Análise recente de 40 projetos de plantio de árvores nativas brasileiras, em quatro dos seis biomas brasileiros, apontou retorno de investimento médio de 15,8%, alcançando até 28,4%. Juntos, eles ocupam mais de 12 mil hectares em oito Estados. O Pará contribuiu com 5 dos 40 casos pesquisados.
Além da melhora nas contas, o estudo constatou também que modelos produtivos com espécies nativas podem retirar de 6,7 a 12,5 toneladas de dióxido de carbono equivalente da atmosfera por hectare ao ano. Eles também reduzem a erosão do solo, melhorando a qualidade da água que chega aos rios e reservatórios.
Liderado pelo Força-Tarefa Silvicultura de Espécies Nativas da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, com apoio e coordenação do WRI Brasil, o estudo divulgado nesta quarta-feira, 1/12, avaliou os 40 casos implementados ou apoiados por 30 diferentes agentes econômicos – desde agricultores familiares a parcerias com finalidade experimental, bem como empresas rurais.
A análise se concentrou em três diferentes modelos que possibilitam o cultivo de árvores nativas brasileiras: a silvicultura de espécies nativas, os sistemas agroflorestais (SAF) e o sistema integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Ao todo, os 40 casos avaliados cultivam mais de 100 espécies florestais e agrícolas, entre nativas e exóticas.
No Pará
Uma dessas iniciativas é o cultivo de algodão em SAF, desenvolvida pela reNature em conjunto com a Farfarm e produtores locais do município de Santa Bárbara do Pará. O modelo permite que as famílias optem por adicionar coprodutos em seus sistemas, como mandioca, maracujá e moringa.
Em Novo Repartimento, está outro caso de SAF, desta vez com cacau. A bananeira serve de sombreamento provisório e cobertura do solo para favorecer o crescimento inicial das demais espécies. Junto à mandioca, ela é plantada de 4 a 6 meses antes do plantio das mudas de cacau e das árvores nativas. Além de melhorar significativamente o balanço de carbono das propriedades, a produção de amêndoas, vendidas às grandes processadoras e mercados de chocolate premium, aumenta a renda dos produtores familiares.
Outro caso avaliado pelo estudo é da Amata, empresa brasileira que nasceu com o propósito de manter as florestas em pé. Ela é responsável pelo cultivo de 3.991 hectares de paricá, que está entre as espécies florestais nativas mais plantadas no Brasil. Ele tem grande potencial pelo seu rápido crescimento e utilização na indústria de base florestal. A madeira do paricá tem densidade de 0,311 g/cm3 e é usada na indústria de madeira compensada, vendida na forma de compensados de alto valor agregado e de laminados, no Sul do Brasil.
O Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (SAFTA) da CAMTA (Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu) também foi avaliado. A sustentabilidade do SAFTA resulta na permanência de diversas culturas, que geram renda numa determinada área, formando uma cadeia sucessiva de produção em curto, médio e longo prazos. Tem como culturas prioritárias o cacau, o açaí e a andiroba, de onde é extraído um óleo valioso para a indústria de cosméticos.
Em São Félix do Xingu, a organização The Nature Conservancy (TNC) tem um projeto de cacau e açaí em SAF na agricultura familiar da região, criando um modelo de reflorestamento econômico e social para a Amazônia brasileira. A área plantada, de 312 hectares, permite a introdução de culturas agrícolas anuais para subsistência familiar e comercialização do excedente. O milho e a mandioca permanecem no sistema até o primeiro ano, e a banana até o sétimo. As espécies madeireiras são plantadas para a colheita de sementes e frutos.
“Há um enorme potencial para os produtos florestais brasileiros nas cadeias produtivas nacionais e globais. No caso do mercado de madeira tropical, por exemplo, menos de 10% da produção mundial tem origem no Brasil”, afirma Miguel Calmon, líder da Força-Tarefa Silvicultura de Espécies Nativas da Coalizão Brasil.
“O Brasil tem mais de 90 milhões de hectares de pastagem com algum nível de degradação. Desse total, mais de 40 milhões encontram-se em estado severo. O que este estudo mostra é que essa imensa fronteira que exige restauração pode ser uma oportunidade rentável de investimento para o produtor”, destaca Daniel Soares, analista de investimento do WRI Brasil e um dos autores do estudo.
Os resultados
A avaliação econômica dos 40 projetos mostrou que as taxas internas de retorno (TIR) dos investimentos variam de 2,5% a 28,4% ao ano, com mediana de 15,8%. Com exceção de dois casos, todos os resultados mostram TIR superior a 9% – percentual competitivo na comparação com outras atividades agropecuárias.
A rentabilidade para o produtor é também um indicativo de que o Brasil tem uma grande oportunidade de gerar emprego e renda se aumentar e der escala a atividades de silvicultura de espécies nativas na produção de madeira, óleos vegetais, alimentos como castanhas, frutas e diversos outros produtos florestais.
Além da taxa de retorno do investimento, o produtor ainda se beneficia dos serviços ambientais oferecidos pelas espécies nativas, tais como melhora dos recursos hídricos e aumento da resiliência e produtividade de outras atividades que podem ser consorciadas com as árvores. A remoção de carbono da atmosfera, por sua vez, é um benefício para todo o planeta, mas também pode contribuir com o fluxo de caixa do produtor, já que oportunidades no mercado de carbono vêm ganhando impulso mundialmente.
Metodologia
A análise dos 40 casos de produção envolvendo árvores nativas brasileiras foi feita com a Ferramenta de Investimento Verena, do WRI Brasil, com base em um modelo financeiro de fluxo de caixa descontado. As informações para compor os modelos financeiros foram fornecidas pelos executores e parceiros dos casos.
As principais informações para fazer a análise econômica e financeira foram a produtividade esperada para cada espécie, os custos de implementação e manutenção e as despesas administrativas. O custo de oportunidade da terra foi baseado no valor da terra, em reais por hectare, referente ao uso e ao município mais próximos ao caso.
A avaliação um a um dos casos mostrou que o investimento necessário e o retorno variam entre os modelos. A silvicultura de nativas, em geral, requer maior exposição de caixa e um período maior para que o investimento cumpra o retorno esperado. Os SAFs e sistemas ILPF, os quais incluem culturas agrícolas ou pecuária, permitem antecipar a entrada de caixa.
Para a análise de carbono, utilizou-se o GHG Protocol Florestas e Sistemas Agroflorestais. A silvicultura de nativas mostrou potencial para retirar 12,5 toneladas de dióxido de carbono equivalente da atmosfera por hectare ao ano (tCO2eq/ha/ano). Os sistemas agroflorestais, por sua vez, mostraram potencial de remover 6,7 tCO2eq/ha/ano. O estudo não quantificou a remoção de carbono dos sistemas ILPF.
Fonte: Coalizão Brasil e WRI Brasil