Problema renal, intoxicação, câncer de pele, alteração no fígado, transtornos mentais com tentativas de suicídio, malformação congênita, tremores, deficiência auditiva, desreguladores endócrinos, dor de cabeça, alterações na tireóide e testosterona masculina, danos aos hormônios reprodutivos e alteração do DNA.
Sabe o que é esse pacotão bombástico aí? Problemas de saúde provocados por agrotóxicos.
É o que mostram 12 estudos presentes na revisão sistemática “Os impactos dos agrotóxicos na saúde humana nos últimos seis anos no Brasil”, publicada em março deste ano na revista científica International Journal of Environmental Research and Public Health. O trabalho é assinado pela imunologista e pesquisadora do Instituto Butantan, Mônica Lopes Ferreira, e outros oito pesquisadores da instituição, como informam os sites o joio e o trigo e De Olho nos Ruralistas nesta segunda-feira, 25/07.
Juliana da Silva, que assina pelo menos seis dos artigos revisados, explica que o dano ao DNA provocado por agentes químicos pode causar câncer. “O câncer surge, em geral, a partir de uma mutação genética, ou seja, de uma alteração no DNA da célula, que passa a receber instruções erradas para as suas atividades.”
O aparecimento ou não da doença, porém, depende de uma série de fatores ambientais e genéticos, incluindo a capacidade do indivíduo em reparar danos no DNA. Hábitos como alimentação e consumo de álcool e drogas, também influenciam. De acordo com ela, todos esses quesitos são levados em consideração nos estudos científicos.
Participantes
Ao menos 90 agricultores do município de Limoeiro do Norte (CE) participaram deste estudo sobre câncer. Eles tinham, em média, 40 anos. Para fazer a análise, os pesquisadores dividiram os agricultores em três grupos: agricultura comercial, composto por trabalhadores que produzem em larga escala e estão expostos diariamente a uma alta concentração de agrotóxicos; agricultura familiar, que são os produtores que cultivam para subsistência e cujo excedente da produção é vendido para os mercados locais; e agricultura orgânica, que são os agricultores que não fazem uso de agrotóxicos há pelo menos dez anos – e foi usado como grupo controle.
Alguns dos estudos não avaliaram o desenvolvimento de uma doença específica ou sintomas, mas detectaram a presença de agrotóxicos na urina, no sangue e em fios de cabelo de agricultores e seus familiares, inclusive em crianças que vivem nas propriedades rurais.
Instituto Nacional do Câncer
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), há pelo menos oito ingredientes autorizados pela Anvisa cuja exposição está relacionada ao desenvolvimento de alguns tipos de câncer como linfomas, leucemias, pulmão e pâncreas.
No painel de monografias da Anvisa – ferramenta que permite acesso a informações atualizadas sobre os ingredientes ativos de agrotóxicos em uso no Brasil – é possível verificar que há 452 substâncias liberadas para uso em 154 culturas diferentes. Só na cultura do arroz, por exemplo, é permitido usar 98 ingredientes ativos; no feijão, 134; e no tomate, 123.
Embora exista uma recomendação para a medida correta de uso dos agrotóxicos e o tempo de espera para colheita após a pulverização, na prática essas orientações nem sempre são seguidas. A constatação é feita pelos próprios pesquisadores que, ao entrevistarem os produtores rurais, observam desinformação, não só com relação à aplicação dos pesticidas, mas também ao uso de equipamentos de proteção individual (EPIs).
Fontes: o joio e o trigo e De Olho nos Ruralistas