Na primeira reunião do comitê do Fundo Amazônia desde 2018, realizada na quarta, 15, Paulo Teixeira, ministro de Desenvolvimento Agrário, falou sobre o papel da agricultura na recuperação da Amazônia.
“Hoje, nós estamos inaugurando um tempo de recuperação da Floresta Amazônica para que ela cumpra um papel para o clima no Brasil e no mundo. E é por isso que a gente está convocando os agricultores familiares a integrarem esse esforço de recuperação dessas matas que foram destruídas, no sentido do reflorestamento e da possibilidade de uma agricultura regenerativa, com forte compromisso ambiental.”
Nesse sentido, umas das possibilidades viáveis é a implantação de sistema de agrofloresta, um método em que o produtor planta e cultiva árvores e produtos agrícolas em uma mesma área.
Segundo o Tapajós de Fato, as agroflorestas promovem a redução de perdas de solo pelo processo de erosão, consequentemente, propiciam a redução do assoreamento das águas; promovem a redução da degradação do solo, além de serem alternativas viáveis de combate ao desmatamento.
Benefícios da agrofloresta
As agroflorestas permitem a introdução de espécies arbóreas com finalidade alimentícias, farmacêuticas e econômicas, o que pode melhorar a soberania alimentar das famílias envolvidas no cultivo e também dos animais domésticos, promovendo mais uma fonte de renda dentro da propriedade
Vinculadas à agropecuária, permitem inserção de áreas marginais no processo produtivo, adequação ao clima, diversificação da nutrição animal e vegetal, bem como, facilitam o controle biológico de parasitas.
Pesquisas recentes apontam a relevância de agroflorestas na adaptação de eventos climáticos. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o uso adequado, ou não, da terra, é criticamente importante tanto como fonte de emissões de gases de efeito estufa (GEE), quanto como parte da solução para os problemas decorrentes das mudanças climáticas.
Desafios
Nos últimos dias, o Pará Terra Boa recebeu um relato do cacauicultor Élido Trevisan, de Medicilândia, sobre problemas que ele tem enfrentado com a baixa produtividade da sua lavoura de cacau, toda plantada em sistema agroflorestal (SAF). Ele explica que, no início, as árvores forneciam a sombra ideal, mas hoje, com a lavoura mais antiga, as madeiras cresceram e há um excesso de sombreamento, o que resulta em baixa produtividade.
Sidevaldo Santana, extensionista rural da Emater. sugeriu que o produtor elimine as árvores que estejam muito próximas umas das outras e tenham copa muita densa, fazendo a retirada daquelas que têm uma concorrência com a lavoura de cacau. Ele também falou sobre a importância de se plantar cacau em SAF para a cacauicultura paraense.
“O sistema agroflorestal tem fundamental importância nos cultivos tropicais, principalmente nos eixos ambientais, sociais e econômicos. As plantas cacaueiras cultivadas a pleno sol têm um consumo maior de energia e mais lançamentos foliares, podendo ser ‘pratos cheios’ para pragas como chupança do cacau. Portanto, as árvores que cobrem as copas das plantas de cacau promovem um microclima agradável ao cacau, permitindo um controle biológico maior e criando um ambiente não muito atraente para as pragas”, afirmou.
Agrofloresta em Augusto Corrêa
Também publicamos aqui no Pará Terra Boa a história da Fazenda Bacuri, uma propriedade em Augusto Corrêa com um quintal florestal de dez hectares com diversos tipos de frutas como o açaí, taperebá e sapoti. A propriedade consegue aproveitar o que produz de diferentes formas.
“Utilizamos praticamente 100% do bacuri. O fruto tem uma média de no máximo 20% de polpa comestível, o restante é caroço e casca. Hoje, todo meu processo é certificado como orgânico. Então, eu consegui um mercado para os caroços, que é a indústria de cosméticos. A gente está começando a fazer um trabalho para utilização da casca, pelas suas propriedades antioxidantes. Parte dessa casca também vai pra adubação então meu resíduo é praticamente zero”, contou Hortência Osaqui, engenheira florestal e administradora da propriedade.