Se os produtores de soja passassem a investir em policultura de frutas e produtos hortícolas, sua renda mais que triplicaria, segundo estudo realizado pela pesquisadora da Universidade Federal do Pará e Embrapa Amazônia Oriental, Joice Ferreira, em parceria com a cientista Rachel Garrett, da Universidade de Boston. Para aqueles que desistissem da carne bovina em favor das frutas, sua renda por hectare poderia aumentar em mais de 13 vezes.
As pesquisadoras chegaram ao cálculo de que as fazendas ganhavam com gado de corte apenas US$ 250 por hectare, o que significa que a renda familiar em uma fazenda média de 30 hectares era de apenas US$ 8.500 por ano.
A soja, uma das principais safras de exportação do Brasil, teve um desempenho quatro vezes melhor, rendendo aos agricultores cerca de US$ 1.000 por hectare.
Para ajudar a explorar as oportunidades fora da soja e pecuária, as pesquisadoras investigaram então os rendimentos, a demanda de mercado e as possibilidades de receita, por hectare, de 35 espécies agroflorestais importantes e as compararam. De acordo com os dados, 94% das espécies pesquisadas superaram financeiramente o gado por hectare e, 83%, a soja por hectare.
A atividade que gerou a maior renda por unidade de terra foi a produção de frutas e horticultura, que rendeu cerca de US$ 3.300 por hectare – 12 vezes mais do que o ganho pelos fazendeiros. Hoje, menos de 1% das terras na região de estudo é dedicado ao cultivo de frutas e vegetais.
Liderança
A acerola, segundo o estudo, é a fruta da cesta que mais ganho traz ao produtor. Rende de US$ 10.800 a US$ 37 mil por hectare, por ano. A fruta é largamente produzida no Nordeste, com destaque para Bahia, Ceará, Paraíba e Pernambuco.
Deixando de lado o fenômeno da acerola e voltando os olhos para a produção da horta paraense, o cupuaçu é o segundo destaque da pesquisa, com ganho por ano, por hectare, de US$ 17.215 a US$ 30.375.
No Pará, as plantações estão concentradas em Castanhal e Tomé-Açu, cidades que se destacam com polos de produção e industrialização do fruto.
O cupuaçu é uma fruta bastante apreciada pelo paraense e tem ganhado atenção nacional para o uso além do culinário, sendo matéria-prima na fabricação de fármacos e cosméticos, conforme explica o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Rafael Moyses Alves.
“Temos picos de produtividade, mas não temos escala e organização que dê segurança à industrialização do produto. Por outro lado, o cupuaçu apresenta grande potencialidade como matéria-prima para diversos ativos de bioeconomia e com isso, renda e desenvolvimento local em bases sustentáveis”, afirma o pesquisador.
Acesse o estudo aqui.
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