O caroço do açaí tem se tornado um problema ambiental em nosso Estado, apesar de o fruto ser fonte de renda de muitos paraenses. É comum ver a triste cena de sacos de caroços espalhados pelas ruas da capital e interior, sabendo que esse produto tem várias utilidades, como propriedades farmacológicas, segundo estudo de pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); uso na construção civil com a fabricação de concreto permeável já utilizado em Belém, na fabricação de café e na geração de energia, como tem feito a fábrica de celulose Veracel, com sede na Bahia.
Segundo informa a empresa, a tecnologia usada com o caroço de açaí, além de outras fontes de energia alternativas utilizadas, gera uma energia equivale ao consumo de 178.704 habitantes. Sobre outras vantagens que esse tesouro nos presenteia, leia a seguir a entrevista com Estanislau Victor Zutautas, gerente de Recuperação Utilidades da Veracel Celulose.
Por que resolveram usar o caroço?
Primeiramente, é importante esclarecer que a Veracel utiliza os resíduos da própria produção de celulose e de outros materiais que seriam descartados como biomassa para a queima em uma das caldeiras da empresa. Esse processo mantém a empresa completamente autossuficiente na geração de energia e ainda gera negócios para a companhia, uma vez que o excedente de energia gerado é fornecido para o sistema interligado nacional. A cada ano, a Veracel se torna mais eficiente quanto à utilização de toda sua produção de madeira para a celulose, isso dá oportunidade para a empresa intensificar seus estudos em novas possibilidades de materiais que podem ser transformados em energia, contribuindo tanto para o negócio da companhia quanto para o meio ambiente.
Este processo é muito importante para a Veracel porque está diretamente ligado à sua estratégia de sustentabilidade. Além de gerar energia limpa, esta reciclagem minimiza o impacto de sua operação no meio ambiente e ainda cria oportunidades para reduzir o descarte de materiais de outras empresas da região, como a de produtores locais que vendem caroços de açaí para a Veracel e de usinas de açúcar e álcool, que fornecem o bagaço da cana de açúcar, ambos os produtos são utilizados como biomassa na caldeira da companhia.
A escolha do caroço de açaí foi realizada porque é uma biomassa compatível com as características da caldeira de força da Veracel e ainda é um elemento que existe em abundância na região, portanto, a companhia consegue gerar energia e ainda facilitar uma destinação limpa para o resíduo, além de gerar novos negócios no território. Além da compatibilidade com o processo produtivo da Veracel, o uso das biomassas alternativas está atrelado às safras e ao desenvolvimento dos produtores locais.
Além destes itens, a empresa utiliza: as cascas que não são aproveitadas para a adubagem do solo após a colheita; toda a madeira que não é aproveitada no processo de produção; os resíduos das peneiras de seleção dos cavacos; e até mesmo o lodo primário (são as fibras perdidas no processo da linha de fibras e secagem, enviadas para a estação de tratamento de efluentes). Estas fibras filtradas passam pelo processo de centrifugação e prensagem para serem queimadas na caldeira.
De onde vem o caroço e que tipo de tecnologia é empregada?
O caroço do açaí é adquirido de produtores locais de açaí. A tecnologia empregada é a de queima da biomassa na caldeira de força da empresa, do fabricante HYBEX® com leito fluidizado borbulhante.
Em 2020, a Veracel produziu aproximadamente 919.873 MWh/ano de energia, sendo que 603.811 MWh/ano foram para consumo próprio e 89.352 MWh/ano foram exportados para a rede, um total que equivale ao consumo de 178.704 habitantes.
Quais os benefícios ambientais com essa aplicação? Onde a energia é empregada?
A utilização do caroço de açaí como fonte de biomassa gera energia limpa que é utilizada pela companhia e ainda exportada de volta para a rede energética, minimiza os impactos da operação da empresa no meio ambiente e ainda contribui para que este passivo ambiental abundante na região não seja descartado, reduzindo a geração de lixo e contribuindo efetivamente para uma economia sustentável. A energia limpa contribui para a utilização de fontes renováveis. Além dos recursos utilizados estarem disponíveis para gerações futuras, a energia limpa não causa impactos como o aumento do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, não emite gases de efeito estufa e tampouco agrava o aquecimento global.
O custo foi alto?
Por serem informações estratégicas, a companhia não informa o valor de investimento da atividade, que representa a segunda fonte de receita da companhia.
Qual a diferença de qualidade da energia com a convencional?
A qualidade da energia propriamente dita é a mesma. A diferença é a forma que é gerada, consumida e consequentemente comercializada. Basicamente a “Energia Incentivada” é toda aquela proveniente de fontes alternativas que ajudam a diversificar a matriz energética brasileira, onde licor preto e biomassa estão incluídos. A energia incentivada foi criada para estimular o uso de recursos renováveis, mais limpos e com menor impacto ambiental. As fontes mais comuns são usinas eólicas, solares, de biomassa e até mesmo as chamadas PCHs, que são centrais hidrelétricas com potência inferior ou igual a 30.000 kW.
Seu nome vem dos incentivos criados pelo governo para estimular seu uso. Esses estímulos vêm na forma de descontos na transmissão da energia realizada pela concessionária, aplicados tanto para a geração quanto para o consumo. Diferente da energia convencional, gerada em grandes hidrelétricas e termelétricas.
Quais são as perspectivas futuras com emprego de biomassa?
Com esta operação consolidada de reciclagem de resíduos, a Veracel agora estuda novas fontes, como fibra do coco e cascas de cupuaçu, tanto para manter sua produção energética quanto para ampliar a reciclagem de passivos ambientais. A companhia já teve resultados bastante positivos no uso de cascas de cupuaçu e um potencial das fibras das cascas do coco e continua estudando novas alternativas que possam contribuir para a matriz energética da empresa.