A pesquisa Mudanças climáticas na percepção dos brasileiros, realizada pelo Ipec, a pedido do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS), em parceria com o Programa de Comunicação de Mudança Climática da Universidade de Yale (Yale Program on Climate Change Communication), mostra mais uma vez uma percepção quase consensual no País sobre o aquecimento global: em 2021, 96% dos brasileiros acreditavam que o aquecimento global existe e 77% atribuíam o problema à ação humana. A mesma pesquisa foi realizada em 2020, quando 92% dos respondentes acreditavam na existência do aquecimento global, com os mesmos 77% apontando a ação antrópica como principal causa.
Os resultados da pesquisa, divulgada nesta quarta-feira, 9/03, indicam que a importância que os brasileiros dão à temática se manteve alta: em 2020, 78% declararam que consideram o tema muito importante e em 2021 essa proporção foi de 81%. A importância dada ao assunto varia conforme perfis socioeconômicos, escolaridade, idade e orientação política, mas aparece sempre em patamares altos em geral. Em 2021, 45% dos respondentes afirmam já terem votado em candidatos com propostas ambientalistas.
Em 2021, 88% tanto dos que se declaram mais à esquerda politicamente quanto daqueles que se consideram de centro avaliaram o tema do aquecimento global como muito importante – sendo que em 2020, essas proporções estavam em patamares semelhantes (83% e 85%, respectivamente). Já entre os brasileiros que se declaram mais à direita em termos políticos, 75% consideram o tema muito importante, percentual que foi de 72% em 2020.
Nas faixas etárias até 44 anos, mais de 80% dos brasileiros avaliam como muito importante a questão do aquecimento global, e entre aqueles com 55 anos ou mais, 74% disseram o mesmo em 2021. Em relação a 2020 (65%), aumentou em 9 pontos percentuais a percepção de que o aquecimento global é um tema muito importante entre os brasileiros com 55 anos ou mais, diminuindo, assim, a diferença de percepção deles em relação à faixa etária mais jovem.
A maior parte dos brasileiros também percebe que há um consenso científico no tema. Em ambas as edições da pesquisa, mais de 70% dos brasileiros opinaram que a maior parte dos cientistas acha que o aquecimento global é um fenômeno que está em andamento (76% em 2021).
A nova edição da pesquisa foi realizada de 28 de setembro a 1 de novembro de 2021, com 2.600 entrevistados maiores de 18 anos de todas as regiões do País. A margem de erro para o total da amostra é de dois pontos percentuais, com nível de confiança de 95%.
“As mudanças climáticas a cada ano são mais sentidas e passam a fazer parte do cotidiano da população. Os impactos podem ser sentidos no aumento do custo da energia, excesso ou falta de chuvas, qualidade do ar e racionamento de água. A pesquisa nos mostra que a população em geral está preocupada com as mudanças climáticas e com as queimadas. No entanto, a agenda ambiental não vem sendo liderada pelos atores políticos, mas é tema essencial nas eleições 2022”, comenta Fabro Steibel, diretor-executivo do ITS.
Para Anthony Leiserowitz, diretor do Programa de Comunicação de Mudança Climática da Universidade de Yale, “a pesquisa mostrou novamente que os brasileiros estão muito engajados na questão das mudanças climáticas, muitas vezes mais do que as pessoas nos Estados Unidos. Questões como mudanças climáticas, meio ambiente e desmatamento não são tão politicamente polarizadas no Brasil quanto nos EUA.”
Apesar da preocupação dos brasileiros com o meio ambiente, as práticas e comportamentos da população em relação à sua proteção variam consideravelmente.
Segundo Rosi Rosendo, diretora de inteligência e insights do Ipec, “embora comportamentos como reciclagem e compartilhamento de informações ou notícias em defesa do meio ambiente sejam bastante mencionados na pesquisa, os brasileiros são pouco engajados politicamente no tema, com baixa participação em manifestações ou abaixo-assinados sobre as mudanças climáticas. Para a maior parte da população, são os governos, assim como as empresas, os principais responsáveis por resolver os problemas associados às mudanças climáticas no País”.
