Com o Fórum Mundial de Bioeconomia se aproximando, na segunda-feira, 18/10, o brasileiro tem um motivo a mais para esticar a viagem de Belém até o Parque Estadual Monte Alegre (PEMA), uma Unidade de Conservação de Proteção Integral situada no município de Monte Alegre. Motivos não faltam.
Trata-se de uma preciosidade natural cênica do Estado com serras (Serra da Lua e Serra do Ererê), vales, cavidades naturais (Gruta do Pilão e Gruta Itatupaoca), além de diversos sítios arqueológicos com pinturas rupestres.
No parque, encontra-se o sítio arqueológico mais antigo da Amazônia sul-americana, com pinturas rupestres de 11.200 anos. É o primeiro com arte rupestre escavado no Estado do Pará. Tais escavações arqueológicas revelaram a presença de fogueiras, fragmentos de cerâmica e artefatos líticos de grupos humanos que viveram nesse local mais de 11 mil anos atrás.
“Todos gostam muito do passeio. É uma sintonia com a natureza. A Pedra do Mirante, por exemplo, fica a 270 m do nível do mar. Também temos a Pedra do Pilão, com uma visão linda, de onde se enxerga o Rio Amazonas, os lagos, um tesouro”, relata a guia turística Elana Porto do Nascimento.
Mas quem é esse amazônida que pintou as pedras do parque?
“O máximo que dá para saber é que eram povos indígenas, mas não podemos atribuir a nenhuma etnia. Com esse tempo de aproximadamente 12 mil anos, não se pode dizer de quem eles eram descendentes. De ossada não encontramos nada porque o solo amazônico é mais acido e não favorece a conservação de restos humanos. Na Pedra Pintada, encontramos dentes, mas em condições que não davam para obter mais informação”, conta a arqueóloga Edithe Pereira, do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Edithe possui doutorado em Geografia e História pela Universidade de Valência (Espanha). Em 2015, a pesquisadora foi nomeada cidadã de Monte Alegre, graças a sua contribuição ao município paraense.
“É vegetação de savana, tem serras e sítios arqueológicos com pinturas rupestres fantásticas. A mais importante é a da Pedra Pintada, que foi escavada pela arqueóloga norte-americana Anna Roosevelt (bisneta do presidente norte-americano Theodore Roosevelt). Através da escavação dela surgiu uma datação muito antiga. Em 2014, fizemos uma nova escavação nesse sitio, do lado oposto, e conseguimos uma datação de 12 mil anos atrás. Isso coloca Monte Alegre como um dos sítios da transição entre o pleistoceno (que começou há 2,6 milhões de anos e durou até 11,7 mil anos atrás) e holoceno (iniciado há 11,7 anos). Isso poderia ser turisticamente explorado, conscientemente, pelo governo”, sugere Edithe.
Ela conta que o Piauí tem datações mais antigas, mas que o Pará e Minas Gerais estariam na mesma linha do tempo. Edithe afirma que Monte Alegre pode ser berço do amazônida, mas ressalva que Carajás também tem pinturas bastante antigas.
Tesouros
Monte Alegre guarda vários raridades. Uma delas são os hábitos alimentares desse amazônida, que incluíam peixes pequenos, frutos e óleos de palmeiras, como murici, ou da vagem de leguminosas, como o jatobá. Também comiam animais pequenos e adoravam tartarugas, segundo contou a própria Anna Roosevelt à revista “Pesquisa Fapesp”.
Outra preciosidade do parque é um observatório solar construído pelos paleoíndios para saber em que período do ano estavam. Segundo a arqueóloga norte-americana, trata-se do mais antigo observatório solar que se conhece no planeta, datado de 13 mil anos atrás, início do período paleoíndio, grupo que permaneceu por 1 mil a 2 mil anos na região.
Segundo a guia turística Elana, é possível percorrer o parque em um dia, mas com carro 4 x 4 porque o terreno é bem arenoso. Importante é estar acompanhado de um guia porque os atrativos são distantes uns dos outros. Um lanchinho é bem-vindo durante o passeio, mas no final do trajeto Elana oferece comida aos visitantes, em sua própria casa.
“Eu sirvo o que tiver: purê de macaxeira, um peixe pirarucu, carne de sol, galinha caipira, tudo bem gostoso”, conta Elana, que é natural de Monte Alegre.
“Eu sou pinta-cuia, nascida e criada em Monte Alegre”, acrescenta Elana.
Pinta-cuia é o nome dado ao povo de Monte Alegre em referencia ao trabalho de pintar cuia que era feito pelas índias monte-alegrenses no período colonial. Com o passar do tempo, o termo assume um caráter identitária e passou a denominar as pessoas naturais do lugar.
Ecoturismo de base comunitária
A experiência no Parque Estadual Monte Alegre se torna ainda mais rica quando guiada por profissionais dedicados ao chamado ecoturismo de base comunitária. Nesse quesito, a Estação Gabiraba se destaca. Ela é uma operadora de ecoturismo que, em conjunto com comunidades locais, procura desenvolver e estabelecer um modelo alternativo de turismo que gera renda às iniciativas sociais comunitárias e valoriza as tradições e o ambiente em que elas vivem.
“O turismo é uma ferramenta muito poderosa para melhorar a qualidade de vida das pessoas que moram no lugar, com projetos de conservação. Promove muita relação com educação, com a comunidade, moradores e os visitantes. Permite um aprendizado mútuo”, resume Ana Gabriela Fontoura, diretora da Gabiraba.
Como chegar
É possível chegar até o parque a partir de Santarém, que está ligada a Belém por meio de voos comerciais diários. Partindo de Santarém, navega-se em balsas, em torno de duas horas, até o Distrito Portuário de Santana do Tapará.
De lá, prossegue-se via terrestre pela PA-255 e depois até a Linha do Ererê que dá acesso ao parque, uma distância de aproximadamente 80 km. O acesso ao parque está marcado principalmente por estradas secundárias e ramais de terrenos arenosos, o que requer veículos tracionados do tipo 4×4 para trafegá-las.
Contato de Elana: (93) 9197-1229.
Mais informações sobre o local podem ser obtidas neste link.
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