Por Fabrício Queiroz
Matéria-prima para a produção do chocolate, o cacau é um fruto típico da região amazônica que conquistou o mundo. Mas essa produção tem sido rondada pela ameaça da monilíase, que foi detectada em localidades dos estados do Acre e do Amazonas, o que aumentou o sinal alerta no estado do Pará, que lidera a produção nacional de cacau com mais de 150 mil toneladas.
A monilíase é uma doença causada por um fungo que ataca os frutos de plantas do gênero Theobroma, incluindo o cacaueiro e o cupuaçuzeiro. Em sua fase infectante, a praga é caracterizada pela presença de uma espécie de pó branco na parte superior dos frutos. Esse sintoma faz com que eles se soltem mais facilmente das árvores e contribui para a disseminação do fungo causador pelo vento ou por materiais como roupas, sementes e embalagens.
Para evitar que a infestação atinja as lavouras paraenses, uma série de ações vem sendo reforçadas desde o registro dos primeiros casos nos anos de 2021 e 2022. Aliado a isso, o fato de que os cacauicultores paraenses mantém cultivos baseados em sistemas agroflorestais (SAFs) ou agroflorestas, como ocorre em Tomé-Açu e na região da Transamazônica, é um diferencial que também ajuda a manter a sanidade da lavoura.
“O cultivo em SAFs são referências porque nesse modelo de sistema de cultivo se promove um equilíbrio do meio ambiente, com diminuição da ocorrência de pragas e doenças dentro do plantio. É um modelo que diminui a incidência de pragas e contribui com o clima”, explica a engenheira agrônoma e diretora de defesa e inspeção vegetal da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará), Lucionila Pimentel.
Um dos aspectos positivos dos sistemas agroflorestais é associação de culturas agrícolas variadas com a vegetação nativa, o que ajuda a fornecer sombra e a reter água e nutrientes no solo, por exemplo. Já as práticas agroecológicas podem gerar outros benefícios, como a eliminação do uso de agrotóxicos e outros agentes químicos bastante utilizados em propriedades onde predomina a monocultura.
“Em sistemas de cultivo a pleno sol, há uma rotina de aplicação de produtos agrotóxicos, então a utilização desses produtos é muito maior, o que vai na contramão da sustentabilidade”, diz a engenheira agrônoma ressaltando que o Pará não tem nenhum registro de monilíase.
Combate à monilíase no Pará
O êxito do estado na contenção da praga também está associado às diversas ações de caráter preventivo desenvolvidas nas áreas de fiscalização, biossegurança e educação fitossanitária. Somente em 2023 foram mais mil propriedades vistoriadas em todo o estado, bem como inspeções portos e rodovias, principalmente nas áreas de fronteira. Além disso, palestras, rodadas de conversa e capacitações são realizadas junto a agricultores e cooperativas de todas as regiões produtoras de cacau.
Uma das medidas divulgadas nesses encontros é relacionada à importância da poda adequada para que as árvores fiquem com altura entre 2,20 e 2,50m. De acordo com Lucionila Pimentel, o rebaixamento contribui para o arejamento dos vegetais e permite que os produtores possam detectar com mais rapidez os sinais de surgimento de esporos e outros sintomas da praga.
“Somos o maior produtor de cacau do Brasil. Temos uma cadeia produtiva que envolve cerca de 32 mil agricultores, em sua maioria familiares e que trabalham buscando um equilíbrio ambiental. A entrada de uma praga quarentenária causaria impacto econômicos, sociais e ambientais muito grande, por isso, estamos realizando essas ações continuadamente”, frisa a diretora da Adepará.