A prefeita de Abaetetuba (PA), Francineti Maria Rodrigues Carvalho, foi destaque do painel “Fazendo as finanças funcionarem para o financiamento climático na Amazônia: o papel dos bancos de desenvolvimento”, promovido pelo Brazil Climate Action Hub, nesta quarta-feira, 3/11, dentro da programação da 26ª Conferência do Clima da ONU, a COP26, que ocorre na Escócia até o dia 12 de novembro.
O painel discutiu a importância dos bancos de desenvolvimentos em criar fundos de investimento para uma agenda sustentável na região amazônica que se conectem com as demandas e oportunidades da população local.
Os desafios para que os recursos cheguem na ponta são vários e todas as iniciativas não serão suficientes se não forem levadas em conta as necessidades da população local e as potencialidades da região, como disse Paula Gabriel, coordenadora da Fundação Amazonas Sustentável (FAS). Daí que entre especialistas em desenvolvimento sustentável, a prefeita Francineti deu um choque de realidade com sua fala.
“Nós queremos desenvolvimento econômico, precisamos dele. Mas não um desenvolvimento econômico que venha sozinho, preocupado com a economia. Queremos um desenvolvimento que preserve o meio ambiente e cuide das pessoas. Se não, não teria razão de ser. Na Amazônia, vivem pessoas, que precisam estudar, se vestir, ter acesso à cultura, à água de qualidade, o que é uma contradição que sejamos cercados de água e ainda falta água de qualidade na Amazônia”, disse a prefeita.
Francinetti elencou as diversas potencialidades de Abaetetuba, distante 150 km de Belém, com 160 mil habitantes. Além do açaí, a cidade produz também miriti, planta usada tanto na confecção de brinquedos quanto na produção de alimentos. O município ainda conta com o maior carnaval do Pará e tem vocação para se tornar destino de turismo de aventura (com suas 72 ilhas) e turismo religioso, com festas o ano todo.
“Somos um município que muito pouco se desmata. Somos um dos maiores produtores de açaí, temos um potencial para agricultura imenso, mas precisamos de investimento pra trabalhar o manejo do açaí”, afirmou.
As dificuldades em ter acesso aos financiamentos, segundo ela, são pela falta de capacidade técnica para formular projetos, acessar editais e entender a burocracia. Por isso, a prefeita ressalta a importância de se fazer diagnósticos para entender as dificuldades e potencialidades locais.
“Eu tenho desejo de colocar energia solar nas escolas e unidades de saúde, mas é um produto caro, a manutenção é cara, e falta tecnologia”.
Paula Gabriel, neste sentido, deu um alento para todos os dirigentes preocupados com desenvolvimento sustentável, como Francineti, ao anunciar o lançamento do Amazônia pelo Clima, que a FAS ajudou a elaborar.
Basicamente é um diagnóstico para justamente atuar como apoio nos financiamentos sustentáveis paras as nove capitais da Amazônia legal. Para isso, eles precisam entender o que existe de capacidade técnica nessas regiões, fortalecê-las e assim buscar financiamento. “A gente está correndo contra o tempo. Não pode errar”, diz Paula
Nas palavras de Bianca Cantoni, da ICLEI América do Sul, o Amazônia pelo Clima vem justamente mapear as lacunas mencionadas por Francineti. “Saber por que o financiamento não está chegando ou se está chegando qual é a efetividade desse financiamento”, disse Bianca.
No estudo, segundo Paula, foram mapeados 139 atores nessas cidades, principalmente em Manaus e Belém, aptas a receberem financiamento, segundo a coordenadora do FAS. “Existem muitas coisas acontecendo também nas outras sete capitais. O projeto tem essa capacidade de colocar holofote no Amapá, Rondônia, Roraima, que fuja do eixo Manaus-Belém”.
De acordo com Paula, áreas potenciais para receber recursos são: ação climática, áreas verdes, mobilidade urbana, saneamento, energia, habitação social. “Nós mapeamos também que tipo mecanismo financeiro já existe para que essas capitais possam acessar recursos e acelerar projetos”, disse.
A coordenadora da FAS afirma que projetos como esse pode ser um exemplo de que é preciso conter o desmatamento na mesma medida em que é necessário gerar renda para a população em harmonia com a floresta.
Valdecir Tose, do Banco da Amazônia, destacou que Aliança para o Financiamento da Amazônia deseja e planeja fazer a alocação correta do capital em produtos adequados. “O objetivo é criar instrumento garantidores que possam junto com os financiadores atrair capital e chegar aos empreendedores”.
Ele falou ainda sobre a importância de as pessoas no mundo todo também passarem a valorizar os produtos que são originários da floresta preservada. “Isso vai gerar riqueza e melhorar o IDH desses municípios”.
LEIA TAMBÉM:
COP26: ‘Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática’
Pará apresenta agenda de combate ao desmatamento na COP26
COP26: Brasil declara apoio a acordo sobre florestas