meio do sistema agroflorestal. Em um outro produto da mesma empresa, a fabricante fez uma embalagem inspirada na nossa floresta com ilustração de açaí e pimenta do reino.
A Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu, a CAMTA, é única que exporta amêndoas de cacau para o Japão. Segundo o presidente da cooperativa, Alberto Oppata, a parceria já vem de muitos anos e vários experimentos foram realizados para que a fábrica japonesa Meiji pudesse começar a fabricar chocolate com amêndoas importadas do Pará.
“Começamos a exportar em 2009 e, no início desse processo, a fábrica japonesa não conseguiu fazer um chocolate bom. Depois de muita pesquisa e testes, chegaram em um produto final de chocolate fino no Japão. Ano passado soubemos que o nosso cacau estaria com o selo de produto brasileiro. É um privilégio ter um produto nosso comercializado agora nas Olimpíadas”, afirma Oppata.
Atualmente, o município de Tomé-Açu tem 4 milhões de pés de cacau, sendo 1 milhão cultivado pelos cooperados da CAMTA.
O grande diferencial do cacau produzido no município de Tomé-Açu é o cultivo agroflorestal, ambientalmente responsável, protegendo a floresta nativa da nossa região e um modelo exclusivo da Amazônia desenvolvido pela comunidade nipo-brasileira, que é a terceira maior comunidade de imigrantes japoneses do país.
“Para nós, é um orgulho manter essa tradição e metodologia de plantio, além do mercado japonês gostar de saber de onde vem o produto”, diz Oppata.
‘Bean to Bar’
O chocolate comemorativo que está sendo comercializado agora nas Olimpíadas é do tipo “Bean to Bar”, que são chocolates artesanais fabricados a partir dos grãos de cacau (amêndoas) da melhor qualidade, diferente da produção do chocolate comum industrializados que encontramos no mercado, que costumam ser produzidos com a massa de cacau.
O cacau paraense também é reconhecido com o selo de Indicação Geográfica (IG) no Pará, concedido pelo INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial. O selo é usado para produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem, o que lhes atribui reputação e identidade própria, além de os distinguir de seus similares no mercado. Após a conquista do selo IG, o primeiro lote de amêndoas de cacau foi enviado ao Japão, em julho do ano passado, com 25 toneladas.
O Sebrae Pará explica que o reconhecimento do produto por meio do selo potencializa os negócios da região e traz muitos benefícios para a comercialização do produto. “Trabalhamos e atuamos no processo de governança, desde a organização dos produtores, capacitação e até como eles podem conseguir a indicação geográfica, possibilitando, assim, acesso a novos mercados como esse exemplo da exportação para a fábrica japonesa”, afirma Fabiano Andrade, analista do Sebrae.
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