Já que Itaituba está na boca do povo por causa, infelizmente, dos crimes cometidos pelo garimpo ilegal local e pelo protesto de garimpeiros previsto para esta sexta-feira, 11/03, com bloqueio da BR-163, o Pará Terra Boa faz um resgate de parte do histórico do prefeito da conhecida “cidade pepita”, Valmir Climaco (MDB), um cearense de Ubajara.
Com base no site “De Olho nos Ruralistas”, dedicado ao setor, contra Climaco pesavam várias acusações em 2020, como de invasão e desmatamento em reserva ambiental, de omissão em morte de garimpeiro, de envolvimento com tráfico de drogas, de ameaçar servidores e fiscais e de não pagar os direitos trabalhistas de seus funcionários. Dentre as carreiras trilhadas pelo político estão as de madeireiro, garimpeiro, prefeito, empreiteiro, pecuarista e empresário da comunicação.
A relação com o tráfico de drogas chama atenção. Em 2019, a Polícia Federal encontrou 580 quilos de cocaína na pista de pouso de uma de suas fazendas, em Itaituba. Além da cocaína, no local foram apreendidos dois fuzis, uma pistola, munição e 200 gramas de skank, maconha com alta concentração de THC. Um monomotor e um bimotor estavam na fazenda. À Polícia Federal, Climaco disse que a pista de pouso da fazenda estava abandonada e que parte da propriedade foi invadida, conta o site.
Em 2000, o atual prefeito foi investigado pela CPI do Narcotráfico, uma iniciativa da Assembleia paraense, conforme relatado na época pela Folha. Uma testemunha disse que o prefeito usava sua serralheria para armazenar drogas que, vindas da Colômbia, seguiam para Belém. “É um mentiroso que saiu daqui fugido”, minimizou Climaco à época.
Contra a legislação ambiental, Climaco também brilha igual pepita no sol. Ele foi denunciado em 2008 pelo Ministério Público Federal (MPF) sob a acusação de destruir 746 hectares de floresta nativa em área de preservação, na Gleba Arraia, de domínio da União. A multa dada naquele ano pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), conta o “De Olho nos Ruralistas”, foi de R$ 1 milhão.
Ele depôs em uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Congresso, a CPI da Biopirataria, no ano seguinte. Naquela ocasião, os parlamentares acusaram-no de, aliado a um funcionário do Ibama, resgatar a madeira retida após a fiscalização no pátio do órgão em Itaituba. Pela destruição dos 746 hectares de floresta, só em 2019 Climaco foi condenado pela Justiça Federal a cinco anos e nove meses de prisão, conforme mostrou “O Globo“.
Naquele ano de 2019, em audiência pública sobre a entrada de garimpo em terras indígenas com a presença de funcionários da Funai, o prefeito recomendou aos moradores “que recebam a equipe [da Funai] à bala”. O resultado das ameaças foi uma denúncia do Ministério Público Federal. Em entrevista à Folha, Climaco negou as acusações, mas pontuou: “Na minha propriedade não entra [a Funai] de jeito nenhum”.
No campo das ações trabalhistas, Climaco mostra unhas e dentes de tremer corações. A mais grave acusação relacionada a trabalhadores contra o prefeito de Itaituba foi, até aquele 2020, o processo de omissão de socorro movido pela família do garimpeiro Rodrigo Chaves Camargo. Ele morreu soterrado num buraco de 20 metros de profundidade no garimpo Bom Jesus, em 2009. Junto a ele, outro garimpeiro, apenas identificado como Gregue, também faleceu.
Testemunhas contaram na ação, informa o site, que Rodrigo “se refugiou nas galerias da mina aguardando socorro que não ocorreu”. Elas explicaram o motivo: Climaco “suspendeu as buscas iniciadas pelos próprios garimpeiros”. Durante o processo, os companheiros se diziam “perplexos” diante da ordem do prefeito de Itaituba de cessar a sucção de água do túnel e por ele não ter atendido ao pedido do Corpo de Bombeiros para usar o material da sua empresa para tentar o resgate.
No campo dos conflitos de interesse, Climaco estava entre os 51 candidatos a prefeito em 21 Estados que declararam possuir rádios e TVs, em 2020. A lista abriu uma sequência de reportagens sobre coronelismo eletrônico entre os candidatos, elaborada pelo “De Olho nos Ruralistas”, com base em declarações de bens entregues ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em 2020, Climaco figurava como sócio com sua esposa, Solange de Moreira de Aguiar, da V.C.A. Comunicações Ltda, com participação na TV Liberal Itaituba, retransmissora da Globo. O prédio onde então estava a televisão, na Travessa 13 de Maio, em Itaituba, também figurava como do prefeito — embora isso não apareça nos dados do TSE — e abrigava a Rádio O Dia, de Romulo Maiorana Júnior, o Rominho. Era o mesmo endereço que a TV Liberal informava na cidade. Rominho e os donos da TV Liberal são da mesma família, há décadas à frente de uma das principais retransmissoras da Globo no País.
No campo da decência, o prefeito de Itaituba também desaponta. A última façanha dele foi ter participado de uma festa na casa de shows Trip Flap, no sábado, 5/03, protagonizando cenas grotescas. Durante a farra, ele afirmou que teria relações sexuais com várias mulheres. “Pense num lugar que tem tanta rapariga boa”, afirmou. E continuou dizendo: “Vou comer mais de 20”, conforme foi publicado no domingo, 6/03, no site O Antagônico.
Outra cena dele ocorreu em 10/11 de 2021, quando ele, no meio do show do cantor sertanejo Gusttavo Lima, em Itaituba, tirou a camisa e quis comparar o físico dele com o do cantor. De acordo com um áudio que vazou do prefeito depois da apresentação, ele passou por uma situação complicada com a mulher dele. “A mulherada tá dando em cima. A Solange (a esposa do prefeito) já mudou de quarto. Pense num desmantelo aqui em casa, só por causa desses peitos que eu mostrei aí”, afirmou o prefeito Valmir Climaco, segundo informou no dia 15/11 do mesmo ano, o site F5 Notícia.
No campo patrimonial, Climaco finge que é pobre para o TSE. De 2008, quando tentou ser prefeito pela primeira vez, a 2016, a fortuna do prefeito foi desaparecendo das suas declarações. Em 2004, ele não declarou nenhum bem. Em 2008, apresentou um patrimônio de R$ 1.897.950,47. Em 2020, só metade: R$ 948.634,23. Algumas atividades sempre se mantiveram nas listas entregues à Justiça Eleitoral: a madeireira, a empreiteira, as fazendas e a V.C.A. Comunicações, lembra o “De Olho nos Ruralistas”.
Mas ele não anda só no campo da política. Em fevereiro deste ano, o governador Helder Barbalho (MDB) participou de um evento em Itaituba, ao lado de Climaco no palanque, em que a plateia protestou com gritos de “ladrão” e “fora, garimpeiros”.
Quase dois anos antes, o site do jornal El País registrou, em dia 12 de novembro, que o prefeito esteve reunido com o governador, juntamente a representantes de empresas portuárias, para discutir a construção de uma estrada em Santarenzinho, no distrito de Rurópolis (PA). O grande problema é que também estavam na reunião Valmir Climaco de Aguiar Filho, seu filho e sócio da irmã Ana Clara Climaco de Aguiar, na empresa Porto Tapajós, todos bastante interessados no empreendimento.
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Fontes: Sites De Olho nos Ruralistas, O Antagônico, El País e F5 Notícia
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