De acordo com o biólogo Antônio Carlos Zem, doutor em agronomia pela Esalq/USP e CEO da Biotrop, “o Brasil lidera a revolução biológica no planeta”. A declaração do pesquisador, dada em maio durante uma live, ilustra o momento em que o país vive na produção de insumos biológicos para a agricultura e pastagem. Enquanto a agricultura biológica cresce no mundo 12%, no Brasil, esse índice gira entre 35 a 40%, diz.
“Somos o país que mais cresce no uso de tecnologia biológica, sejam eles macros, como os parasitas predadores, as famosas vespinhas, ou os microorganismos baseados em fungos, bactérias e vírus. O importante é que a indústria entre e comece a produzir com qualidade, dê uma assistência técnica ao campo, leve esse produto ao pequeno e médio produtores, já que o grande está tendo acesso, e, principalmente, que os produtos venham com uma dose muito forte de custo-benefício”, afirma.
Segundo Zem, o mercado de defensivos agrícolas passa de US$ 12 bilhões no mundo por ano, enquanto, no Brasil, a estimativa é de que o setor movimente cerca de US$ 500 mi a US$ 600 milhões. “Crescendo a 35% por ano, dá para ver que, num cenário de 8 anos, os biológicos serão componentes extremamente importantes e de forte participação na agricultura brasileira”, acrescenta.
O uso de defensivos biológicos no campo está inserido no que hoje é chamado de agricultura regenerativa, que consiste, entre outros fatores, em:
- Rotação de culturas ou cultivo sucessivo de mais de uma planta na mesma terra;
- Cobertura do cultivo ou plantio o ano todo para que a terra não fique em pousio durante as entressafras, o que ajuda a evitar a erosão do solo;
- Cultivo com menos aração de campos;
- Diminuição do uso de fertilizantes e pesticidas;
- Bem-estar animal e práticas justas de trabalho para os trabalhadores.
Os principais microorganismos dos defensivos biológicos são as bactérias, fungos e mycorrhiza, que apresentam modos de ação mais diversificados que os insumos químicos. Eles atuam em competição com microorganismos que podem provocar danos e doenças às plantas, como os neumatóides. Ajudam na aeração do solo, reduzem a carga química dos plantios e aumentam gradativamente a produtividade das culturas. Além disso, têm custo mais acessível.
Os produtos biológicos apresentam resultados mais rápidos quando associados a outras práticas, como rotação de cultura, plantio direto ou adição de matéria orgânica ao solo. Não são incompatíveis com os químicos, mas se complementam.
Além dos microorganismos, os insumos biológicos são desenvolvidos a partir de enzimas, extratos (de plantas ou de microrganismos), macrorganismos (invertebrados), metabólitos secundários e feromônios, destinados ao controle biológico. Esses insumos são também os ativos voltados à nutrição, os promotores de crescimento de plantas, os mitigadores de estresses bióticos e abióticos e os substitutivos de antibióticos, conforme definição da Embrapa.
“O produto chega na mão do produtor com vida de prateleira. Não precisa ser refrigerado, não requer condições muito extraordinárias para aplicar. Já no primeiro uso, na primeira safra, você já vê claramente os primeiros benefícios, como ocorre com as bactérias fixadoras de nitrogênio”, exemplifica.
Zem explica que, na proteção do plantio contra os neumatóides, por exemplo, as bactérias e fungos promovem o crescimento radicular da planta, “consequentemente ela tem uma melhor ancoragem, busca água, resiste mais ao estresse hídrico e absorve mais os nutrientes”. Hoje, no combate à praga, “os biológicos dominam os químicos”.
Quando abrimos um solo, seja no Cerrado ou na Caatinga, a vegetação nativa é removida, o solo recebe doses altas de calcário e herbicidas, a adubação é nitrogenada, “tudo isso diminui o equilíbrio natural que existia entre as plantas e os microorganismos”.
Biológicos x químicos
Não se trata de uma guerra entre os defensivos químicos e biológicos. A demanda crescente por biológicos se deve ao mercado consumidor de alimentos hoje preocupado com a origem dos produtos. “O que o mercado vem pedindo é a redução do grupo de químicos e redução da resistência dos patógenos. É muito caro desenvolver uma molécula de químicos, haja visto que há muito tempo não se lança uma. O químico, no entanto, é essencial para a agricultura”, acrescenta Ederson Santos, gerente de portfolio da Biotrop.
A mistura entre as duas fontes é importante, por exemplo, em grandes extensões, especialmente quando faltam recursos financeiros para cobrir milhares de hectares com defensivos químicos. “As formulações biológicas hoje permitem mais misturas (com os químicos), são mais compatíveis, dando respostas de alta eficiência”, diz.