O agrônomo Antônio Cordeiro de Santana, professor da Universidade Federal Rural da Amazônia, realiza um estudo em que mostra que o açaí manejado em várzea gera R$ 1.029,30 por hectare/ano líquido, enquanto a pecuária de corte, gado Nelore em pasto de braquiaria, no sistema de cria, gera R$ 498 por hectare/ano líquido.
“É um texto que estou trabalhando agora, fui a fundo, no campo, para mostrar a heterogeneidade. Estou fazendo em vários níveis: corte, leite, intensivo e extensivo”, anunciou ele ao Pará Terra Boa.
Embora o número indique que o cultivo do fruto é mais rentável, é preciso olhar com perspectiva, alerta o pesquisador, porque a pecuária ganha seus rendimentos na escala de produção, muito superior à do açaí.
“Venho estudando há muito tempo a agricultura e pecuária de escala e de pequeno alcance. A pecuária está disseminada, não pode ser endeusada nem satanizada, uma vez que ela serve de sustento para o pequeno produtor. Todo excedente de recurso, ele investe em gado, é o que supre a necessidade dele”, observa.
O professor acrescenta que o pequeno produtor que está em assentamento, de agricultura familiar, com 50 hectares de pasto, por exemplo, tem boa parte da renda do pasto complementada com outras atividades, como a mandioca, o açaí, pimenta, cacau ou o dendê. Isso porque, Cordeiro lembra, o açaí de várzea fornece “seis meses de bonança e depois seis meses de fase crítica”.
Um ponto que preocupa o pesquisador é o fato de hoje a cadeia de açaí enxergar apenas dois caminhos, que na maioria das vezes não são complementares: o dos pequenos extrativistas e o da produção industrial, com uso de irrigação em terra firme.
“De 2015 para cá, o IBGE transformou o açaí de várzea e de terra firme em lavouras permanentes. Isso é muito diferente para o pequeno extrativista. O que está acontecendo agora é outra situação, bem diferente. O que se quer é criar escala, produzir muito. Só que não se sabe para onde vai esse ribeirinho. Se você for lá no cultivo dele agora, tem alguém entrando lá, querendo, como se diz, crescer”, diz.
Segundo o professor, nessa euforia dos grandes contra os pequenos, o açaí orgânico, por exemplo, pode ter produção comprometida. “Quando cresce uma cultura, vem tudo que não queremos, como pragas e doenças. Isso que me preocupa muito. A ideia do fruto orgânico pode desaparecer”, afirma.
Para Cordeiro, o pequeno produtor de açaí deveria ser recompensado por manter a floresta em pé no seu quintal, enquanto o grande não tem cerimônias para derrubá-la.
“Essa área florestal que o produtor preserva deveria dar aval para que ele tenha acesso a crédito capaz de adquirir as tecnologias que ele necessita. Ele sozinho não vai para frente, não tem capacidade de gestão, mas tem um grande ativo verde em seu quintal”, lembra.
Outra ferramenta para impulsionar a cadeia de açaí é, segundo o professor, mais facilitação de crédito bancário porque “da forma como está, ele não consegue participar”. “É preciso expurgar as metodologias enviesadas que levam à inadimplência do pequeno produtor, além, como já destaquei, recompensá-lo por preservar a floresta”, acrescenta.
Ele lembra que há municípios paraenses onde 50% dos produtores são inadimplentes. “Você oferece crédito para o grande, mas não remunera o pequeno que protege o meio ambiente, não remunera a mão de obra das famílias, não remunera o solo, então ele vai se descapitalizando”.
No Pará, das lavouras permanentes de agricultura, o açaí, dendê e o cacau são as três principais culturas. Elas geram em torno de 90% do valor bruto de toda agricultura perene do Pará. “Quando vai para temporária, como a soja, mandioca e milho, a mandioca produz quase o equivalente à soja, numa área que é metade da de soja. A escala é que te permite esse ganho da soja, com máquina, assistência técnica e tecnologia”, afirma.
LEIA TAMBÉM: BASA negociou R$ 10,48 bi em contratações de fundo verde