Por Larissa Noguchi, especial para o Pará Terra Boa
Izete Santos Costa, conhecida como dona Nena, vive a raiz amazônica desde que nasceu, no Igarapé Piriquitaquara, área de preservação ambiental da Ilha do Combu, em Belém. Desde criança, ajuda os pais que plantavam e produziam cacau para venda na região. Hoje, aos 56 anos, é uma empreendedora referencial pela produção do famoso cacau do Combu por meio do resgate da cultura de produção do produto na comunidade.
Como hábito familiar, dona Nena e seus pais produziam o chocolate caseiro que é o cacau seco, torrado no tacho e seco no pilão com adição de açúcar. Para tentar crescer e experimentar novos sabores, a produção passou por vários testes até chegar em uma barra 100% cacau.
“Comecei vendendo as barras de chocolate 100% cacau feito no pilão na feira de orgânicos e não deu certo. Resolvi experimentar um outro método, com o moinho e acabou dando certo”, lembra dona Nena, em referência à compactação do chocolate em barra.
O trabalho ganhou notoriedade e chegou até ao chefe de cozinha Thiago Castanho, que levou a técnica da dona Nena para o seu restaurante na época, Remando do Bosque. Das trocas de conhecimento e experimentações gastronômicas, surgiu o brigadeiro da floresta e outros produtos, como os nibs de cacau e os chocolates em barra.
“O Remando foi nossa vitrine. Já recebi visita de chefes da França, da Argentina, dos Estados Unidos além de São Paulo e de outros Estados brasileiros. O meu trabalho foi crescendo nas redes sociais e em 2017 precisei criar a microempresa e começar a crescer”, lembra dona Nena. Nascia, então, a Filha do Combu, marca oficial da empreendedora.
O trabalho dela é um exemplo prático do conceito de bioeconomia, em que desenvolvimento econômico e sustentável andam de mãos dadas. Em uma produção familiar, com o compromisso de manter a tradição cultural e ancestral na produção de chocolate, a Filha do Combu vem crescendo cada vez mais.
“Vejo a floresta como recurso muito importante para o sustento da minha família e das pessoas que colaboram com a produção”, avalia dona Nena, que consegue produzir até 200 kg por mês.
Além da fabricação de doces e barras de chocolate, é possível fazer uma visita em seu quintal, colocar os pés na terra, acompanhar de perto a produção dos produtos além de saborear o chocolate 100% da Amazônia.
A ilha
A Área de Proteção Ambiental (APA) da Ilha do Combu é a quarta maior ilha do município de Belém, com área territorial de 15,972 Km², sendo margeada pelo rio Guamá ao Norte, pelo furo São Benedito ao Sul, pelo furo da Paciência a Leste e pela Baía do Guajará a Oeste.
Sua população gira em torno de 1.500 habitantes, que vivem basicamente da pesca e do extrativismo dos recursos da floresta, sobretudo o açaí, que pode ser encontrado por toda a Ilha.
Possui rica avifauna – destacando o papagaio do Mangue ou “Curica” como a ave mais comum na ilha. Pode-se encontrar também botos, cobras, bichos preguiça, além de diversas espécies de macacos de pequeno porte.
O Fórum
O Pará já é destaque na produção e exportação de vários produtos e frutos típicos da região amazônica e, agora, também tem se destacado na diversidade de recursos naturais aliada à tecnologia. Com o propósito de criar uma cadeia sustentável, a bioeconomia vem ganhando seu espaço. Em outubro, a capital paraense vai sediar o Fórum Mundial de Bioeconomia (WCBEF) nos dias 18, 19 e 20. Será a primeira vez que o evento ocorrerá fora da cidade de origem, Ruka, na Finlândia.
O fundador do Fórum, Jukka Kantola, visitou em agosto a capital para conhecer de perto o potencial da Amazônia para os negócios, como o exemplo de dona Nena.
O Fórum Mundial de Bioeconomia é um evento internacional, que reúne lideranças de vários países para debates sobre economia gerada a partir de recursos naturais com respeito à biodiversidade e comunidades locais.
A escolha histórica de Belém como sede da agenda internacional faz parte da estratégia de valorizar locais onde a bioeconomia tem potencial. O fórum terá quatro eixos temáticos: “A Bioeconomia: Pessoas, Políticas do Planeta”, “Líderes globais e o mundo financeiro”, “Bioprodutos ao nosso redor” e “Olhando para o futuro”.
Serviço
As inscrições para o Fórum Mundial de Bioeconomia já estão abertas no site oficial do evento: www.wcbef.com