Alimento produzido a partir de uma fruta típica e que remete ao conhecimento tradicional das populações originárias da Amazônia, o chocolate se tornou uma paixão mundial e conquista um mercado cada vez mais exigente e avido por novidades e sabores diferenciados. Nesse segmento, o Pará se destaca como uma referência por investir em uma cadeia produtiva que valoriza o cacau nativo e o trabalho da agricultura familiar.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), o brasileiro consome, em média, 3,9 kg de chocolate por ano, porém a tendência é de crescimento devido ao perfil dos consumidores que buscam produtos que contribuam para a saúde, o bem-estar e o desenvolvimento sustentável. Como líder da produção nacional, com mais de 149 mil toneladas de amêndoas de cacau produzidas em 2023, o Pará tem tudo para ser um dos estados mais beneficiados por essa expansão.
Em entrevista ao G1 Pará, a doutora em Engenharia de Alimentos, Luciana Centeno avalia que além da enorme safra, o estado se diferencia por produzir cacau em árvores nativas e seculares em algumas regiões, além de que os saberes e práticas de manejo de tradicionais de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais são determinantes para a produção de amêndoas que dão origem a chocolates finos com sabores únicos.
“Essas singularidades tornam o Pará o novo terroir de chocolates do país. O mercado de especialidades alimentícias valoriza muito os aspectos de raridade, exclusividade, pureza, e qualidade de manejo e beneficiamento de matérias-primas, sobretudo quando capazes de promover desenvolvimento regional sustentável”, disse Luciana Centeno.
As marcas disso podem ser notadas nas diferentes premiações que já reconheceram as qualidades do cacau, das amêndoas e dos chocolates de diversos produtores paraenses, a exemplo dos agricultores Míriam Federicci Vieira e Robson Brogni, que ganharam as medalhas de ouro e prata, respectivamente no prêmio Cocoa of Excellence Awards de 2023.
Produtora do município de Moju, Chiara da Cruz vislumbra um futuro promissor nesse segmento com o microempreendimento Da Cruz Chocolates, que mantém cultivos baseados em agricultura sustentável e em sistema agroflorestal, com preservação da vegetação nativa e livre de agrotóxicos.
“Nossa ideia sempre foi produzir um produto saudável, sem glúten, sem lactose, somente cacau e açúcar demerara como ingredientes”, conta.
Chiara é uma das beneficiadas de todo um ecossistema de apoio à cadeia produtiva do cacau e do chocolate desenvolvido no Pará. As ações incluem parcerias com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) nas Escolas-Indústrias de Chocolate, que promovem a capacitação dos empreendedores e os eventos e feiras nacionais e internacionais que servem de vitrine para produtores locais.
“Repassamos os recursos do Funcacau [Fundo de Desenvolvimento da Cacauicultura] para instituições que fazem apoio técnico e fornecem sementes híbridas aos produtores de cacau do estado. Apoiamos diretamente também os produtores quando os levamos todos os anos para os principais eventos de cacau do Brasil ou fora, como, por exemplo, Portugal, Bélgica e França, por meio do projeto chamado Internacionalização das Amêndoas”, ressaltou Ivaldo Santana, coordenador do programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Cacauicultura no Pará (Procacau) em entrevista à Agência Pará.