Se você derrubar todas as árvores do seu quintal, sua terra valerá 25% menos se estiver localizada na Amazônia Legal ou na região chamada de Matopiba (que compreende os Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Se sua terrinha estiver em outras partes do País, a desvalorização da terra por causa da derrubada das espécies pode ser de 5%.
Em reais, a desvalorização da terra brasileira por causa do desmatamento chegou a um total de R$ 136,7 bilhões (5% do valor da terra) em 2017, o equivalente a uma redução média de R$ 391 por hectare. Já nos municípios onde houve registro de expansão da fronteira agropecuária, situados predominante na Amazônia Legal e Matopiba, a desvalorização chegou a R$ 83,5 bilhões (25% do valor da terra em 2017), o equivalente a uma redução média de preço de R$ 985 por hectare.
Em nosso Pará, o preço do hectare de terra em São Félix do Xingu – município com maior depreciação – foi de R$ 2.476 em 2017. Sem o desmatamento dos anos anteriores, o preço teria chegado a R$ 6.606,00 por hectare, uma perda gigantesca.
Apesar do efeito geral de depreciação do preço da terra, os maiores valores observados estão concentrados em poucos municípios e produtores. 61 municípios (1,15%) acumularam metade (50%) da depreciação total da terra no País.
Os dados fazem parte do estudo “Como o Agro se beneficia do desmatamento? ”, idealizado pelo Instituto Escolhas e divulgado na quinta-feira, 17/02, que analisou esse mercado com dados de 2011 a 2014, mas com reflexos em 2017. A desvalorização das propriedades rurais, como um todo, atingiu 93,5% dos municípios brasileiros.
Para a gerente de Portfólio do Instituto Escolhas, Jaqueline Ferreira, o estudo comprova que “o desmatamento ocorrido na fronteira agrícola, na Amazônia e no Cerrado, deprecia o preço de terras do País como um todo, funcionando como uma espécie de subsídio ou desconto para aqueles produtores que têm como estratégia a incorporação de novas áreas para o aumento da produção. Já os produtores que apostam no aumento da produtividade de suas áreas, saem perdendo com o desmatamento, uma vez que têm o preço suas terras depreciadas”.
Ao mostrar que poucos ganham muito com a depreciação do preço da terra, o estudo traz mais uma evidência de que o desmatamento prejudica o setor.
“Ainda assim, a maior parte do agro se esquiva de adotar medidas concretas para se desvincular do desmatamento, como a rastreabilidade de todos os fornecedores das cadeias produtivas ou o registro e georreferenciamento das propriedades. Ou, ainda mais grave, é comum ver lideranças do setor defendendo ou tolerando silenciosamente o desmonte da legislação ambiental e a rotina de atos de regularização fundiária que premiam quem desmata”, diz Jaqueline Ferreira.
Impacto em produtos
O desmatamento também impactou os preços dos produtos agropecuários. No caso da soja, foi observada uma desvalorização total de R$ 6,67 bilhões do valor bruto de produção do País em 2017, com a redução de R$ 3,1 (-4,5%) no preço médio da saca de 60 kg.
“O estudo também mostra que o impacto negativo no valor do preço da terra causado por desmatamento é inferior ao impacto positivo causado por outros fatores, como acesso a infraestrutura, orientação técnica e características biofísicas da terra. O que só reforça a importância de se investir em fatores de produtividade e, ao mesmo tempo, promover o fim do desmatamento” afirma Jaqueline.
O estudo
O valor de mercado de um pedaço de terra é influenciado por diversos fatores, como a infraestrutura, a proximidade de cidades, passando por disponibilidade de água para irrigação e o acesso a orientação técnica.
A partir do desenvolvimento de modelagens espacial e econométrica inéditas – que utilizou dados sobre o preço da terra, a agropecuária e a mudança de uso da terra no país entre os períodos de 2006 a 2017 – o estudo isolou o desmatamento e a consequente incorporação de terras para uso agropecuário dos demais fatores que influenciam o preço da terra. Com isso, foi possível observar o seu efeito no preço da terra e dos produtos agrícolas.
O estudo, idealizado e coordenado pelo Instituto Escolhas, foi executado por uma equipe interdisciplinar de pesquisadores da Esalq/USP, formada por Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho, Gerd Sparovek, Adauto Brasilino Rocha Junior, Alberto Barreto, Arthur Fendrich e Giovani William Gianetti.
Clique aqui para acessar o sumário executivo – “Como o Agro se beneficia do desmatamento?”
Fonte: Instituto Escolhas