Os principais climatologistas do mundo lançaram mais um alerta, na segunda-feira, 4/04, de como a elevação das temperaturas pode prejudicar o produtor rural e comprometer safras inteiras no futuro. Claro, como a tendência é de fenômenos extremos, tanto seca quanto inundações na Amazônia, isso pode alterar o calendário das safras, aumentar gastos com insumos, alterar o ciclo das florestas com menos evapotranspiração, aumentar a conta de luz pelo acionamento mais frequente de usinas termelétricas, reduzir reservatório de hidrelétricas e por aí vai. E, então? Vai correr o risco?
O que diz o documento?
- Os atuais planos climáticos nacionais (NDCs) nos levam a um aquecimento global por volta de 2,7°C neste século, ou possivelmente até mais. Não estamos nem perto de atingir a meta de Paris, acordada em 2015: manter o aquecimento abaixo de 2°C e, idealmente, 1,5°C.
- Isso significa que a temperatura média global temporariamente [na ordem de décadas] excede a meta de temperatura antes de reduzir novamente. Isso só pode ocorrer se as concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa forem reduzidas – e isso ocorre por meio da remoção de dióxido de carbono, que não é de forma alguma uma unanimidade.
- Se atrasarmos a redução teremos que cortar mais emissões a cada ano para ficarmos alinhados com Paris até 2030.
- Os níveis de investimento também estão longe do que precisamos para manter o alinhamento com Paris. O financiamento climático atingiu cerca de US$ 579 bilhões em 2018/2017. Isso é cerca de dez vezes menos do que os US$ 6,3 trilhões necessários todos os anos até 2030 estimados para manter o alinhamento com Paris.
- A divisão entre financiamento climático público e privado permaneceu relativamente estável desde 2014 (cerca de 44% público e 56% privado em 2018). O financiamento privado, no entanto, superou o ritmo do financiamento público no setor de energia, e cada vez mais no setor de transporte, refletindo um mercado de energia renovável mais maduro e o fato de que os projetos agora são percebidos como menos arriscados.
- Hoje, os cortes médios de emissões de gases de efeito estufa anuais necessários para permanecer abaixo de 1,5°C são quatro vezes maiores do que seriam se a mitigação e a ambição coletiva começassem em 2010.
- O 1% mais rico emite mais gases de efeito estufa que o dobro dos 50% mais pobres. Os EUA são responsáveis por cerca de 20% das emissões históricas acumuladas, seguidos por China, Rússia, Brasil e Indonésia.
- Atividades que emitem muito, mas beneficiam apenas alguns, incluem voar e dirigir SUVs. Por exemplo, se as emissões de SUVs fossem contadas como uma nação, ocupariam o 7º lugar do mundo. A indústria da aviação é responsável por 2,4% das emissões globais; assim, esse 1% de usuários pode estar contribuindo com cerca de 450 milhões de toneladas de CO2 por ano – aproximadamente o mesmo que as emissões anuais da África do Sul.
- O uso de combustíveis fósseis precisa diminuir drasticamente. É preciso que as emissões globais de carvão tenham atingido o pico em 2020, e todas as usinas a carvão precisam ser fechadas no máximo até 2040, segundo uma análise do Climate Analytics com base no relatório de 2018 do IPCC. Para os países da OCDE, todo o uso de carvão precisa ser eliminado até 2031.
- A transformação do setor de agricultura, silvicultura e outros usos da terra (AFOLU, do inglês) é crucial. Hoje, o setor responde por quase um quarto das emissões globais de GEE e as emissões setoriais vêm subindo nos últimos anos. A pecuária e o cultivo de arroz são os principais vilões desta história. O setor também é um sumidouro de carbono, pois plantas e biomassa extraem CO2 da atmosfera quando crescem. Transformar o setor pode tanto reduzir as emissões – por exemplo, mudando os métodos agrícolas e pecuários – quanto remover as emissões da atmosfera, incluindo medidas como plantar mais florestas (e proteger as existentes). No entanto, apenas o reflorestamento e um melhor manejo da terra não serão suficientes. Algumas estimativas sugerem que a transformação do setor de AFOLU poderia representar no máximo 30% da redução necessária para ficar abaixo de 1,5°C. No entanto, a recente moda de que plantar árvores e investir em terra pode resolver a crise climática está criando o risco de mitigação atrasada e greenwashing (lavagem verde ou maquiagem verde).
Quem fez o documento?
O Relatório de Avaliação (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) foi lançado no dia 4 de abril de 2022. O relatório é a análise científica mais abrangente sobre como podemos reduzir as mudanças climáticas. Anteriormente foram lançados os relatórios da 5ª avaliação (AR5 – 2014) e os três relatórios especiais recentes do IPCC (SR1.5 em 2018 e SRCCL e SROCC em 2019).
O relatório foi ratificado após uma negociação plenária na qual os governos aprovaram formalmente o resumo para os formuladores de políticas, garantindo alta credibilidade nas comunidades científica e política.
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