Por Gisele Coutinho
O equilíbrio entre produção e preservação é uma ação urgente. Para os participantes do painel “O futuro da Amazônia: conciliando produção agropecuária e conservação da floresta”, que ocorreu nesta segunda-feira, 8/11, na Conferência do Clima da ONU (COP26), ações para que isso aconteça, na prática, devem estar totalmente conectadas com parcerias público-privadas. O diálogo foi intermediado por Marcello Brito, da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.
O objetivo da roda de conversa foi apontar que, após décadas de desenvolvimento agropecuário apoiado pelo uso predatório da floresta, o Brasil precisa mudar sua abordagem política, econômica e social para evitar o colapso dos serviços ambientais na Amazônia e a chegada ao ponto de inflexão do bioma.
“O clima está mudando e prevemos a redução de produção agrícola. Para os produtores, sabemos que serão maiores os desafios para manter a produtividade. É uma ameaça, mas essas trajetórias não são definitivas. Precisamos de financiamentos para produtores conseguirem conservar florestas e produzir”, disse Glenn Bush, economista ambientalista da Woodwell Climate Research Center.
“É preciso pagar produtores que mantêm a floresta em pé. Produtores podem oferecer serviços ambientais para receber por isso. Tem uma série de oportunidades distintas no mundo inteiro e temos acesso a diversos mecanismos para trabalhar com isso”, acrescentou o economista. A agricultura brasileira, disse, é extremamente importante na cadeia alimentar do mundo.
Acesso a dados
Além da legislação de combate ao desmatamento, governos subnacionais, como Estados e municípios, precisam de planos e projetos de restauração do bioma e de bioeconomia. “Não dá para discutir uso da terra sem falar sobre o Brasil”, disse Marcello Brito.
“Antes de falar sobre mercado de carbono, temos que falar sobre direitos da terra para pessoas indígenas ou quem não têm terra. Os governos devem oferecer acesso a dados”, pontuou Rodrigo Botero, da Fundación para la Conservación y el Desarrollo Sostenible (FCDS) da Colômbia.
Para ele, sem dados do Brasil e também de países que fazem parte da Amazônia não é possível garantir igualdade e oportunidade aos povos essenciais na preservação de terras diante de ameaças pela produção. “Informação é o ponto chave para garantir evolução para países da região amazônica”.
Justos pagam pelos pecadores
Alessandra Fajardo, líder de Relações Institucionais da Bayer para a América Latina, citou o exemplo de certificações para valorizar produtores.
“Essa balança entre produzir mais e preservar precisa estar em pleno equilíbrio. Temos que usar áreas disponíveis, recuperar áreas degradadas e aproveitar parcerias público-privadas para implementar concretamente uma agricultura sustentável no menor tempo possível”, sugeriu.
Alessandra lembrou que a carência de produtores atendidos por projetos de sustentabilidade em parceria com a Bayer era a comprovação de que eles estavam fazendo o certo:
“Tem muito produtor que faz tudo certo e ‘apanha’ por ficar no bolão de quem faz tudo errado. Eles buscam selo para mostrar que fazem tudo certo. Temos 2 mil produtores com selo nesse projeto”. Entre os objetivos, está o auxílio técnico para examinar amostras de solo.
“Em relação ao mercado de carbono, estamos tentando mensurar com produtores o acúmulo de carbono no solo principalmente em solos tropicais. Estamos levando para 2 mil produtores consultoria externa com análise de solo durante 3 anos para, a partir daí, analisarmos as recomendações com uso de práticas, plantio direto, agricultura digital, otimização de uso de soluções com foco somente em áreas que precisam. Para compensar financeiramente quem faz agricultura sustentável, para que eles continuem com essas técnicas, baseados em ciência e que pode ser escalonável”, reiterou.