Por Sidney Alves
Para os povos Munduruku e Apyaká, que vivem nas imediações do município de Itaituba, o Rio Tapajós significa “Rio da Vida”. Um dos mais belos e importantes rios da Amazônia e o último ainda livre dos empreendimentos hidrelétricos, o Rio Tapajós é um leito de água azul-esverdeada que dá forma a uma sucessão de corredeiras, praias, cachoeiras, igapós e igarapés, emoldurado por florestas ainda intocadas.
Desde o Mato Grosso, o rio rasga o oeste do Pará por 800 km até desaguar no Rio Amazonas, regendo a vida de milhares de indígenas e ribeirinhos e ditando o ritmo dos moradores das cidades que banha.
Itaituba e Santarém são duas dessas cidades. O Tapajós e seu regime anual de secas e cheias são a principal fonte de vida para uma multiplicidade de comunidades, além de lar para uma biodiversidade inestimável de animais e plantas ainda protegida por um mosaico de dez unidades de conservação e 19 terras indígenas (das quais apenas quatro já foram homologadas).
Entretanto, diversos fatores agravam cada vez mais esta situação, como os investimentos gigantes em infraestrutura em suas margens, os resíduos provenientes do agronegócio e o mercúrio vindo dos garimpos, prejudicando diversas comunidades no Estado do Pará.
O Pará Terra Boa conversou na segunda-feira, 28/03, com o pesquisador em Saúde Pública e chefe da seção de Meio Ambiente do Instituto Evandro Chagas, Marcelo Lima, sobre como essa fonte de riquezas está ameaçada.
Para ele, o Rio Tapajós está dando sinais de que já está chegando no limite da sua saturação.
“Algo precisa ser feito para estimular a recuperação do Rio Tapajós porque as consequências nocivas contra a saúde dos seres humanos já estão dando sinais graves. O rio está sendo gravemente impactado pelo mercúrio dos garimpos”, alerta.
Ainda segundo Marcelo Lima, nos municípios de Itaituba e Jacareacanga são os locais com os maiores índices de poluição do Rio Tapajós.
“O mercúrio do garimpo é bastante prejudicial e está presente com bastante intensidade nas regiões destes dois municípios, onde esta atividade é realizada com muito afinco”, diz Marcelo.
Conforme ainda outras pesquisas realizadas no Instituto Evandro Chagas, a água do Rio Tapajós encontra-se mais barrenta, sobretudo, neste período ainda caracterizado pelo inverno amazônico. Contudo, passa a ficar mais turva nos municípios, nos quais ocorre a prática do garimpo.
“O mercúrio acumulado no fundo do Rio Tapajós prejudica muito o ecossistema dele. A coloração barrenta torna-se mais turva entre os municípios de Jacareacanga e Itaituba devido a forte presença dos garimpos”, acrescenta.
De acordo o pesquisador, as comunidades banhadas pelo rio são as mais impactadas com a poluição do Rio Tapajós.
“Os indígenas, principalmente os integrantes da tribo Mundurukus, os ribeirinhos e os quilombolas representam as comunidades que são mais prejudicadas por causa desta situação da poluição do Rio Tapajós”, afirma.
Garimpo
O mercúrio prejudica toda uma cadeia alimentar, pois é absorvido pelos peixes consumido pelo ser humano, que estão no topo da cadeia.
“Os efeitos do mercúrio prejudicam a saúde principalmente das mulheres grávidas, que são muito vulneráveis, consequentemente as crianças recém-nascidas. Porém, o mercúrio é extremamente nocivo para qualquer pessoa. O mercúrio é consumido pelos tucunarés, pirarucus, tambaquis, piranhas-caju, dourados, ou seja, por todos os peixes predatórios e que estão no topo da cadeia”, explica Marcelo.
Pesquisas
Atualmente, os pesquisadores do Instituto Evandro Chagas estão participando de uma parceria com a Fundação Oswaldo Cruz com o objetivo de analisar a saúde das mulheres grávidas e as crianças recém-nascidas Mundurukus, como também as populações ribeirinhas, que habitam as localidades próximas ao município de Santarém.
As primeiras ações desta pesquisa começarão no final do primeiro semestre de 2022. O resultado desta pesquisa servirá para uma compreensão maior da saúde destas populações afetadas pelo mercúrio dos garimpos.
Fonte: Com Inesc
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