O secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado do Pará (Semas), Mauro O´de Almeida, resumiu bem o que os debatedores da mesa-redonda “O que a bioeconomia significa para o Brasil e a Amazônia?” expuseram no último dia 15.
“Uma estratégia de bioeconomia sem justiça social e climática não será efetiva, não será uma estratégia de sucesso. Ou entendemos que temos mais de 20 milhões de pessoas na Amazônia que precisam ser olhadas, que precisam de renda estável e perene para sua sobrevivência, de uma estratégia que possa nos afastar dos encantos da ilegalidade, do desmatamento, da mineração, ou não teremos sucesso”, afirmou.
Como você já leu aqui neste espaço, Belém vai sediar entre os dias 18 e 21 de outubro o Fórum Mundial de Bioeconomia. Neste momento de aquecimento, faltando praticamente 1 mês para o evento, o governo tem dialogado com a sociedade para buscar um modelo de bioeconomia que leve em conta o sustento da população local, incluindo os que vivem nas cidades e nas zonas rurais, e o uso responsável das riquezas naturais da terra.
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Um das convidadas da mesa-redonda, a engenheira florestal Ana Euler reforçou a importância da educação e da melhoria em infraestrutura no Estado para que a bioeconomia decole. Para a pesquisadora, falar em bioeconomia é, antes de tudo, discutir a questão da inclusão social.
Ela acrescenta que, para isso, é preciso investimento em ciências humanas e organização das bases sociais para que o paraense se organize em coletivos, associações ou cooperativas capazes de unir forças individuais. “Significa valorizar os conhecimentos tradicionais dentro de um diálogo com a ciência para agregar valor aos produtos”, acrescentou.
Outra convidada, a economista Ana Toni, diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade, fez um convite para que a sociedade “abrace a complexidade da Amazônia”, ainda desconhecida pela maioria da população do próprio bioma. A convidada citou, por exemplo, pesquisa que já apontou que a ciência conhece apenas 6% da biodiversidade do bioma. Em segundo lugar, Ana avaliou que o sucesso de um bom plano local de bioeconomia passa por ouvir e aprender com os amazônidas, bem como investir em educação, ciência e tecnologia.
Ao mesmo tempo, Ana Toni expôs três desafios do debate atual de bioeconomia no Pará. Primeiro, que não se veja a bioeconomia como “bala de prata” redentora de todos os problemas ambientais e sociais locais. Segundo, que os encarregados de implantar uma economia à base das riquezas naturais produzidas pelo agricultor local respeitem e reconheçam a diversidade cultural da região, como seus ribeirinhos e indígenas, e, terceiro, que o Pará jamais na história volte a ser o “almoxarifado”, onde o colonizador do passado retirava o que precisava para uso privado, não coletivo.
Dentro desse entendimento amplo, a economista Camille Bendahan Bemerguy, diretora de Mudanças Climáticas, Serviços Ambientais e Bioeconomia da Semas, afirmou ao Pará Terra Boa que a “bioeconomia que o Pará quer é a da sociobiodiversidade”. O conteúdo do plano estadual está em fase de elaboração.
“Agora estamos trabalhando na construção de um plano estadual de bioeconomia que irá realizar consultas ampliadas e consultas participativas às comunidades tradicionais e demais”, informou.
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