O Ministério da Agricultura (Mapa) publicou na sexta-feira (6/8) a Portaria nº 249 declarando estado de emergência fitossanitária para a praga Moniliophthora roreri (monilíase do cacaueiro) nos estados do Acre, Amazonas e Rondônia. A declaração visa reforçar as medidas de prevenção e evitar a dispersão da praga para as áreas de cultivo de cacau e cupuaçu. O estado de emergência será de um ano.
No mês passado, um foco da praga foi detectado em área residencial urbana no município de Cruzeiro do Sul, interior do Acre. O estado de emergência fitossanitária para a monilíase do cacaueiro incluiu o Amazonas e Rondônia por serem as unidades da federação que fazem fronteira com o Acre.
Durante a vigência do estado de emergência, todas as ações necessárias à erradicação da praga e que evitem sua disseminação para as áreas produtivas poderão ser adotadas com maior agilidade tanto no nível federal, quanto estaduais. “O objetivo do Mapa é o de conseguir erradicá-la na maior brevidade possível, enquanto ainda se encontra em uma área restrita do país”, disse Graciane de Castro, coordenadora-geral de Proteção de Plantas.
Como uma medida cautelar, o Mapa declarou o estado do Acre como “área sob quarentena” para prover um maior suporte para as ações de fiscalização do trânsito de vegetais, executadas pelas Agências Estaduais de Defesa Agropecuária.
Desde a confirmação da ocorrência da praga, equipes compostas por profissionais do Mapa, do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (IDAF/AC), da Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril de Rondônia (IDARON/RO), da Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (ADAF/AM), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Universidade de Brasília (UnB) estão no município executando uma varredura completa na área considerada como de maior risco de detecção de possíveis novos focos da praga.
Conforme previsto na portaria, nos próximos dias será publicado um ato complementar com o detalhamento das medidas a serem adotadas por cada Estado, conforme o nível de risco e particularidades de cada, podendo englobar ações específicas relacionadas à fiscalização do trânsito de plantas hospedeiras, ao manejo preventivo da praga em áreas produtivas, campanhas de educação fitossanitária, mapeamento e eliminação de plantas, entre outras.
O status de “área sob quarentena” para todo o Acre permanecerá vigente até que sejam concluídos os trabalhos de delimitação da área exata da ocorrência da praga e estruturadas as medidas previstas de prevenção e erradicação da praga previstas no Plano Nacional de Prevenção e Vigilância de Moniliophthora roreri.
Entenda a monilíase
A monilíase, causada pelo fungo Moniliophthora roreri, é uma das mais sérias doenças do cacaueiro, infectando os frutos em qualquer fase de desenvolvimento e, em condições favoráveis, pode causar perdas de até 100% da produção.
A partir do século passado na Colômbia, a sua dispersão vem ocorrendo com maior intensidade, passando ao Equador (1917), Venezuela (1941), Panamá (1949), Costa Rica (1978), Nicarágua (1980), Peru (1988), Honduras (1997), Guatemala (2002) e Belize (2004). Mais recentemente a doença atingiu o México (2005) e Bolívia (2012) e hoje se encontra em todos os países produtores de cacau da América Latina, exceto o Brasil. Com o aumento do trânsito de pessoas na fronteira amazônica, inclusive com a construção de rodovias ligando esta região aos países onde a doença ocorre a exemplo do Peru, o risco de introdução dessa enfermidade aumentou bastante, colocando o Brasil em alerta.
Nas regiões onde a monilíase se instalou, a sua ação tornou-se mais destrutiva do que a causada pela vassoura-de-bruxa (Moniliophthora perniciosa), doença que provocou uma catástrofe na Região Cacaueira do Sul da Bahia, eliminando mais de 250 mil empregos diretos e reduzindo a produção de cacau a 25%.
O potencial de inóculo por fruto é elevado. Um fruto doente pode produzir cerca de sete bilhões de esporos na superfície da lesão necrosada. A característica pulverulenta dos esporos do fungo, facilita a dispersão natural pelo vento, ou por meio de respingos de chuva das lesões esporulantes para outras plantas, podendo alcançar 1 km de distância.
A dispersão a grandes distâncias entre regiões e/ou países ocorre por intervenção humana principalmente pelo transporte de frutos infectados. Os esporos podem sobreviver até 9 meses em qualquer material: ferramentas, sapatos, roupas, equipamentos, veículos e contêineres, artigos regulamentados, como sacarias e embalagens de acondicionamento de produtos vegetais que porventura foram infestados com esporos provenientes de países onde a doença ocorre.
A Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC/SDI/MAPA) e a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (EBDA) elaboraram uma Cartilha sobre a Monilíase do Cacaueiro e, pela primeira vez, um Protocolo de Biossegurança para esta praga quarentenária ausente que ameaça a cacauicultura brasileira. Esse já é um desdobramento do trabalho de priorização da CEPLAC e ADAB no sentido de enfatizar as medidas necessárias à prevenção da moniliase. A definição dos critérios para estabelecimento do Protocolo de Biossegurança e da Cartilha é fruto de várias reuniões técnicas ocorridas nos últimos anos.
A Cartilha traz ilustrações que esclarece sobre a doença e as diversas ações para sua prevenção; um livro didático dedicado principalmente ao agricultor. O Protocolo de Biossegurança é um conjunto de procedimentos, ações, capazes de eliminar ou minimizar riscos de entrada da praga. Recomendamos que este seja utilizado principalmente pelo viajante, ao turismo rural, e outros setores da cadeia produtiva do cacau.
É imprescindível a todos, o conhecimento e a compreensão do perigo que esta praga representa, e as ações para sua prevenção contribuindo para as boas práticas de biossegurança
Fonte: Mapa e Manfred Willy Müller – Coordenador-Geral de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da CEPLAC