A corrida para conter os impactos das mudanças climáticas tem incentivado a busca por estratégias de conservação nos diferentes setores da economia. A agropecuária de grande porte, que é uma das atividades que mais impulsionou o desmatamento da Amazônia nas últimas décadas, agora investe em projetos para identificar formas de remunerar a produção sustentável. As informações são do Globo Rural.
A proposta foi elaborada pelas empresas Citrossuco, ECCON Soluções Ambientais e Reservas Votorantim tendo como foco as necessidades da cadeia produtiva dos sucos de laranja, porém o grupo afirma que o método elaborado pode ser aplicado também em outros culturas perenes, a exemplo do cacau, da seringueira, café e outras frutas, atendendo assim às diferentes regiões agrícolas do Brasil e do mundo.
Chamada de PSA Carbon Agro Perene, a metodologia apresenta linhas-mestras para remunerar produtores rurais que combinem práticas sustentáveis no campo e preservação de floresta nativa. As métricas usadas avaliam aspectos como conservação florestal, manutenção e melhoria de qualidade de água, boas práticas agrícolas, boas práticas de manejo sustentável, entre outras.
Esses dados servem de base para calcular quantas toneladas de carbono (CO2) foram removidos da atmosfera e estabelecer melhores pagamentos para os agricultores tendo como referência todos os benefícios que eles geram.
De acordo com o CEO da ECCON Soluções Ambientais, Yuri Rugai Marinho, a proposta representa um avanço para valoração dos serviços ambientais pois os modelos usados atualmente foram desenvolvidos no exterior e não levam em conta nem a riqueza da biodiversidade nem as complexidades dos biomas brasileiros.
“Contribuímos justamente para criar uma metodologia que premia o agro responsável, acima do básico, e contribui com aperfeiçoamentos dos projetos de carbono, ao criar uma metodologia pautada na realidade brasileira”, afirma Yuri Marinho.
Pequenos produtores
Outra vantagem é que PSA Carbon Agro Perene poderá ser adotado também por pequenos agricultores interessados em desenvolver projetos de créditos de carbono. Até então, os modelos tradicionais atendem apenas a projetos do tipo REDD+, de prevenção ao desmatamento e formatados para propriedades com área maior que 10 mil hectares.
“A ideia de trazer o uso de tecnologia para a metodologia permite que pequenos produtores possam gerar créditos respeitáveis e íntegros e gerem valor pela conservação, algo que não tinham”, comenta Marcelo Stabile, gerente de carbono da ECCON.
Além disso, a expectativa é que a proposta seja adotada tanto em projetos do mercado voluntário de carbono quanto no mercado regulado, cujo projeto de lei ainda tramita no Congresso Nacional mas já prevê prioridade para a aplicação de metodologias nacionais,
“Anos atrás, a preocupação climática se limitava ao impacto na produção. Agora, além da segurança alimentar, a preocupação também é com a sobrevivência do cultivo e da empresa”, ressalta Marcelo Stabile sobre a contribuição da agropecuária para a busca de soluções para a agenda climática global.