Por Sidney Alves
Já que temos falado muito aqui do Rio Tapajós, você sabia que existe uma websérie dedicada a essa joia paraense chamada “Tapajós: Uma breve história da transformação de um rio”?
Criada pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), a produção audiovisual fala em três capítulos do desenvolvimento urbano desordenado no distrito de Miritituba, no município de Itaituba (PA), localizado na margem direita do Tapajós. Trata do impacto na vida dos moradores da região com a chegada das chamadas Estações de Transporte de Cargas (ETC), ou melhor, os portos de Miritituba controlados por grandes conglomerados estrangeiros. É por eles que o agronegócio brasileiro exporta a soja produzida no Centro-Oeste do País para a China, por exemplo.
O primeiro episódio conta a história de Antônio, um pescador que vive desde que nasceu no rio Tapajós, mas tem sua vida inteiramente modificada pela chegada de portos na região.
O segundo mostra que a promessa de bonança econômica se traduziu em violência urbana, atropelamentos por caminhões, tráfico de drogas, prostituição de meninas de 12 anos, empregos braçais, uma vez que os melhores postos de trabalho são para gente de fora.
Quem narra o terceiro episódio é a agricultora Maria, que lembra como o distrito funcionava antes da chegada das empresas internacionais, quando a terra dava o que comer e renda. No final, Maria lembra que existem formas de movimentar a renda da população local por meio da valorização de projetos agroecológicos.
Veja abaixo o primeiro episódio:
De acordo com Tatiana Oliveira, assessora política do Inesc e uma das roteiristas da websérie, a construção da história foi baseada em fatos reais.
“Desde 2019, realizamos trabalhos de pesquisa na região. Estas localidades sofreram bastante o impacto das grandes empresas transnacionais comercializadoras de commodities agrícolas (Archer Daniels Midland, Bunge, Cargill e a Louis Dreyfuss Company), em particular, soja e milho. Porém em 2020, com a pandemia de covid-19, tivemos que pausar as nossas atividades e, para que pudéssemos manter as relações com o território, resolvemos desenvolver um conteúdo ficcional, mas que retratasse a realidade da região”, explicou ela ao Pará Terra Boa.
A animação foi feita por uma empresa de audiovisual de Brasília chamada Comova, com artistas paraenses.
“Tivemos, no entanto, a preocupação de montar uma equipe que também incluísse profissionais do norte do País. Alguns dos atores e atrizes que narram a websérie são de Belém.”
Tatiana acrescenta que o uso da animação serviu para proteger as fontes ouvidas para a websérie.
“Logo vimos que a animação também nos respaldava do ponto de vista da segurança dos nossos interlocutores, considerando que estávamos retratando uma região conflagrada, em que o interesse do garimpo e do agronegócio se confundem com o processo de violação de direitos causados pela presença dessas grandes empresas comercializadoras. Por exemplo, em certos momentos alguns casos reais são narrados com distorções nas vozes para que não haja nenhum tipo de identificação”, afirmou.
Prêmios
Após ter sido lançada em outubro de 2021, no Youtube, a websérie já teve mais de 70 mil visualizações. Desde então, já concorreu em 22 competições, sendo premiada em sete, entre festivais nacionais e internacionais.
“A aceitação está sendo muito boa. E estamos muito felizes com esta repercussão”, disse Tatiana.
Entre as premiações estão: London Web Fest (Londres, 2021), Best Animation; Festival Internacional du Film documentaire Amazonie-Caraibes à Saint Laurent Du Maroni – FIFAC (Guiana Francesa, 2021) Melhor websérie; RioWebFest (Online, 2021) Melhor Série Animada e Melhor Série Documental; 11º Festival Internacional de Animação de Pernambuco ANIMAGE (Online, 2021), Melhor Menção Honrosa do Júri; 4º Festival de Santa Teresa – FECSTA (Online, 2021), Melhor Animação; e 15ª Baixada Animada (Online, 2021), Melhor Filme Brasileiro.
O Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), realizador da websérie, é uma organização da sociedade civil brasileira sem fins lucrativos, sediada em Brasília. Atua há 42 anos junto a organizações parceiras em espaços nacionais e internacionais de discussão de políticas públicas e direitos humanos.
“Vamos nos dedicar a esta divulgação, até mesmo para incentivar que mais pessoas conheçam a realidade da Amazônia real, urbana e que está se desenvolvendo de maneira desorganizada. A Amazônia é pluversal! Existem muitos mundos dentro dos territórios que chamamos Amazônia, e nós queremos mostrar isso para o Brasil.”, afirma Tatiana.
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