Alternativa para recuperação de áreas desmatadas e em processo de degradação na Amazônia, o sistema Safruti é o sistema agrícola de produção de frutíferas, cultivadas em consórcio. No início de formação da área, são cultivadas plantas de ciclo curto para produção de grãos e de biomassa para cobertura do solo, tais como, milho e feijão caupi. É um tipo de Sistema Agroflorestal (SAF).
Nos sistemas agrofrutíferos, as fruteiras desempenham várias funções, sendo a mais importante a de produção de frutos; no entanto, podem produzir madeira e outros produtos, sendo que a biomassa produzida, formada por folhas e restos de podas, é o agente promotor da recuperação, com o enriquecimento do solo em matéria orgânica e nutrientes.
Quais são as vantagens?
Outro grupo de funções inclui os “serviços” produzidos pelas árvores frutíferas, como:
- proporcionar sombra para as fruteiras que são sensíveis à luz na fase juvenil;
- proteger contra a erosão hídrica e eólica dos solos;
- fixar nitrogênio da atmosfera, no caso de fruteiras da família das leguminosas, que realizam a fixação biológica de nitrogênio;
- elevar a umidade relativa do ar pela transpiração e reter água no solo, criando um microclima diferenciado no ambiente;
- fruteiras de maior porte e com sistema radicular profundo absorvem nutrientes em camadas profundas e depositam na superfície, pela queda de folhas no solo;
- algumas fruteiras, como a castanheira do Brasil, apresentam associação comprovada com microrganismos que favorecem o aumento da biomassa radicular das outras plantas, tais como microrganismos que liberam substâncias promotoras de crescimento, bactérias fixadoras de nitrogênio
Manejo
Conforme informa o pesquisador Rafael Moyses Alves, da Embrapa Amazônia Oriental, o manejo deve ser feito com rigor.
“Não pode plantar e deixar a natureza se desenvolver naturalmente. Tem que tirar mato, adubar, irrigar e tratar cada cultura como se fosse monocultivo. Todos o tratos culturais que são dados isoladamente a esses cultivos, tem que fazer o mesmo no Safruti”, afirma ele ao site da Embrapa.
Nos Safrutis, a copa dos diferentes componentes vegetais encontra-se em distintos níveis verticais, e a radiação solar é o recurso mais limitante e, assim, os Safrutis devem ser planejados para que a luz possa ser aproveitada de maneira mais eficiente possível.
As fruteiras de grande porte são em geral heliófilas, ou seja, se desenvolvem plenamente em condições de intensa luminosidade solar, e as fruteiras de médio porte e arbustivas deverão demonstrar maior plasticidade fisiológica (capacidade dos organismos de alterar a sua fisiologia ou morfologia de acordo com as condições do ambiente) em resposta às mudanças de intensidade luminosa.
Além disso, as fruteiras dos extratos mediano e superior serão podadas periodicamente, o que permitirá a insolação dos extratos inferiores, favorecendo que a radiação solar permeie toda a estrutura dos Safrutis.
Entre os cuidados importantes a serem observados no plantio de Safrutis, tem-se:
- cercas de contenção contra a entrada de animais silvestres, que podem comer o milho e outras culturas anuais que sejam cultivadas;
- manutenção da cobertura do solo da área, visto que o solo coberto conserva melhor as condições de umidade para o crescimento das plantas, sendo interessante o preparo do solo e o cultivo de plantas de cobertura para formação de palhada, no ano anterior à implantação do Safruti;
- manejo da fertilização do solo deve ser realizado conforme a recomendação de adubação para as culturas da banana e do mamoeiro, pois são culturas bastante exigentes em nutrientes e os teores nos solos dos macronutrientes – fósforo, potássio, cálcio e magnésio, e dos micronutrientes – boro e zinco, são, em geral, de baixos a muito baixo;
- necessidade de uso de produtos agroecológicos para controle de pragas nas culturas anuais.
Cupuaçu
Para quem utiliza o cupuaçu no Safruti, uma sugestão é o uso da cultivar chamada BRS Carimbó, muito efetiva contra a doença vassoura-de-bruxa.
De acordo com o pesquisador da Embrapa, é preciso atenção ao espaçamento das árvores, quando se consorcia o cupuaçu com a banana ou o teperebá.
“O importante é o espaçamento a ser adotado. Não se pode colocar as árvores muito próximas. A banana tem que ser de 5 m por 5 m, como o cupuaçu. O taperebá, 20 m por 20 m”, diz Rafael Moyses Alves.
Fonte: SAFRUTI: UM NOVO SAF PARA A AGRICULTURA FAMILIAR, pesquisa de Teresinha Costa Silveira de Albuquerque, Cássia Ângela Pedrozo e Alcides Galvão dos Santos, Embrapa Roraima.