Boa notícia para os castanheiros do Pará. Cientistas da Embrapa e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) estão fazendo o sequenciamento genético da castanheira (Bertholletia excelsa), árvore ícone da floresta Amazônica não só por seu tamanho e exuberância, mas por sua importância social, econômica e como espécie-chave para a conservação das florestas. O estudo inédito, publicado nesta terça-feira, 25/01, já produziu informações genômicas importantes e uma de suas maiores contribuições estará na aceleração do melhoramento genético da espécie.
Como se trata de uma árvore de longo período de vida, com o melhoramento genético clássico, seriam necessários cerca de 50 a 200 anos para que fosse feita uma avaliação dos ciclos completos e a seleção das melhores plantas para a obtenção de características desejadas. Isso porque o pesquisador tem de estudar o comportamento de diferentes plantas em diversos ambientes e situações ao longo de todo o seu ciclo de vida para obter as respostas desejadas.
No entanto, por meio de sequências genômicas e da bioinformática, utilizando banco de genes disponíveis para outras plantas, será possível encontrar genes que indicam características importantes, como tolerância à seca, resistência a patógenos ou compatibilidade reprodutiva, por exemplo. Desse modo, plantas com melhor perfil são selecionadas rapidamente, por meio de uma análise genética.
Outro fator importante é que a castanheira é uma espécie que apresenta incompatibilidade genética, ou seja, há indivíduos na espécie que não conseguem se reproduzir entre si e produzir frutos. Isso torna a identificação de plantas que sejam ou não compatíveis fundamental.
E o trabalho de sequenciamento já contribui nesse desafio, pois o genoma referência da castanheira revelou a presença de genes de incompatibilidade reprodutiva, trazendo oportunidades para uso de ferramentas genômicas no melhoramento, plantio e conservação da espécie. O reconhecimento dos determinantes de compatibilidade genética entre indivíduos pode facilitar a seleção de matrizes a serem utilizadas em programas de melhoramento e contribuir para o aumento da produtividade de castanhais.
Por meio do DNA de uma muda de castanheira, será possível identificar o grupo genético ao qual a muda pertence, direcionamento assim a escolha dos indivíduos a serem utilizados em plantios comerciais.
“Além disso, outros genes de interesse podem ser identificados, favorecendo a seleção das melhores plantas ainda na fase de viveiro e ganhar muitos anos de pesquisa no programa de melhoramento, oferecendo resultados seguros e muito mais rápidos,” exemplifica a pesquisadora da Embrapa Rondônia, Lúcia Wadt.
Outro ponto interessante é que a seleção natural para a adaptação das castanheiras em cada ambiente deixa marcas no genoma da planta, assim como o estudo dessas marcas é importante tanto para a conservação da espécie nas florestas como também para a seleção de árvores em programas de melhoramento genético para potencializar a produção de frutos. Essa pesquisa é conduzida pela Embrapa em parceria com a UFSCar, por meio do projeto EcogenCast. O trabalho teve início em 2016 e está em andamento.
Além da identificação de genes de interesse agronômico, os cientistas também querem entender a influência do meio ambiente na estruturação da variabilidade genética em castanhais nativos. Espera-se com isso subsidiar estratégias de conservação, com base na história evolutiva da espécie, sua distribuição geográfica atual e futura.
“O estudo também busca identificar as regiões onde populações de castanheira podem ser mais vulneráveis às mudanças climáticas, e por extensão, refletem a vulnerabilidade de diversas outras espécies que ocorrem em associação com a castanheira”, complementa a pesquisadora da UFSCar, Karina Martins.
Diversidade genética varia conforme a região
Segundo os pesquisadores, em uma análise inicial realizada com 30 populações distribuídas em toda a Amazônia brasileira, foi possível observar que os castanhais nativos explorados apresentam diversidade genética, mas com diferenças entre as regiões. Isso significa que a conservação da diversidade da espécie depende da manutenção dos castanhais nas diversas regiões onde ela ocorre.
“Resultados desse tipo de pesquisa podem ser úteis para a definição de áreas prioritárias para conservação genética da espécie, bem como recomendar populações chave para coleta de material genético a ser utilizado no programa de melhoramento da castanheira”, comenta Wadt.
Além desses aspectos de conservação e melhoramento, o estudo contribuirá para modelar os impactos de mudanças climáticas globais sobre as florestas, podendo auxiliar na definição de ações para combater as alterações climáticas e os seus impactos, contribuindo com 13 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que fazem parte da agenda mundial adotada pelas Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável.
Fonte: Embrapa Rondônia