Por Sidney Alves
Já ouvir dizer que, no Brasil, não é necessário derrubar nenhuma árvore para expandir a produção agrícola ou pecuária porque a solução seria restaurar o volume gigantesco de áreas degradadas no País? Pois é, o Pará Terra Boa ouviu o pesquisador Fernando Elias, membro da Rede Amazônia Sustentável e bolsista da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), sobre o assunto por causa de uma pesquisa dele publicada na importante revista científica europeia ‘Forest Ecology and Management’.
O estudo fala da recuperação de carbono e biodiversidade em florestas secundárias, ou seja, áreas desmatadas e que foram recuperadas naturalmente, depois de terem sido abandonadas. As áreas estudadas sofreram o corte total para a implementação de pastagens ou agricultura itinerante.
“Atualmente, (as áreas estudadas) estão em processo de regeneração natural pós-abandono, um tipo de restauração florestal passiva. A recuperação nessas áreas ainda está em curso. Em nosso artigo, avaliamos as taxas de acúmulo de carbono dessas florestas e estabelecemos parâmetros de recuperação desse componente nas diferentes regiões”, afirma.
A pesquisa demonstrou que a recuperação de carbono varia de acordo com a área. Como temos dito aqui neste espaço, o carbono ajuda a diminuir consideravelmente a quantidade de CO2 na atmosfera, gás que aumenta a temperatura da Terra: cada hectare de floresta em desenvolvimento é capaz de absorver de 150 a 200 toneladas de carbono. É por isso que o desmatamento é um grande inimigo do sequestro de carbono, já que o corte de árvores promove a liberação do CO2 capturado pelas plantas.
“Nesse estudo, demonstramos que a recuperação do carbono é variável dependendo da região paraense, com maior ou menor taxa de acúmulo. Essas diferenças entre regiões estão ligadas às variações ambientais entre elas, a exemplo do número de ciclos de uso, histórico de uso da terra, proximidade com florestas primárias remanescentes, qualidade do banco de sementes, dentre outros, que controlam o tempo de recuperação florestal. A partir dos nossos resultados, podemos indicar um gradiente de recuperação do carbono (do maior para o menor) da região Santarém, Paragominas, Marabá e Bragantina”, relata.
O pesquisador detalha que a taxas de acúmulo de carbono em áreas degradadas são mais baixas e lentas, diferente do que ocorre em áreas com maior cobertura vegetal.
“Por exemplo, áreas altamente degradadas como a região Bragantina, onde os solos são pobres, com paisagem fragmentada e com baixa cobertura florestal, as taxas de acúmulo de carbono são mais lentas. Em contrapartida, áreas de desmatamento recente, onde os solos apresentam poucos ciclos de uso e elevada cobertura florestal remanescente, como a região de Santarém, exibem maiores taxas de acúmulo de carbono. Desse modo, para que ocorra a recuperação florestal em tempo hábil em regiões degradadas o Governo do Pará deverá considerar o uso em potencial de estratégias ativas de restauração, por exemplo, plantio de mudas, semeadura, instalação de poleiros, dentre outros”.
Fernando, que é especialista em Ecologia Florestal com ênfase na recuperação do carbono e biodiversidade na Amazônia Oriental, relatou a importância da publicação de sua pesquisa na renomada revista estrangeira.
“Esta é uma revista de referência para os estudos de manejo florestal dos diversos ecossistemas tropicais, subtropicais e temperados. A publicação na ‘Forest Ecology and Management’ consagra o nosso trabalho no Estado do Pará”, comemorou.
Estudo do WRI estima que 2 bilhões de hectares no mundo todo tem algum grau de degradação. No Brasil, estudo do LAPIG identificou 69 milhões de hectares pastagens com degradação moderada ou severa no País.