Por Gisele Coutinho
O amor pela cozinha paraense corre no sangue da família Martins, em Belém. Por isso, divulgar os ingredientes que ajudaram a construir a identidade dessa culinária tão rica e ao mesmo tempo tão desconhecida do restante do País sempre foi uma de suas missões prediletas.
Desde os tempos do pequeno e renomado restaurante “Lá em Casa”, em Belém, até os dias atuais, passando pelo célebre festival “Ver-o-peso Cozinha Paraense”, que ocorreu de forma ininterrupta entre 2000 e 2019, são três gerações se dedicando ao cumprimento desse grande objetivo, personificado agora na figura de Joanna Martins, co-fundadora da empresa Manioca, com sede na capital paraense.
Inspirada pelo amor dos pais e avós pelos produtos típicos da região, lembrando das caixas de isopor carregadas de iguarias que eram despachadas para os grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, Joanna uniu-se em 2014 ao sócio Paulo Reis com o objetivo de encontrar parceiros que produzissem, cultivassem ou coletassem esses ingredientes típicos, ou que tivessem receitas exclusivas em que se fizessem presentes, para conquistar mercados focados no público apreciador da boa mesa.
E é aqui que o primeiro grande objetivo dos Martins se conecta com um segundo, mas não menos importante: promover o aumento de renda e a valorização do trabalho dos pequenos produtores da região.
“A gente acredita que tornar a culinária amazônica conhecida no Brasil e no mundo é uma grande, porém deliciosa missão. Mostrar ao mundo que nossos itens merecem atenção por serem únicos e carregarem muito de nossa cultura, é proporcionar aos nossos fornecedores, pequenos produtores e microempresários locais, o reconhecimento e o valor que merecem”, diz a gerente de marketing da Manioca, Mariane Bandeira, ao Pará Terra Boa, na terça-feira, 01/02.
Mais que isso, a empresa respeita as necessidades de cada família fornecedora, cada extrativista, sem impor uma regra geral para todos. Com esse intuito, foi criado em 2017 um programa de desenvolvimento de fornecedores, que busca contribuir para que cada um se reconheça como negociante e se sinta respeitado e motivado. Entre os benefícios para essa rede de fornecedores estão dar condições para que as crianças das famílias estejam devidamente matriculadas em escolas e orientações para que os adultos possam investir e garantir melhores condições para o futuro após a aposentadoria.
Parte do todo
Entre os produtos, encontram-se itens bastante conhecidos, como o tucupi e a farinha de tapioca granulada, e outros inovadores, como a granola de tapioca, as geleias de pimenta de cheiro, priprioca e taperebá.
“A cultura alimentar se desenvolve e se transforma no dia a dia através da criatividade e da busca por novas possibilidades a partir de um ingrediente conhecido. É assim que a Manioca estimula sua rede de fornecedores a apresentar novas ideias. Queremos que os mais diversos perfis de sabores sejam idealizados através do uso dos nossos ingredientes locais. Queremos vê-los sendo conhecidos em todo o Brasil porque o Norte precisa ser visto como parte, de fato, do País, não como uma região isolada ou mitificada”, diz Mariane.
Ainda de acordo com ela, o carro-chefe da marca é o tucupi amarelo, já bastante conhecido do público brasileiro, seguido de perto pela granola, composta de farinha de tapioca, nibs de cacau, castanha-do-Brasil, cupuaçu e cumaru – todos com origem em pequenos negócios familiares que prezam por práticas sustentáveis em sua produção, cultivo ou extração.
Popularizar
Ao olhar para os anos iniciais da Manioca, era possível perceber que havia um interesse genuíno pelos produtos, mas apenas entre chefs de cozinha e um público consumidor muito especializado no nicho gastronômico.
Hoje, no entanto, eles já podem ser encontrados em lojas físicas de supermercados em quase todas as capitais do País e em shoppings com penetração em todo o território nacional, proporcionando acesso a todo o público brasileiro às delícias oferecidas pela empresa.
Segundo Mariane, o momento agora é de intensificar a busca por parceiros no varejo em cidades importantes para além das capitais, com foco no público em geral, e não apenas no nicho de aficionados por culinária.
Produtos como granola de tapioca, molhos de pimenta ou feijão-manteiguinha podem tranquilamente compor o dia a dia de qualquer pessoa pelo País afora, pois são perfis de sabores próximos aos habituais em muitas das regiões brasileiras.
Prêmio na França
Prova disso são os resultados que a Manioca vem obtendo nos últimos dois anos, em que mesmo com o cenário adverso trazido pela pandemia do novo coronavírus, as vendas crescem constantemente, chegando hoje a registrar o dobro do volume obtido em 2019, por exemplo, segundo conta Mariane.
Em se tratando de mercado externo, a empresa já está presente nos Estados Unidos, Japão e Europa. No velho continente, quem está por trás das ações comerciais e de divulgação da marca é a empresa Ybá – Du Brèsil au Monde, pelas mãos da brasileira Thaís Santos.
“Nós, do Ybá – Du Brésil Au Monde, nos sentimos honrados em apresentar ingredientes emblemáticos e ancestrais da Amazônia na França e em toda a Europa. Como resultado do nosso trabalho em conjunto, o Tucupi da Manioca ganhou o prêmio de produto inovação no SIRAH Innovation Awards, prêmio organizado por uma das maiores feiras profissionais do setor gastronômico em Lyon na França. Isso ajuda a abrir muitas portas num mercado tão exigente quanto o gastronômico no continente europeu”, diz Thaís.
Ela conta ainda que se sente orgulhosa por estar, mesmo que indiretamente, colaborando com o cenário socioeconômico da região ao promover produtos como os da Manioca.