O ministro da Economia, Paulo Guedes, já disse e repetiu, nesta sexta-feira, 5/11, que é preciso transformar a Amazônia numa espécie de Vale do Silício, local onde estão instaladas grandes corporações de tecnologia, nos Estados Unidos. A ideia dele não é nova, ela já afirmara o mesmo havia alguns anos, mas em referência à Zona Franca de Manaus (AM).
“A Amazônia deve ser capital mundial dos seminários executivos sobre economia verde. Há o Vale do Silício, vamos fazer a Selva do Silício”, disse Guedes, em evento que faz parte da programação do Brasil na COP26.
“Temos que vocacionar a região para isso. Tem toda uma economia verde e de baixo carbono que pode se desenvolver na região”, completou.
O titular da pasta reiterou que, para que isso ocorra, é preciso oferecer isenção de impostos a empresas de tecnologia, como a Amazon, Google e Tesla. O ministro não falou o que será preciso fazer com a população local que amarga um dos mais altos índices de pobreza do País.
A proposta de fazer da Amazônia um polo de inovação tecnológica em grande escala parte de um grupo de cientistas que, em estudo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), em 2016, defendeu que os 6,7 milhões de km² da floresta escondem matérias-primas que devem impulsionar a quarta revolução industrial.
De acordo com os autores, produtos e serviços inovadores de alto valor agregado poderiam ser criados ao unir as avançadas tecnologias digitais e biológicas –como inteligência artificial, robótica, internet das coisas, genômica, edição genética, nanotecnologias, impressão 3D– com o conhecimento tradicional da região.
O estudo foi liderado por Carlos Afonso Nobre, da Academia Nacional de Ciências dos EUA e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), e pelo empreendedor peruano Juan Carlos Castilla-Rubio, engenheiro bioquímico da Universidade de Cambridge (Reino Unido) e presidente da Space Time Ventures, empresa especializada em inovações da quarta revolução industrial.
“Conhecemos o caso de uma espuma resistente produzida por um sapo que inspirou a criação de uma nova tecnologia de captura de CO2 da atmosfera”, diz Juan Carlos Castilla-Rubio ao site “DW Brasil”.
“Talvez a proposta de explorar esse patrimônio biológico seja, de fato, a única possibilidade de conservar a Amazônia”, avaliou Nurit Bensusan, especialista em biodiversidade do Instituto Socioambiental (ISA) à publicação. “Mas é preciso muito cuidado para que haja a repartição de benefícios, para que a exploração dos recursos naturais não vire patentes nas mãos de empresas internacionais detentoras de tecnologia”, alertou.
Para Carlos Nobre, essa tal revolução impulsionada pela Amazônia tem que ser inclusiva, com participação dos povos e comunidades que vivem na Amazônia.
“E a única maneira de isso acontecer é pela qualidade da educação. E não dá para eliminar o governo: é ele que tem que garantir capacitação profissional e pesquisa básica. A revolução vai acontecer, queremos que ela traga o melhor impacto e benefício para a floresta e quem vive dela”, disse.
O paraense sabe: não dá para transformar a Amazônia, incluindo o Pará, em polo tecnológico quando o Estado figura na 24º posição do Índice de Desenvolvimento Humano do IBGE, segundo dados de 2010. O IDH é medido por meio de três indicadores: longevidade, renda e educação. Há uma escala que varia de 0 (pior resultado possível) a 1 (melhor resultado).
O Pará tem oito municípios cujos índices são considerados muito baixos, cerca de 88 municípios têm índices baixos, 44 municípios tiveram seus índices de desenvolvimento humano considerados médio, e apenas 3 municípios tiveram índices de desenvolvimento considerado alto no “Atlas do Desenvolvimento Humano 2013”: Belém, Ananindeua e Parauapebas.