Os brasileiros estão mais preocupados com a crise climática do que a população de países desenvolvidos. A percepção, captada em pesquisa realizada pela IPSOS Mori e a Global Commons Alliance, reforça a ideia de que realmente somos os primeiros a valorizar as riquezas que só nossa terra dá com o temor de que o sustento de milhares de famílias esteja ameaçado.
O estudo, que faz parte de um conjunto de pesquisas sobre as atitudes da população do grupo dos 20 países mais desenvolvidos, G-20, em relação à crise do clima, apontou na terça-feira, 17/8, que os brasileiros lideram o ranking dos que mais acreditam que aquilo que ameaça a natureza, ameaça também a vida humana, e que os benefícios da ação climática compensam os custos da falta de ação. Sobre esta percepção, a média do G-20 é de 69%, contra 87% no Brasil, 85% na Indonésia e 82% na China. Esse entendimento é menos frequente na França (44%), Japão (53%) e nos Estados Unidos (60%).
Os brasileiros se destacam novamente em relação às demais economias quando 83% de nós acreditam que a Terra está se aproximando de pontos de não retorno (os chamados tipping points) potencialmente abruptos ou irreversíveis devido à ação humana – índice que chega na média de 73% nos demais países.
Quando quesitonados sobre a pandemia, os brasileiros estão entre os mais convencidos de que a crise santiária é uma oportunidade única para uma transição que possa proteger o planeta – 78% tem este entendimento no país, contra 71% da média do G-20.
A pesquisa constatou que a maioria das pessoas (58%) do G-20 estão muito preocupadas ou extremamente preocupadas com o estado dos bens comuns globais (ecossistemas, atmosfera, biodiversidade e etc.). E 83% das pessoas estão dispostas a fazer mais para se tornarem melhores “cuidadores planetários” e proteger e regenerar o planeta.
Os cidadãos das economias em desenvolvimento mostraram mais vontade de fazer mais para proteger a natureza e o clima do que aqueles nos países ricos: Indonésia (95%), África do Sul (94%), China (93%), México (93%), Brasil (91%), em comparação com o Japão (61%), Alemanha (70%) e Estados Unidos (74%).
“Ficamos surpresos com a diferença de atitudes entre as pessoas que vivem em economias ricas e as que vivem em economias emergentes”, afirma Owen Gaffney, autor principal do relatório e diretor de comunicações da Global Commons Alliance.
“Posso especular que a destruição dos bens comuns é mais visível e tangível para as pessoas que vivem em países com grandes ecossistemas, como as florestas tropicais do Brasil e da Indonésia, bem na porta de suas casas. O comércio global separa as pessoas dos países ricos dos impactos do seu consumo. Mas é necessário mais trabalho para realmente perceber o porquê”, avalia Gaffney.
Vida antes de economia
A pesquisa destacou o descontentamento significativo com os sistemas econômicos dominantes nos países do G-20. No geral, 74% das pessoas apoiam a ideia de que seu país vá além de um foco no lucro e no crescimento econômico e se concentre mais no bem-estar humano e na proteção e regeneração ecológica. Essa visão é consistentemente elevada entre todos os países do G-20 e particularmente alta na Indonésia (86%), Turquia (85%) e Rússia (84%), mas forma maioria mesmo nos países com a pontuação mais baixa: Estados Unidos (68%), Grã-Bretanha (68%), Canadá (69%).
Transição de tudo
Por outro lado, apenas 28% das pessoas estão cientes de que os cientistas pensam que é necessária uma mudança significativa no funcionamento da economia para proteger os bens comuns globais e cumprir as metas climáticas estabelecidas no Acordo de Paris.
Enquanto 59% das pessoas no G-20 reconhecem que uma transição energética muito rápida é necessária na próxima década, apenas 8% sabem da necessidade de mudanças econômicas mais amplas na próxima década, incluindo mudança alimentar, preço de bens e serviços para incluir os custos ambientais e mudança para economias circulares.
“Isto é preocupante. Precisamos de campanhas de informação pública de alto impacto para mostrar a velocidade e a escala da transformação necessária para proteger o clima. Isto está além de uma transição energética: é uma transição de tudo”, afirma Gaffney.
Divulgação científica
Para Bridget Williams, Diretora de Pesquisa da Ipsos MORI, a pesquisa indica que a cobertura da imprensa sobre o clima ainda está aquém das necessidades do público. “Parece haver uma demanda real por mais informações sobre clima e sobre ações individuais para contribuir com a solução do problema, particularmente entre os mais jovens e as famílias com crianças”, afirma. “Os formuladores de políticas deveriam aproveitar que há este interesse para informar e mobilizar os cidadãos em direção a ações concretas.”
A pesquisa
A pesquisa de opinião intitulada Global Commons: Atitudes em relação à administração e transformação planetária entre os países do G20 foi realizada pela Ipsos MORI em abril e maio de 2021. Foram 19.735 pessoas pesquisadas em todos os países do G-20 (mais uma pesquisa adicional na Suécia publicada separadamente). As entrevistas foram conduzidas de modo on-line. Em cada país, os dados são ponderados para serem representativos da população nacional. A iniciativa teve o apoio da Earth4All e da FAIRTRANS.
Países do G20: Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos, (mais a União Europeia).