Dados do sistema DETER, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados na sexta-feira, 11/02, reafirmam que o desmatamento na maior floresta tropical do planeta está fora de controle. Entre os dias 1 e 31 de janeiro, os alertas apontam para um total de 430 km² desmatados. Isso representa um aumento de mais de 418% em relação a janeiro de 2021, ainda que este ano tenha chovido mais na região.
Foi também a maior área com alertas para o mês desde 2016, quando foram iniciadas as medições do Deter-B. A novidade é que o Estado que mais teve áreas sob alerta não foi o Pará – “líder” do desmatamento –, mas o vizinho Mato Grosso, com 147 km² de área sob alerta. Em seguida veio Rondônia, com 116 km², seguida, então, do Pará, com 67 km².
“Os estímulos para o desmatamento têm sido tão evidentes que mesmo em janeiro, quando o desmatamento costuma ser mais baixo por conta do período chuvoso na região amazônica, a destruição disparou. De fato, esse é um momento de ouro para quem desmata e/ou rouba terras públicas, já que existe uma falta proposital de fiscalização ambiental e expectativa de alteração na legislação para regularizar a invasão de terras públicas”, afirma Cristiane Mazzetti, da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil.
Segundo análise do Greenpeace Brasil, 22,5% da área com alertas de desmatamento entre 1 e 21 de janeiro deste ano se concentrou nas florestas públicas não destinadas, alvo frequente de grilagem de terras. Ao mesmo tempo, o Senado discute duas propostas preocupantes (PL 2.633/20 e PL 510/21) que visam regularizar a grilagem de terras.
A floresta e o clima
O desmatamento no Brasil é prejudicial ao clima e à economia brasileira. “Quanto mais desmatamento, maior é a contribuição do País com a ocorrência de extremos climáticos, a exemplo das fortes chuvas que afetam drasticamente as vidas de milhares de brasileiros. Além disso, o descaso do governo com as florestas e com o clima, estampados nos dados de janeiro, vão na contramão de sinalizações que mercados consumidores e entidades internacionais têm dado, exigindo cada vez mais o controle do desmatamento”, complementa Mazzetti.
Em relatório publicado pelo IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) em 2021, os pesquisadores ressaltaram ser inequívoca a influência humana sobre o superaquecimento do planeta. Entre 2011 e 2020, a média da temperatura global já atingiu 1.09°C acima dos níveis pré-industriais. De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), iniciativa do Observatório do Clima, 46% das emissões brasileiras de gases do efeito estufa em 2020 vieram da mudança do uso do solo – desmatamento.
Os efeitos das mudanças climáticas já podem ser sentidos em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, onde o ano de 2022 começou com tragédias provocadas por chuvas com níveis além do normal em várias partes do País. Além da maior ocorrência de precipitações torrenciais, ondas de calor extremo, como a que atinge o sul do Brasil, Argentina e Uruguai há algumas semanas, também são reflexos desse quadro.
O IPCC aponta que temperaturas extremas podem ser até nove vezes mais frequentes já na próxima década. Ou seja:não há nada de “normal” no que estamos vivendo.
Os níveis de desmatamento do Brasil também colocam o País em uma posição cada vez mais difícil diante da comunidade internacional. A União Europeia, por exemplo, tem discutido uma legislação que proíbe a importação de produtos oriundos de áreas desmatadas, ao passo que a falta de medidas para conter o desmatamento pode ser utilizada para barrar a entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Fonte: Greenpeace Brasil