Por Fabrício Queiroz
Chocolate não é tudo igual e quem já provou chocolate feito com amêndoas de cacau paraenses sabe bem disso. Maior produtor de cacau do País, o Pará se destaca no mercado não só pela quantidade de frutos que abastecem grandes indústrias, mas também pela qualidade da produção, que cada vez mais chama atenção do mercado nacional e internacional.
As principais razões para isso são o fato de que o cacaueiro é uma espécie típica da Amazônia. Isso significa que por aqui é possível encontrar árvores seculares e com diversas variedades de frutos com características especiais e que podem gerar produtos únicos. Outro fator importante para a qualidade do fruto é o modelo de produção: os principais polos produtores do estado adotam o Sistema Agroflorestal (SAF).
Nas agroflorestas, o cacaueiro divide uma mesma área com árvores de maior porte que lhe dão sombra e ajudam o seu desenvolvimento. Além disso, ali também são cultivadas outras espécies frutíferas que atraem insetos e outros animais, tornando o ambiente e o solo mais biodiverso e rico em nutrientes. Isso faz com que os produtos tenham uma característica mais selvagem e incorporem no sabor as notas de todos esses processos.
“A pessoa que tem uma degustação mais apurada para um cacau fino quer saber de onde vem o cacau, como é o pé, saber como faz aquele cacau, ela dá mais valor para o cacau que está comprando”, afirma Renato Preuss, proprietário da Kakao Blumenn.
O agricultor familiar comanda, junto com a esposa, Verônica Preuss, o sítio Santa Catarina, no município de Brasil Novo, na região da Transamazônica.
Atualmente, 70% da produção total de cerca de 6 toneladas por ano da família Preuss é vendida para chocolatiers que adotam o processo bean-to-bar (do “grão para a barra”), em que os fabricantes compram amêndoas selecionadas por sua origem para fabricar chocolates artesanais.
Os outros 30% são usados na fabricação dos chocolates da marca própria, a Kakao Blumenn. São 18 produtos, entre barras, bombons, gotas e nibs que combinam o cacau nativo com castanha, cupuaçu, cumaru, jambu e pimenta. Tudo com certificação sustentável.

“A procura pela amêndoa da nossa região é muito grande porque o cacau da Transamazônica já é reconhecido como de muita qualidade. Temos clientes do bean-to-bar, para quem vendemos o excedente da nossa produção, no Brasil inteiro”, pontua Verônica Preuss.
Exportação para o Japão
Já em Tomé-Açu, no nordeste paraense, quem ganha destaque são os produtores cooperados da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA) que conseguiram espaço no mercado internacional justamente por oferecer um cacau com selo de indicação geográfica que reconhece as qualidades especiais da amêndoa da região.
No chamado Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (Safta), os agricultores têm cultivos de cacau combinados com pimenta-do-reino, açaí, dendê e diferentes frutas. A quantidade de cacau é menor do que se fosse uma monocultura, porém os produtores ganham pela venda dos outros cultivos e pelo valor agregado que uma cultura sustentável tem, o que vem sendo cada vez mais valorizado principalmente por consumidores mais exigentes com critérios socioambientais.
“Nós exportamos há mais de 10 anos a amêndoa do nosso sistema agroflorestal. Eles (compradores) não querem um produto da monocultura, eles querem um produto mais harmônico com a natureza. O nosso produto tem isso por causa do selo do Safta”, comenta Alberto Oppata, presidente da CAMTA.

O acordo comercial da cooperativa é com o Japão, que compra, em média, 500 toneladas de cacau da região a cada ano. Formada por descendentes japoneses, a CAMTA buscou aliar os conhecimentos acumulados sobre a integração da agricultura com a floresta com as necessidades e exigências do mercado nipônico.
“A nossa cooperativa já atua dentro dos padrões internacionais. Por exemplo, já restringimos o uso de herbicidas proibidos por lei e a nossa amêndoa é feita pensando na produção de chocolates finos. Isso fez com que o produtor nacional voltasse os olhos para o nosso produto, assim como os japoneses. A nossa fermentação segue todas as diretrizes e regulações do mercado japonês para que ele possa ser usado na produção de chocolate fino lá”, ressalta Oppata.
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