Por Fabrício Queiroz
Um total de 35 municípios paraenses e mais dois distritos da cidade de Altamira encerram no próximo domingo, 15, o período de vazio sanitário. Em tese, eles têm autorização para começar a semeadura da soja a partir de segunda-feira,16 de setembro, de acordo com portaria do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). Apesar do aval, o início dos plantios ainda é incerto devido à falta de chuva na região.
A chuva tem um papel importante, pois é ela que garante a umidade do solo e facilita a absorção de nutrientes pelas raízes. Ao contrário disso, muitos municípios do Pará têm enfrentado altas temperaturas, estiagem severa e queda na umidade, que são fatores complicadores para o desenvolvimento das culturas agrícolas. Ainda assim, há quem defenda manter o calendário.
“Vamos manter a janela de plantio conforme as portarias. Caso a chuva atrase mais, vamos acompanhar o calendário das chuvas”, diz o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado do Pará (Aprosoja), Vanderlei Ataídes, ressaltando que os cultivos no estado costumam ocorrer entre outubro e dezembro.
As regiões do Pará
A portaria do MAPA leva em conta as peculiaridades climáticas e as sugestões dos estados para organização da safra 2024/2025. No caso do Pará, o estado é dividido em três regiões, cada uma com um período distinto para o vazio sanitário e um calendário de semeadura. Nas regiões 2 e 3, que compreende 107 municípios ao todo, o vazio sanitário da soja só se encerra em 31 de outubro e 15 de novembro, respectivamente.
De acordo com Thais Leão, engenheira agrônoma e fiscal estadual agropecuária da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará), a imprevisibilidade quanto às condições climáticas não permite afirmar se o plantio vai atrasar na região 1 ou nas demais, mas a expectativa é grande, já que a queda de chuvas com certa regularidade é essencial para o começo da semeadura.
“A gente torce para que a chuva entre no período que aquela região está acostumada a ter, para que se cumpra todos os períodos dentro da normalidade da legislação”, ressalta a fiscal agropecuária.
Pela mesma razão, a Adepará diz que ainda não é possível saber se será necessário pedir a prorrogação do período de semeadura no Pará, como foi realizado na safra 2023-2024 em razão da falta de chuvas no ano passado. Tudo dependerá das demandas que os próprios produtores vão apresentar aos órgãos públicos nos próximos meses a partir dos impactos e desafios observados no campo.
“A questão do clima é muito preocupante para o planejamento safra 2024/2025 em todo estado. Porém, no momento, ainda é cedo para postergar a janela de semeadura em parte do estado”, afirma Vanderlei Ataídes.
A importância do vazio sanitário
O vazio sanitário é um período contínuo de, no mínimo, 90 dias em que não é permitido plantar e nem manter vivas plantas de soja. A medida visa combater a doença conhecida como ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, que pode trazer grandes prejuízos para a produção. A ferrugem asiática é uma das principais e mais agressivas doenças da soja e pode comprometer de 50% a 90% da produção.
“O fungo precisa de apenas uma planta de soja para poder se manter vivo. Então, o vazio é justamente para quebrar esse ciclo do fungo para que ele não se manifeste na safra seguinte. Se ele ficar em uma planta viva, ele vai ficar guardadinho ali e na próxima safra ele ataca o plantio novo e ataca desde o início com efeitos mais severos e graves”, explica Thais.
A Adepará é responsável por promover ações de educação sanitária junto aos agricultores antes do início do vazio sanitário, bem como por fiscalizar o cumprimento da medida nas propriedades rurais durante a sua vigência. Nesse período, caso um produtor seja flagrado com plantas de soja, ele será autuado para realizar a eliminação e também pode ser multado.