Por Aline Miranda, Emater-PA
Por trás de cada peça exclusiva de artesanato, existe a história única de um artesão e a história coletiva de uma comunidade.
Quando alguém compra uma boneca de pano, um vaso de cerâmica ou um biquini de crochê, está levando junto, também, a emoção da existência de quem produziu.
“Artesanato não é nunca só estética ou utilitarismo. É um registro étnico, um meio de transmissão do conhecimento de um povo”, diz Rosenildo da Conceição, 40, morador de Marituba, na Região Metropolitana de Belém (RMB), que confecciona biojóias a partir de sementes beneficiadas de açaí e muruci.
Atendido pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) há cerca de dois anos, ele é um dos expositores da 8º Feira da Agricultura Familiar do município, que ocorreu nesta sexta-feira, 28/01, na Praça Matriz, no KM 12 da BR-316.
Com apoio da Emater, o evento foi organizado pela Prefeitura e Secretaria Estadual de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap).
Feira
Pela Emater, ERAM quatro barracas somente de artesanato, com a presença de quatro artesãos. Os produtos tendem a preços em torno de 20% mais baixos, em comparação a lojas convencionais de Belém.
“O artesanato é uma das cadeias produtivas incentivadas pela Emater no contexto das políticas públicas da agricultura familiar, por uma série de questões: valorização e salvaguarda de símbolos amazônicos, aproveitamento e reciclagem de resíduos, capacitação de mão-de-obra e geração de renda, entre outras”, especifica a administradora Sandra Filgueiras, do escritório da Emater em Marituba.
A nutricionista Ana Carolina Leão, residente no bairro de Nazaré, em Belém, é uma consumidora voraz de artesanato.
“Pra mim é totalmente diferente comprar um negócio industrializado e um negócio feito a mão, cheio de carinho. Quando viajo, só compro artesanato, porque me sinto trazendo punhados de céu e terra daquele lugar”, orgulha-se.
Uma história
O ateliê de Rosenildo da Conceição é em cima da cama que ele divide com a companheira, Ariana do Vale, 35, autônoma.
Morador do bairro Santa Lúcia II, ele aproveita o conhecimento herdado dos pais, agricultores, para pesquisar matéria-prima. Sua especialidade são biojóias de sementes de açaí e muruci e a inspiração vem de rituais indígenas, os quais ele estuda por conta própria.
Turismólogo por formação e proprietário de uma pequena agência de turismo sustentável e de uma loja de revenda de artesanato indígena, Rosenildo monta brincos, colares e pulseiras. A melhor assistente do mundo, a filha Clara Marion, de 7 anos, vai experimentando a beleza das invenções, tal qual uma modelo de passarela.
“Marituba desperta minha imaginação porque penso que é possível assinarmos uma artesanato típico. Vejo, por exemplo, as árvores de muruci nos quintais, tão comuns, que estão desaparecendo, uma semente que usamos muito em artesanato”, conta.
Para o sociólogo Elielson Farias, chefe da Emater em Marituba, o processo de reidentificação pode ser facilitado: “A reorganização social, como associações e cooperativas, fortalecimento da agricultura familiar em si, diagnósticos e levantamentos, são metodologias do dia a dia da extensão rural que resgatam regionalismos válidos”, explica.
O gestor reforça a importância de feiras, como vitrines para a sociedade.
“É uma oportunidade de ver e ser visto”, resume.