Comparação com EUA
Por compartilhar o mesmo referencial teórico-metodológico, a pesquisa realizada pelo ITS permite a comparação de seus resultados com aqueles coletados entre os residentes dos Estados Unidos pelo Climate Change in the American Mind (CCAM), projeto conduzido pelo Programa de Mudanças Climáticas da Universidade de Yale e pelo Centro de Comunicação sobre Mudança Climática da Universidade George Mason. Constatamos que, em comparação com os EUA, uma parcela maior de brasileiros acredita que o aquecimento global é real, causado principalmente pela atividade humana, e que a maioria dos cientistas concorda com a existência desse fenômeno.
Quando perguntado se a defesa do meio ambiente é mais importante do que o crescimento econômico, grande parte dos brasileiros (77%) considerou em 2021 que proteger o ambiente é mais importante, mesmo que isso signifique menos crescimento econômico e geração de empregos. Este percentual é mais baixo em alguns segmentos. Entre os brasileiros com 55 anos ou mais, com escolaridade até o Ensino Fundamental I ou entre aqueles posicionados politicamente mais à direita, a proporção é de 69%.
Queimadas e Amazônia
A maior fonte de emissão de gases de efeito estufa no Brasil é a degradação florestal por meio do desmatamento e das queimadas. O conhecimento da população brasileira sobre o tema é alto: em ambas as edições da pesquisa, 87% declararam que já ouviram falar bastante sobre as queimadas. Nos Estados brasileiros com um volume maior de focos de queimadas, como a região Centro-Oeste, essa proporção chega a 92%.
Quando se trata especificamente das queimadas na Amazônia, o conhecimento da população sobre esse tema é ainda maior: tanto em 2020, quanto em 2021, 98% dos brasileiros já tinham ouvido falar do assunto.
Aqueles que se declaram politicamente mais à esquerda tendem a acreditar mais que a ação humana é causadora das queimadas na Amazônia (84%), quando comparados com aqueles de centro (76%) e de direita (69%). Uma minoria de eleitores de direita, embora relativamente mais do que eleitores de esquerda ou centristas, atribui os incêndios na Amazônia a causas naturais ou a ambos os fatores (humanos e naturais).
Responsáveis
Para aqueles que consideram que as queimadas na Amazônia são provocadas pela ação humana, foi questionado quem eles acreditam que seriam os principais responsáveis por elas. Considerando somente aqueles elencados em primeiro lugar, os madeireiros foram os mais citados como responsáveis (37% em 2021), seguidos pelos agricultores (18%) e pecuaristas e criadores de animais (17%).
Quanto maior a escolaridade, maior o grau de responsabilidade atribuído aos madeireiros: entre os participantes que concluíram o ensino fundamental, 68% consideram os madeireiros os principais responsáveis pelas queimadas na Amazônia, enquanto esse número chega a 82% entre os que terminaram a faculdade.
Em 2021, os pecuaristas foram mencionados em maior proporção como responsáveis pelas queimadas na Amazônia entre os brasileiros que residem nas regiões Centro-Oeste (58%), Norte (58%) e Sul (53%), se comparados com aqueles das regiões Sudeste e Nordeste (46% em ambos os casos). Os pecuaristas também foram responsabilizados em maior proporção por aqueles com Ensino Superior (61%), da classe AB (57%), e posicionados politicamente mais à esquerda (59%).
Outros atores frequentemente citados como responsáveis pelas queimadas na Amazônia foram os garimpeiros (43%) e os políticos (38%). Entre os jovens de 18 a 24 anos (51%) e os que se consideram mais à esquerda no espectro político (45%), foi mais frequente a atribuição da responsabilidade pelas queimadas aos políticos.
Sobre o Instituto Tecnologia e Sociedade (ITS Rio)
O ITS Rio é uma associação civil sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento de pesquisas e projetos sobre o impacto social, jurídico, cultural e político das tecnologias de informação e comunicação. Com ampla atuação internacional, derivada da experiência e trabalho em sua área específica acumulada por mais de 10 anos por parte dos seus fundadores, o ITS é organizado no modelo de think tank independente. O ITS realiza pesquisas orientadas ao atendimento do interesse público e que gerem reflexões e propostas que avancem o diálogo democrático, a proteção dos direitos humanos e proporcionem impactos relevantes na formação e execução de políticas públicas e práticas privadas. Formado por professores e pesquisadores de diversas instituições como UERJ, PUC-Rio, FGV, IBMEC, ESPM, MIT Media Lab, dentre outras, o ITS conta com uma rede de parceiros nacionais e internacionais. Mais informações aqui.
Fonte: Instituto Tecnologia e Sociedade
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