Não nos cansamos de falar das incríveis potencialidades do fruto da nossa terra, o açaí. A boa nova vem do Rio de Janeiro por meio do Prêmio Elos da Amazônia 2021 – Edição Açaí. Trata-se de uma biorrefinaria de caroço de açaí pensada pela pesquisadora Ayla Sant’Ana, do Laboratório de Biocatálise do Instituto Nacional de Tecnologia (Labic/INT), na capital fluminense, que obteve o primeiro lugar na premiação.
A ideia é a seguinte: Ayla descobriu que o caroço de açaí tem alto conteúdo de uma substância chamada manana, geralmente encontrada em baixa quantidade na natureza, e com larga possibilidade de usos na indústria de alimentos e de cosméticos. A biorrefinaria, então, seria responsável por processar as potencialidades químicas do fruto.
“Em suma, a ideia seria fazer uma biorrefinaria, em que a partir dessa matéria-prima se consiga obter o máximo de produtos relevantes. O que sobrar, você pode queimar”, disse ela ao Pará Terra Boa.
Além da manana, um outro componente químico encontrado no fruto são as moléculas de polifenóis, um antioxidante.
“A polpa é popular pela propriedade antioxidante. E a própria semente contém muitos compostos com essas mesmas características que está indo para o lixo”, acrescenta.
Como é sabido, o descarte de caroço de açaí na natureza é como rasgar dinheiro, uma vez que se trata de um resíduo com múltiplas utilidades, com uso na construção civil, na fabricação da bebida semelhante a café e na geração de energia elétrica.
Ayla lembra que na semente de açaí, 50% da massa seca é formada por manana, enquanto a madeira de pino, por exemplo, 15%. “Não existe registro, pelo menos nós não encontramos, de nenhum outro resíduo agroindustrial abundante que tenha uma quantidade de manana tão grande disponível na natureza. Então, o que hoje é considerado lixo e está simplesmente sendo queimado, nós vemos como algo extremamente valioso, com uma composição diferenciada”, afirmou a pesquisadora ao site da Faperj.
Atualmente a manose, açúcar obtido com a decomposição da manana, já é utilizada para tratamento de infecção urinária, ainda que seus efeitos não sejam um consenso entre os pesquisadores da área médica.
Ayla destaca o potencial da manose como “molécula de partida” para a produção de outras substâncias, como o manitol, receitado a todos que fazem o exame de colonoscopia, para limpeza do intestino. De acordo com a bióloga, atualmente o processo para a produção do manitol tem como base moléculas de sacarose, com aproveitamento de 25%, mas poderia chegar a 90% com a manose.
Outra composição que chamou a atenção dos pesquisadores do Labic é a formação de açúcares que funcionam como prebióticos, ou seja, alimentam as boas bactérias presentes em nosso organismo.
O fruto de açaí é objeto de pesquisa de Ayla desde 2015. Em agosto de 2018, a equipe coordenada por ela depositou um pedido de patente do processo que levou à descoberta. E, em 2020, a revista Nature publicou um artigo da equipe sobre a pesquisa desenvolvida.
Próximo passo
O próximo passo agora é transformar o projeto de biorrefinaria em realidade. De acordo com o diretor técnico do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Carlos Gabriel Koury, a atual fase é de conexão com os investidores.
“Nós temos um canal com o polo industrial de Manaus, com empresas que têm obrigação de investimento em inovação. Tentamos facilitar essa parceria entre as partes. O momento agora é bom, com atenção do mundo voltada para a Amazônia, sobre o uso potencial desse produto. Já se sabe que o açaí é uma commodity da Amazônia. Agora é unir conhecimento, tradicional e biotecnologia e gerar esse mercado”, resumiu.
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