Por Gisele Coutinho
Enquanto a colheita da castanha começa só no fim do ano, quem hoje reina na floresta até novembro é o cumaru, a chamada baunilha brasileira. Comunidades integradas por indígenas, quilombolas e assentados que vivem da coleta e venda de suas sementes na região da Calha Norte do Rio Amazonas, no Pará, têm previsões otimistas para a próxima safra. O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) prevê comercialização de mais de 10 toneladas de sementes secas e selecionadas, gerando uma movimentação de mais de R$ 750 mil.
O Pará Terra Boa conversou na segunda-feira, 01/08, com Lorenaldo Almeida, o Bito, um dos responsáveis pela Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte (Coopaflora) e morador do território quilombola Erepecuru, para saber mais sobre essa semente que movimenta a economia local.
A cooperativa desenvolve com o Imaflora o programa Florestas de Valor, que diversifica as produções rurais, ensina o manejo sem fogo e valoriza a rastreabilidade de produtos da floresta. O cumaru coletado por ali, nos municípios de Alenquer, que é um dos principais polos do fruto no País, com 36% da produção brasileira entre 2016 e 2018, e Oriximiná, recebe o selo Origem do Brasil.
Quem ganha mais
Lorenaldo conta que a semente coletada pela comunidade é vendida à Coopaflora por um preço justo. Ganha mais quem se dedica a entregar cumaru já beneficiado.
“A saca de 25 kg da semente ainda verde, úmida, vale R$ 25, enquanto pagamos R$ 50 na saca com sementes já secas. Sai da cooperativa para empresas por R$ 70, a saca.”
Em cada saca de cumaru, vai junto um lacre numerado com informações sobre o território de origem e quem é o entreposto que está comprando da cooperativa.
O maior desafio do setor é a competição por preço. Pela cooperativa, ele é mais alto pela organização de um trabalho mais justo e emissão de nota fiscal.
“Tem empresa chegando e querendo dar o mesmo preço de cooperativa. Existe muito na região, mas depois de um tempo essas empresas não seguram o preço justo ao produtor”, diz.
Apoio para seguir crescendo
O trabalho é feito em parceria com o Imaflora desde 2014, sendo que nos últimos anos, com a cooperativa, todos saíram ganhando após darem as mãos.
“A gente já trabalhava nessa cadeia produtiva da comercialização. Existia um preço mais baixo. Começamos a vender o cumaru beneficiado por R$ 25 o quilo. Depois, fundamos a cooperativa, em 2019, que foi uma conquista nossa, para garantir rastreabilidade do produto e preço justo. Estamos no caminho para agradar quem está na floresta”, orgulha-se Lorenaldo.
A safra do cumaru está só começando, e com alta demanda.
“Analisamos o território e fazemos o mapeamento. Já sabemos o resultado que vai dar. Ano passado foi uma safra boa, e esse ano será a mesma coisa, uma safra muito boa. A gente tem uma demanda grande de cumaru. Começamos a comprar em abril e vamos até novembro para dezembro, quando começa a ter castanha no chão. Isso anima a população, que tem sempre trabalho.”