No Brasil, estima-se que a polinização realizada por animais como abelhas, moscas e morcegos gere um valor econômico de R$ 43 bilhões por ano na agricultura. Em artigo publicado na revista Environmental Science & Technology, pesquisadores foram além e mapearam a importância dos polinizadores para a agricultura em cada um dos municípios brasileiros.
O estudo considerou a área, a diversidade de culturas agrícolas e o quanto cada cultura depende de polinizadores. Além disso, identificaram a demanda de restauração de áreas naturais para garantir a presença de polinizadores nos cultivos agrícolas.
No que diz respeito ao Pará e demais Estados da Amazônia Legal, pesquisa de 2018 já apontava que a diversidade de insetos polinizadores em áreas de açaizais pode responder por um acréscimo de até 25% na produção de frutos de açaí em cada planta.
A presença de vegetação nativa próxima às áreas cultivadas maximiza a polinização e melhora a produtividade e a manutenção da cultura agrícola.
“Dadas as projeções de aumento da demanda global por alimentos, há uma necessidade urgente de reverter a tendência atual de expansão agrícola, promovendo práticas agrícolas sustentáveis”, explicam os autores do estudo atual.
Nesse contexto, é importante desenhar políticas ambientais que integrem a conservação da biodiversidade e a polinização das culturas considerando as especificidades de cada localidade, como por exemplo, na escala de municipalidades.
Primeiro os pesquisadores analisaram as principais culturas agrícolas brasileiras, identificando aquelas em que a polinização realizada por animais resulta em aumento da produção e retorno monetário. Esse conjunto envolve 90 cultivos diferentes que vão desde a abóbora e o cacau, cuja produção aumenta até 100% com a presença desses animais, até a uva (aumento de até 10%), passando pela soja, laranja e café, cuja produção pode aumentar entre 10 e 40%.
Usando dados de produção agrícola e área de cultivo, os pesquisadores estimaram esse aumento de produção e retorno monetário para cada município brasileiro, classificando-os em quatro faixas de demanda por polinização. Verificaram, também, a importância dos cultivos para cada município, incluindo a diversidade agrícola: dos locais caracterizados pela monocultura e grandes propriedades àqueles com maior diversidade de cultivos característicos de pequenas propriedades rurais.
Outra informação analisada diz respeito ao déficit de vegetação natural de cada município, isto é, a diferença entre a quantidade de vegetação natural existente e as áreas exigidas por lei. Os municípios foram classificados de acordo com esse déficit. De um lado, aqueles que têm poucas áreas de vegetação natural e precisam de maior esforço de restauração. Do outro, os que já contam com as áreas de vegetação natural e, portanto, precisam conservar tais áreas para garantir o excedente da produção agrícola resultante da presença de polinizadores
A partir da correlação entre essas métricas foi possível elaborar um ranking de prioridades para restauração e conservação da vegetação natural que tenham como foco a importância da polinização para cada localidade.
Açaí
Para a pesquisadora Márcia Maués, da Embrapa Amazônia Oriental, os dados apresentados no artigo vêm corroborar outros estudos que apontaram a importância da floresta nativa para a presença de polinizadores.
Um deles, de 2018, indicou que o açaizeiro é potencialmente polinizado por mais de cem espécies de insetos. “Se não houver áreas de florestas, não haverá essa quantidade de espécies que são importantes para polinizar o açaizeiro”, conclui. De acordo com a pesquisadora, além da manutenção das áreas de vegetação nativa, uma medida importante seria que elas fossem conectadas, formando corredores ecológicos para melhor servir como repositório dos polinizadores.
Conforme afirma o pesquisador do estudo de 2018, Alistair Campbell, “nas áreas de açaizais nativos com manejo de alto impacto, onde restou apenas as palmeiras de açaí, a quantidade e diversidade de polinizadores é menor. Em razão disso a produção de frutos também diminui, pois a polinização das flores do açaí é altamente dependente do serviço prestado pelos insetos”, alertou.
Fonte: Embrapa Amazônia Oriental