Polícia Federal, Ibama e Marinha fizeram uma operação no fim de semana contra o garimpo clandestino no Rio Madeira em que destruíram 131 dragas: 69 no sábado e outras 62 no domingo, 28/11. Três pessoas foram levadas para a delegacia da PF no Amazonas com posse de ouro. Segundo as autoridades, não houve registro de violência.
Como você leu por aqui, centenas de balsas se concentraram no leito do Rio Madeira para exploração de ouro na região de Autazes, Borba, Manicoré e Nova Olinda do Norte, todos no Amazonas, na semana passada. Quando o governo decidiu demonstrar reação contra os garimpeiros diante da repercussão negativa, na sexta-feira, 26/11, várias dragas haviam se dispersado pelo local.
Ocorre que o governo federal já sabia que os garimpeiros se locomoviam até a região, cerca de um mês atrás, por meio de imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, dos EUA e da Europa, conforma revelou “O Globo” nesta segunda-feira, 29/11.
De acordo com César Diniz, coordenador do MapBiomas Mineração, é comum ver concentração de balsas do garimpo na região, mas não no volume verificado ao da semana passada.
Segundo o “Estadão”, agentes da PF devem recolher amostras de cabelo de moradores da região de Autazes para verificar, a partir de testes, a quantidade de mercúrio presente no organismo da população. O elemento químico é usado no garimpo para separação do ouro.
Munduruku
No entanto, a literatura médica já tem publicados vários trabalhos sobre a ação tóxica do mercúrio no organismo dos seres humanos que consomem pescado de águas contaminadas. A aldeia Munduruku Waro Apompu, em nosso Pará, é um exemplo dessa situação calamitosa.
Uma pesquisa feita em 2020 com 109 moradores do Alto Tapajós mostrou que 99% da população examinada tem níveis de mercúrio no sangue acima do considerado seguro pela Organização Mundial da Saúde. Algumas têm até 15 vezes acima do recomendado, conforme informou o neurologista Erik Jennings, da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
As mulheres em idade fértil são bastante vulneráveis porque, quando grávidas, o mercúrio afeta o sistema neurológico do feto. Daí, quando a criança nasce, já chega ao mundo contaminada, apresentando problemas no coração, tireóide e no sistema imunológico. A estimativa é de que os garimpos ilegais despejem no Rio Tapajós, por ano, 7 milhões de toneladas de sedimentos, sendo a maior parte de mercúrio, de acordo com o site “Repórter Brasil”.
Outra pesquisa, feita pela Fiocruz e WWF, no médio rio Tapajós, nos municípios de Itaituba e Trairão, mostrou que o povo indígena Munduruku está sofrendo com o impacto do mercúrio usado largamente em atividade de garimpo.
De cada 10 participantes, 6 apresentaram níveis de mercúrio acima de limites seguros: cerca de 57,9% dos participantes apresentaram níveis de mercúrio acima de 6µg.g-1 – que é o limite máximo de segurança estabelecido por agências de saúde. Cerca de 15,8% das crianças apresentaram problemas nos testes de neurodesenvolvimento.
Também foram capturados 88 exemplares de peixes, pertencentes a 18 espécies distintas: todos estavam contaminados. A partir daí, o estudo descobriu que as doses de ingestão diária de mercúrio estimadas para os participantes, de acordo com 5 espécies de peixes piscívoros amostrados, foram 4 a 18 vezes superiores aos limites seguros preconizados pela Agência de Proteção Ambiental Norte-Americana (EPA).
Danos variados
Se você come diariamente, duas ou três vezes, peixe contaminado pelo mercúrio, o corpo não tem tempo de eliminar, e ele vai acumulando. Nisso, ele vai provocando lesões em órgãos, principalmente no cérebro, rins, fígado, e no coração.
Dentre as alterações nos órgãos de sentido mais comuns estão: diminuição da sensibilidade nas mãos e pés, deficiência na sensação de calor ou frio, zumbido no ouvido, paladar com gosto metálico, olfato prejudicado e a visão começa a tubular.
Há evidências científicas de que o mercúrio prejudica diretamente os peixes, principalmente atrapalhando na reprodução, causando mortalidade precoce, deformações e tumores.
O jornal “Folha de S.Paulo” lembrou ainda que os escritórios do IBAMA e do ICMBio que existiam em Humaitá, à beira do Madeira, foram destruídos há quatro anos por uma revolta de garimpeiros feita em retaliação à destruição de 31 balsas de garimpeiros ilegais. Depois disso, os fiscais dos dois órgãos foram transferidos e a região do Madeira passou estes anos sem fiscalização permanente.
O ministro da Justiça, Anderson Torres, comemorou a operação nas redes sociais.
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Fonte: Com WWF, Repórter Brasil e Portal Amazônia