O Fórum Mundial de Bioeconomia, cuja largada ocorreu nesta manhã de segunda-feira, 18/10, em Belém, também debateu os desafios do setor financeiros no atual processo de elaboração de uma política de desenvolvimento sustentável para a Amazônia.
Para Joaquim Levy, do Banco Safra, uma das urgências é a “definição dos benefícios ambientais” para que as compensações sejam efetuadas. Segundo o ex-ministro da Fazenda, esse cálculo é fundamental para a concessão de financiamentos e precificação das políticas verdes.
“É muito importante que haja espaço para compensações de tal maneira que você possa pegar recursos do mercado regulado e transferir para o mercado da bioeconomia. Mas isso só será possível se tivermos os benefícios para medir, para que eu faça compensações”, disse Levy.
Os números do mercado financeiro que investe em ações sustentáveis são estratosféricos, o que indica uma mudança de paradigma ao longo dos últimos anos. A diretora executiva do Hoffmann Center, Ana Yan, citou pesquisa durante o evento que apontou elevação de US$ 1 trilhão para US$ 140 trilhões geridos por fundos de investimento no mundo nesse setor.
Segundo ela, há vários movimentos acontecendo ao mesmo tempo no mundo financeiro em busca da melhor forma de investir nesse verde. Eles, investidores, estão atentos ao valor dos greenwashings, mas a novidade é que o cálculo agora deve levar em conta as compensações, que é isso, recompensar quem protege e protegeu essa terra até hoje. Por isso, Ana Yan fez referência a critérios de desempenho confiáveis para quem adota práticas sustentáveis.
A representante da líder global do setor de investimentos em produtos florestais, The International Financing Corporation, Mary Lystad, foi direto ao ponto.
“O custo de não assegurar nossos investimentos em desenvolvimento sustentável é mais alto que o custo de assegurá-los”, disse ela durante o Fórum.
Mas como investidor é um sujeito ressabiado que costuma não colocar o pé em canoa furada, o ideal para eles é que o poder público sinalize ao mercado que leva a sério suas políticas ambientais, não pode haver turbulência no caminho, conforme lembrou Ana Yan.
“Quais políticas os governos precisam formular para que os investidores sejam atraídos para investimentos a longo prazo? É disso que os investidores estão atrás”, disse ela. Segundo a especialista de mercado, ainda há muitos compromissos e “poucas ações”.
O CEO do Santander, Sérgio Rial, por sua vez, diz que é preciso fazer o que o poder público tem feito pouco: se aproximar dessas cadeias de produção, fisicamente, que é o que o banco tenta fazer por meio de agências bancárias para captar as necessidades reais da gente da terra.
Dos principais obstáculos dessa arrancada lenta de investimentos nas comunidades tradicionais, o banqueiro cita a distância física real. O segundo, a capacitação técnica dos trabalhadores da terra. Por último, Rial criticou países que priorizam a autossuficiência em detrimento das interdependências.
“Existe uma tendência perversa no mundo de buscar autossuficiência. Digo isso porque a interdependência será inevitável, queiramos ou não. Que não usemos a autossuficiência como arma política contra países menores”, disse Rial.
Para se ter uma ideia do volume de dinheiro que circula no setor ambiental, para o bem e para o mal, Celso Tacla, CEO da Valmet na América Latina, lembrou que US$ 500 bilhões foram gastos com prejuízos ambientais no mundo em 2020, enquanto US$ 121 bilhões foram gastos com políticas de defesa da biodiversidade no mundo no mesmo ano, mas o necessário, segundo a ONU, são US$ 600 bilhões.
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